O que está em jogo nas eleições para governador no país
O discurso da mudança deu a tônica a estas eleições, mas em dois terços dos estados brasileiros devem sair vitoriosos políticos que estão ou já estiveram no governo
Depois dos protestos de 2013, mudança e renovação tornaram-se palavras de ordem nas eleições deste ano. Às vésperas da votação, contudo, as pesquisas feitas nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal apontam para cenários mais bem descritos pela palavra continuidade. Na reta final, dois terços das disputas têm como favoritos governadores em busca da reeleição, candidatos que representam a atual gestão ou políticos de oposição que já governaram o estado no passado. Só um terço dos estados tem na dianteira um político que nunca ocupou o Executivo ou que não conta com o apoio do atual governador. “As pessoas querem mudança, mas sem perder benefícios que associam aos governantes. É o que causa essa situação”, diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).
Segundo os institutos de pesquisa, onze candidatos que hoje estão no poder detêm a dianteira na corrida. Quatro deles devem vencer já no domingo: Geraldo Alckmin (SP), Raimundo Colombo (SC), Beto Richa (PR) e Paulo Câmara (PE). Outros dois – Marconi Perillo (GO) e Tião Viana (AC) – também estão perto de alcançar a reeleição na rodada inicial. A eles, somam-se sete nomes que, na oposição neste ano, pertencem à velha guarda: seis foram governadores no passado, e Renan Filho (PMDB), em Alagoas, é fruto da aliança de velhas raposas – do pai, o senador Renan Calheiros, com Fernando Collor de Melo. O pelotão dos veteranos poderia ser ainda maior se a Lei da Ficha Limpa não tivesse barrado José Riva (MT), José Roberto Arruda (DF) e Neudo Campos (RR) – os dois últimos lideravam as pesquisas até deixarem o páreo.
Se o que as sondagens indicam se confirmar nas urnas, o PMDB, partido que simboliza a chamada “velha política”, poderá sair das eleições como campeão em número de estados conquistados: oito. O principal é o Rio de Janeiro, onde o governador Luiz Fernando Pezão lidera. PSDB e PT têm boas chances de eleger seis e cinco governadores, respectivamente. As disputas em São Paulo e Minas Gerais têm reflexos no embate nacional entre os partidos. Desalojar o PSDB do governo paulista era um anseio petista que será frustrado: a quase certa reeleição de Alckmin no primeiro turno deve fazer com que os tucanos ultrapassem a marca de duas décadas no comando da mais rica e populosa unidade da federação. O troco pode vir em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral, onde o petista Fernando Pimentel abre larga dianteira sobre Pimenta da Veiga, correligionário do ex-governador e presidenciável tucano Aécio Neves.
Destaque das eleições de 2010, quando faturou seis estados e exibiu musculatura no Nordeste, o PSB deve encolher e ostentar como vitrine expressiva Pernambuco, onde o favorito é o novato Paulo Câmara, afilhado político do ex-governador Eduardo Campos. A vizinha Bahia, por sua vez, pode ser a tábua de salvação do DEM – e outro exemplo de eleição marcada por um retorno. O democrata Paulo Souto, que venceu eleições em 1994 e 2002, tem boas chances de conquistar o terceiro mandato, batendo o petista Rui Costa, o homem de confiança do atual governador, Jaques Wagner. “Nas eleições regionais, os grupos políticos têm muito peso”, diz o cientista político Luiz Felipe D’Avilla, presidente do Centro de Liderança Pública (CLP). “Os nomes ainda têm mais poder que as instituições.”
Santa Catarina | |||
Raimundo Colombo (PSD) |
X |
Paulo Bauer (PSDB) Continua após a publicidade
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Cenário: Colombo deve ser reeleito no primeiro turno
O que está em jogo: pode ser o único estado administrado pelo PSD |
Rio Grande do Sul
tarso Genro (PT) X
Ana Amélia Lemos (PP) Cenário: Tarso Genro, o atual governador, recuperou terreno na reta final da campanha e ultrapassou Ana Amélia
O que está em jogo: com histórico de não reeleger seus governadores, o eleitorado gaúcho vive uma acirrada eleição Paraná
Beto Richa (PSDB) X
Roberto Requião (PMDB) Cenário: Richa é favorito à reeleição, beneficiado pelo fracasso da candidatura da ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT) e pelo índice de rejeição de Requião
O que está em jogo: ao lado de São Paulo, o Paraná é hoje um reduto do PSDB no país – território onde o PT não vence
Espirito Santo | |||
Paulo Hartung (PMDB) |
X |
Renato Casagrande (PSB) Continua após a publicidade
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Cenário: Hartung tem chances reais de vencer no primeiro turno
O que está em jogo: Casagrande se elegeu em 2010 com apoio de Hartung, que já administrou o estado duas vezes. O desmoronamento da aliança deve tirar do PSB uma de suas vitrines |
Minas Gerais
Fernando Pimentel (PT) X
Pimenta da Veiga (PSDB) Cenário: o candidato tucano joga as últimas fichas para impedir uma vitória do petista no primeiro turno
O que está em jogo: a vitória do PT no estado de Aécio Neves (PSDB) pode ser a mais dura do país para o PSDB Rio de Janeiro
Luiz Fernando Pezão (PMDB) X
Anthony Garotinho (PR) Cenário: a campanha começou com quatro candidatos competitivos e acaba polarizada entre o atual governador, Pezão, e Garotinho
O que está em jogo: é o principal estado administrado pelo PMDB no país São Paulo
Geraldo Alckmin (PSDB) X
Paulo Skaf (PMDB) Cenário: : o tucano deve ser reeleito no primeiro turno
O que está em jogo: a hegemonia do PSDB no maior estado do país e o fortalecimento de Alckmin como alternativa do partido para a disputa presidencial de 2018, caso Aécio Neves não vença as eleições deste ano
Mato Grosso do Sul | |||
Delcídio Amaral (PT) |
X |
Reinaldo Azambuja (PSDB) |
Cenário: o candidato da situação, Nelsinho Trad (PMDB), não decolou, abrindo espaço para o crescimento de Delcídio, que lidera com folga
O que está em jogo:eleito, Delcídio ganha novo status no PT |
Goiás
Marconi Perillo (PSDB) X
Iris Rezende (PMDB) Cenário: Perillo pode alcançar o quarto mandato no estado
O que está em jogo: desde 1999, Perillo manda no estado. Esteve fora do governo entre 2006 e 2010, quando seu então apadrinhado Alcides Rodrigues exerceu o cargo Distrito Federal
Rodrigo Rollemberg (PSB) X
Jofran Frejat (PR) Cenário: com altíssima rejeição, o atual governador, Agnelo Queiroz (PT), foi ultrapassado na reta final por Frejat, herdeiro do ficha-suja José Roberto Arruda, e deve ficar fora do segundo turno
O que está em jogo: uma derrota simbólica e vexatória para o PT. Alvejado por denúncias de corrupção, Agnelo deve ser um caso raro de candidato à reeleição que não alcança o segundo turno Mato Grosso
Pedro Taques (PDT) X
Ludio Cabral (PT) Cenário: Taques foi quem mais se beneficiou com a renúncia do ficha-suja José Riva (PSD), que embolava a disputa
O que está em jogo: o PDT volta a ter um governo – mas é a ala do partido que nunca se alinhou ao PT que sai fortalecida
Acre | |||
Tião Viana (PT) |
X |
Tião Bocalom (DEM) |
Cenário: Viana lidera a corrida e pode vencer no primeiro turno
O que está em jogo: a hegemonia do PT, que administra o estado desde 1999 |
Amazonas
Eduardo Braga (PMDB) X
José Melo (Pros) Cenário: Braga mantém a dianteira, mas a eleição caminha para o segundo turno
O que está em jogo: com a vitória, Braga, que já governou o estado duas vezes, passa a medir forças com o atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), cuja gestão é bem avaliada Amapá
Waldez Góes (PDT) X
Lucas Barreto (PSD) Cenário: Góes lidera, mas Barreto e o atual governador, Camilo Capiberibe (PSB) – que amarga altos índices de rejeição -, estão em empate técnico no segundo lugar
O que está em jogo: a vitória de Góes, que já administrou o estado duas vezes, será um prêmio de consolação para seu aliado José Sarney, cujo grupo tende a ser derrotado no Maranhão Roraima
Chico Rodrigues (PSB) X
Ângela Portela (PT) Cenário: não há pesquisas que permitam prever o desfecho da eleição. Estima-se que Ângela e Rodrigues estejam em vantagem depois que o favorito Neudo Campos (PP) foi barrado pela Lei da Ficha Limpa e lançou a mulher, Suely, na disputa
O que está em jogo: a vitória no menor colégio eleitoral do país, com 300 000 eleitores, não tem peso nacional Pará
Simão Jatene (PSDB) X
Helder Barbalho (PMDB) Cenário: Jatene e Helder, filho de Jader Barbalho, representam as duas correntes políticas mais fortes do estado
O que está em jogo: a vitória, para o PSDB, será uma demonstração de força, uma vez que o Pará tem mais de 5 milhões de votos. Barbalho, que hoje desfruta apenas uma fração do prestígio que já teve no Senado, dará a volta por cima elegendo seu filho Rondônia
Expedito Júnior (PSDB) X
Confúcio Moura (PMDB) Cenário: Expedito Júnior aparece na dianteira, com tendência de segundo turno
O que está em jogo: numa eleição em que o PSDB pode não estar presente no segundo turno da disputa presidencial, o mandato nos estados ganha peso para a legenda Tocantins
Marcelo Miranda (PMDB) X
Sandoval Cardoso (SD) Cenário: o ex-governador Miranda deve vencer no primeiro turno
O que está em jogo: o sucesso de uma manobra eleitoreira. O governador Wilson Siqueira Campos e seu vice renunciaram neste ano, entregando o governo a Cardoso – que se comprometeu a devolver o favor em 2018
Alagoas | |||
Renan Filho (PMDB) |
X |
Benedito de Lira (PP) |
Cenário: Renan Filho está à frente na disputa, mas um terço do eleitorado se diz indeciso ou não tem candidato
O que está em jogo: a vitória da aliança entre os senadores Renan Calheiros (PMDB) e Fernando Collor de Melo (PTB) |
Bahia
Paulo Souto (DEM) X
Rui Costa (PT) Cenário: Souto lidera e pode vencer no primeiro turno
O que está em jogo: eleito, Souto vai dar cara, ao lado do prefeito de Salvador, ACM Neto, ao “carlismo renovado” – e fará do estado o principal reduto do DEM no Brasil Ceará
Eunício Oliveira (PMDB) X
Camilo Santana (PT) Cenário: o quadro é de empate técnico – Eunício lidera, mas a candidatura petista deu um salto nas últimas semanas
O que está em jogo: Eunício pode impor uma derrota ao grupo político dos irmãos Ciro e Cid Gomes, que administram o estado e apoiam o candi¬dato do PT Maranhão
Flávio Dino (PCdoB) X
Lobão Filho (PMDB) Cenário: Dino pode vencer no primeiro turno
O que está em jogo: o fim da era Sarney no estado. Será o único governo ocupado pelo PCdoB Paraíba
Cássio Cunha Lima (PSDB) X
Ricardo Coutinho (PSB) Cenário: com o apoio de catorze partidos, Cunha Lima lidera e tenta seu terceiro mandato no estado contra Coutinho, o atual governador
O que está em jogo: para o PSDB, manter uma vitrine no Nordeste. Para o PSB, um revés implica o encolhimento do partido em relação às eleições de 2010 Pernambuco
Paulo Câmara (PSB) X
Armando Monteiro (PTB) Cenário: a trágica morte do ex-governador Eduardo Campos, em agosto, catapultou a campanha de Paulo Câmara (PSB), seu afilhado político, que virou a eleição e lidera
O que está em jogo: pode ser a principal vitória do PSB no país, palanque importante para Marina Silva na disputa presidencial, caso ela chegue ao segundo turno Piauí
Wellington Dias (PT) X
José Filho (PMDB) Cenário: numa disputa entre dois ex-aliados, Dias deve conquistar já no primeiro turno seu terceiro mandato no estado
O que está em jogo: a vitória mostra o peso eleitoral do Bolsa Família, que atende 48% dos piauienses Rio Grande do Norte
Henrique Eduardo Alves (PMDB) X
Robinson Faria (PSD) Cenário: Alves desponta, mas o cenário está aberto
O que está em jogo: a vitória projeta nacionalmente o atual presidente da Câmara dos Deputados Sergipe
Jackson Barreto (PMDB) X
Eduardo Amorim (PSC) Cenário:candidato à reeleição, Barreto lidera, mas a tendência é de segundo turno
O que está em jogo: para o PMDB, manter um governo que é seu e não prejudicar a conta que pode fazer da sigla a campeã em estados conquistados neste ano. Para o PSC, a oportunidade única de vitória