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O ‘novo’ PR: independente, mas não tanto

Bancada do partido rompe aliança com PT, mas continua na base governista. Ressentimento com governo dá margens a especulações dentro do partido

Por Gabriel Castro e Luciana Marques
7 ago 2011, 13h21

Na última terça-feira, o senador Alfredo Nascimento ocupou a tribuna do Senado para, durante quarenta minutos, defender o PR – partido pivô do escândalo de corrupção no Ministério dos Transportes, revelado por VEJA. “O PR não é lixo para ser varrido da administração”, disse. A frase do ex-ministro foi a senha para a declaração de independência da legenda.

A rebelião deflagrada pelo PR no Congresso certamente foi a mais grave da legislatura. O partido já havia ensaiado ameaças ao Executivo, especialmente durante a crise das emendas parlamentares. Até agora, em todos os casos, a rebeldia da legenda se revelou um mero jogo de cena para obter favores do governo petista. Dessa vez, o partido parece disposto a dar um passo definitivo para longe do Planalto. Nada, entretanto, que não possa ser revertido logo adiante.

A nova postura do partido não é de oposição. Nem de independência. Foi denominada de “apoio crítico”, o que é mais uma figura de linguagem do que um posicionamento político. Isso porque o modelo que rege o presidencialismo brasileiro vincula partidos ao governo de forma quase indissociável. Num Congresso com mais de 20 partidos, o Executivo depende de um grande arco de apoio para se sustentar. Do outro lado, a maior parte das legendas só existe à sombra das verbas e dos cargos federais. É a fórmula do fisiologismo.

Peso – O agora rebelde PR carrega um peso considerável: 40 deputados, 6 senadores e aproximadamente 384 prefeitos. Um partido de tamanho semelhante ao DEM pós-PSD. Ainda assim, o possível rompimento não ameaçaria a larga vantagem numérica que o governo tem sobre a oposição no Congresso.

De qualquer forma, o mais provável é que PR e governo continuem caminhando juntos, exceto em votações pontuais: “No projeto do trem-bala, por exemplo, eu não votaria mais a favor. Na questão do Código Florestal, Blairo Maggi também deve avaliar dessa forma. Apenas isso: em algumas questões especificas, cada senador terá mais liberdade para votar”, diz o senador Clésio Andrade (MG).

Por outro lado, é fato que a legenda parece ter perdido o medo de ficar sem o Ministério dos Transportes. De alguma forma, já está: o partido não reconhece em Paulo Sérgio Passos um representante dos anseios da legenda. Não por acaso, os deputados da legenda prometem colocar o ministro contra a parede quando ele comparecer à Casa para tratar das denúncias de corrupção na pasta.

Mais do que cobrar um pleito específico, o partido quer deixar clara sua insatisfação com o governo. Até porque, quando Alfredo Nascimento foi defenestrado, o PR simplesmente não conseguiu apontar um substituto ficha-limpa para o cargo. Os integrantes da legenda sabem que uma saída do bloco de apoio só traria prejuízos.

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O PR fica assim, então, em permanente estado de alerta – pelo menos é isso o que quer fazer parecer: não pode tomar nenhuma atitude irreversível porque depois, afastado definitivamente das benesses do governo, poderia morrer de inanição. O Ministério dos Transportes passou a ser um feudo do partido em 2004, durante o governo Lula. E ajudou a alavancar o peso do partido, cuja bancada na Câmara foi a que mais cresceu nas última eleição.

Embora o governo tenha demonstrado indiferença diante da mudança de postura do partido, a verdade é que a legenda ainda tem com o que barganhar. Parlamentares do PR espalham a história de que Luiz Antonio Pagot, então diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) recebeu, durante a campanha eleitoral, a missão de arrecadar dinheiro junto a empreiteiras para a candidatura de Dilma Rousseff.

Ao revelar a mágoa de Pagot, os parlamentares insinuam que ele está disposto a falar. E assim segue o PR em sua relação com o governo: nem tão perto que possa ser tido como subserviente e nem longe o bastante para ficar de fora na hora de repartir o bolo de verbas e cargos públicos.

Na mesma – No Senado, até agora, o que houve foi uma dissolução do bloco PT-PR. Os senadores do Partido da República não seguirão mais as ordens do líder petista, Humberto Costa (CE). Mas continuam na base de apoio ao governo. “Não houve quebra de confiança. Só decidimos que nós vamos nos liderar”, resume Magno Malta (PR-ES),líder da bancada. O próprio Malta afirma que o partido não vai se aliar à oposição. Nem cogita, por exemplo, apoiar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Transportes: “Nós não vamos assinar uma CPI para fazer coro com quem passou oito anos no governo e nada fez”.

Na Câmara, o PR lidera um bloco em que é parceiro apenas de pequenos partidos. Por isso, não há o que mudar. “Aqui, a situação é diferente da do Senado”, diz Luciano Castro (PR-RR), um dos caciques da bancada. A legenda continuará na base de apoio ao Planalto. Até porque alguns deputados avaliam que, se rompesse com o Planalto neste momento, o partido ficaria com a pecha de fisiológico e nada teria a ganhar. Castro diz que a legenda continua do lado do governo. Mas completa a frase com um “por enquanto”. O líder do PR na Casa, Lincoln Portela (MG), continuará frequentando os almoços semanais organizados pelo líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (PT-SP),

Falta de critérios – Depois das revelações de VEJA, a “faxina” no Ministério dos Transportes derrubou mais de vinte integrantes dos primeiros escalões da pasta comandada pelo PR. Com isso, a legenda perdeu o controle sobre postos importantes, quase todos no Dnit. Dos sete novos diretores anunciados na última quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff, nenhum é do partido. Dessa forma, a maquina partidária do PR já não tem controle sobre o orçamento de 21 bilhões de reais do Ministério dos Transportes. Mais do que isso, a legenda perde o comando direto sobre um órgão capilarizado, muito eficaz para transformar obras públicas em dividendos políticos de todo o tipo.

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O partido se queixa de que, em escândalos protagonizados por integrantes do PT, do PMDB, do PP e do PC do B, a postura do governo foi diferente. Parlamentares do PR estão tão convencidos de que o Planalto manobra para se livrar da legenda que desenvolveram uma complexa teoria. A tese dá conta de que o governo pretende causar a perda de mandato de Valdemar Costa Neto (PR-SP), também citado no escândalo.

Valdemar é um dos dois deputados federais em exercício citados no inquérito do Mensalão, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O outro é João Paulo Cunha (PT-SP), que renunciaria ao cargo para concorrer à prefeitura de Osasco (SP) no ano que vem. Se a dupla ficar sem mandato, o caso sairia do STF e voltaria à Justiça comum – protelação suficiente não só para evitar o desgaste do julgamento em 2012, ano eleitoral, mas também para garantir a prescrição dos crimes.

Passos – O argumento propalado pelos parlamentares do partido é o de que o governo foi incoerente porque seria impossível a cadeia de irregularidades passar pelo ministro, pelo comandante do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, por diretores temáticos e superintendentes regionais sem que Passos, até então secretário-executivo do ministério, ficasse sabendo.

Planalto A presidente Dilma Rousseff, que vem ignorando as reclamações do PR há um mês, parece não ter se comovido tanto com a rebeldia dos senadores da legenda. “Não há interdependência entre o governo e o PR. Eles querem conversa com a Dilma e isso não vai ocorrer”, diz um influente petista, que completa: “Aliados são figuras permanentemente instáveis. As peças estão se movimentando, mas isso não significa que vão se romper”. Os governistas não acreditam que o PR vá criar dificuldades nas votações do Congresso.

A avaliação do PT é de que, ainda que perca o apoio do PR em algumas votações no Congresso Nacional, o futuro PSD pode manter a ordem das coisas a favor do Executivo. E a matemática está ao lado dos petistas; mesmo no caso de uma improvável adesão do PR ao bloco oposicionista, os aliados continuariam controlando mais de 70% da Câmara e do Senado.

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