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Manifestantes, agora, mandam nos vereadores do Rio

Grupo que acampou na Câmara Municipal impede trabalhos do Legislativo, determina quem pode entrar no prédio e limita a cobertura dos jornalistas

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 ago 2013, 06h11

Apelidada de “Gaiola de Ouro”, dada a fama de leniência e pouca produtividade angariada ao longo dos anos, a Câmara Municipal do Rio não chega a ser um exemplo de competência no Legislativo, sendo notada mais por escândalos do que por contribuições à população da cidade. Desde a última sexta-feira, no entanto, o Palácio Pedro Ernesto está no centro das atenções – também não por méritos próprios. Ocupada por 200, 100, 80 e, agora, 11 manifestantes, a casa dos vereadores do Rio tornou-se um exemplo extremo do que o radicalismo pode fazer com as instituições. O grupo, que se rebelou contra a forma como foi montada a CPI dos Ônibus – dominada por integrantes do PMDB, aliados do prefeito Eduardo Paes – passou a mandar no funcionamento da Casa, e agora quer impor sua vontade aos parlamentares. Querem – e conseguem – também determinar como e quando a imprensa pode cobrir o que acontece dentro e fora do prédio.

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Na tarde desta quarta-feira, o que acontecia do lado de fora do prédio era, curiosamente, coerente com a situação absurda que se via no plenário. Manifestantes arremessavam pedras e ovos, fazendo entre as vítimas o vereador Luiz Carlos Ramos (PSDC) e uma senhora que passava pelo local. Quem tentava sair tornava-se alvo dos ataques, sem que se entendesse exatamente o motivo do protesto violento. Dentro da casa, acuados, os vereadores, liderados pelo presidente da Câmara, Jorge Felippe (PMDB) tentavam negociar com os manifestantes alguma forma de poder, enfim, iniciar os trabalhos da CPI. Um dos pedidos dos manifestantes, e que os vereadores tendem a aprovar, é a realização da reunião da comissão no plenário, com acesso liberado ao público – ou seja, a ocupação pode voltar a crescer, pelo que indica o comportamento dos lá acampados.

Os últimos acontecimentos servem para reforçar alguns conceitos sobre as manifestações. A democracia, para quem está ocupando a Câmara, consiste em barrar todo tipo de opinião contrária. Pode circular tranquilamente quem é identificado como partidário do PSOL – e só. O mesmo acontece ao redor do prédio, na Cinelândia. O cerco ao longo desta quarta-feira incluiu intimidação de jornalistas e ameaças a um profissional do jornal O Globo. Os jornalistas de outros veículos foram xingados e chamados de fascistas. Para o grupo instalado à força no Palácio Pedro Ernesto, a Mídia Ninja é a verdadeira imprensa.

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Os vereadores têm dado sua contribuição para a situação bizarra. As exigências dos manifestantes de que “só a Mídia Ninja” pode entrar e acompanhar algumas reuniões são sempre atendidas. A exceção foi, na terça-feira, quando Felippe ameaçou chamar a polícia caso os jornalistas de outros veículos não pudessem ter acesso ao encontro. Na quarta, no entanto, a reunião entre os vereadores e os manifestantes pôde ser transmitida somente pelos ninjas. “Houve uma pequena discussão entre nós porque perguntei se eles, manifestantes, permitiriam o acesso da imprensa. Acho que a transparência se faz com a participação dos meios de comunicação. Eles insistiram em não receber porque queriam na reunião apenas a Mídia Ninja”, afirmou Felippe.

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Desde sexta-feira, os diálogos não avançam e prevalece a vontade dos acampados. “Parece cachorro correndo atrás do rabo. É sempre a mesma coisa”, reclamou o presidente da Casa, sobre os manifestantes. O grupo que ocupa a Câmara disse no começo da tarde de quarta-feira que não falaria com a imprensa. Depois da reunião com Felippe, os manifestantes quiseram dar a sua versão. “Poderíamos ter permitido a entrada de vocês (imprensa), mas precisaríamos de uma deliberação”, disse um dos acampados. Atualmente, todos se apresentam como “Amarildo” – uma forma de não revelar os nomes verdadeiros e de lembrar o caso do pedreiro desaparecido há um mês na Rocinha, depois de ser levado pela Polícia Militar para a sede da UPP daquela favela.

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Na reunião de quarta, pouco se definiu. Nesta quinta-feira, está marcada para as 10 horas a segunda reunião da CPI dos Ônibus, quando os integrantes da comissão terão acesso aos documentos do Tribunal de Contas do Município relativos à licitação dos ônibus e farão uma lista de quem deve ser ouvido. Se confirmada a realização da reunião no plenário da Casa, haverá espaço para 140 pessoas – 70 em cada galeria. Para as outras reuniões da CPI, serão instalados telões do lado de fora da Câmara para que os manifestantes que não conseguirão entrar na Casa acompanhem as decisões.

A câmera que filmava as galerias do plenário, onde os manifestantes ficam durante as tardes, foi quebrada na ocupação. O grupo que protesta dentro da Câmara usa pulseiras verdes para que, depois das sessões, possa retornar ao plenário.

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