As declarações do ex-presidente Lula em rede nacional na noite desta terça-feira não resultaram apenas em panelaço nas principais capitais do país: custaram o apoio da bancada do PMDB na Câmara à medida provisória que endurece o acesso a benefícios trabalhistas como seguro-desemprego e abono salarial, parte do ajuste fiscal. O partido, que vem constrangendo o governo ao pedir “cortes na carne” pela coerência do ajuste, até esta terça-feira apoiava a matéria por entender que significava uma ajuda para o país reequilibrar as contas públicas. Mas o cenário mudou depois que Lula criticou, durante o programa do PT, o projeto de amplia a possibilidade de terceirização de serviços pelas empresas, aprovado pela Câmara após um empenho particular do PMDB.
O ex-presidente diz que o texto faz o Brasil “voltar ao que era no começo do século passado”, quando o trabalhador não tinha “dignidade”. “Vamos seguir a orientação do presidente Lula. Vamos combater a retirada do direito dos trabalhadores”, ironizou o líder do PMDB, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). “Nós não vamos mais votar a medida provisória até que o PT nos explique o que quer, e, se for o caso, feche questão para a votação das matérias do ajuste fiscal. Se não for assim, não conte conosco. O país não precisa desse remédio amargo, nós não vamos empurrar essa conta no trabalhador”, continuou o líder peemedebista. Depois de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tirar a medida provisória de pauta nesta terça, a MP foi novamente pautada para esta quarta-feira. (Marcela Mattos, de Brasília)