Enterro do dançarino DG tem protesto contra a PM e confronto nas ruas de Copacabana
Elisa Quadros, a Sininho, comanda vaias contra os policiais. Moradores levam faixas pedindo fim da UPP no Pavão-Pavãozinho
O enterro do dançarino Douglas Rafael da Silva, o DG, encontrado morto em uma escola do morro Pavão-Pavãozinho na última terça-feira, transformou-se em um protesto contra a Polícia Militar. A estudante Elisa Quadros, a Sininho, comandou uma sessão de vaias direcionadas aos PMs. Um grupo de moradores de favelas da Zona Sul levou cartazes de “fora UPP” ao cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.
A partir das 16h, o protesto prosseguiu em direção a Copacabana. Os manifestantes invadiram a pista da rua Barata Ribeiro, caminhando na direção contrária aos carros. Alguns socavam carros e ônibus, deixando motoristas em pânico.
O forte policiamento – o protesto foi acompanhado por mais de 15 veículos da Polícia Militar – não impediu que um grupo ameaçasse funcionários de lojas, bares e restaurantes para que fechassem as portas. Com medo, praticamente todos os estabelecimentos seguiram as ordens do bando.
A poucos metros de uma das entradas do morro Pavão-Pavãozinho, houve confronto entre um grupo de manifestantes e policiais, com lançamento de pedras contra PMs. Um morador da favela chegou a tentar derrubar um policial com um golpe de capoeira. Os policiais responderam com bombas de efeito moral. Foram fechadas ruas em direção à Praia de Copacabana e o trânsito ficou interditado na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde o comércio também foi fechado.
Moradores acusam policiais militares pela morte de DG. O delegado Gilberto Ribeiro, da 13ª DP (Ipanema), disse na manhã desta quinta-feira que oito policiais militares já prestaram depoimento sobre a morte do dançarino. Segundo ele, as armas dos PMs que participaram do tiroteio na favela na madrugada de terça-feira, poucas horas antes do corpo do dançarino ser encontrado, já foram apreendidas pela Polícia Civil. O armamento foi encaminhado para perícia no Instituto de Criminalística Carlos Éboli, que fará exames de confronto balístico. Nesta quinta, o policiamento continua reforçado no Pavão-Pavãozinho e nas vias de acesso à favela, em Copacabana, na zona sul do Rio.
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A mãe do dançarino, Maria de Fátima Silva, afirmou durante o velório que pretende denunciar o caso à Anistia Internacional. Douglas era dançarino do programa ‘Esquenta’, apresentado por Regina Casé na Rede Globo. Regina foi ao enterro e manifestou solidariedade à família. O rapaz não tinha envolvimento com o crime. Em um comentário no Facebook, em janeiro, ele deixou registrada uma homenagem a um traficante morto na favela. “PPG TA DE LUTO, E OS AMIGOS CHEIO DE ODIO NA VEIA, MAS TARDE O BICO VAI FAZER BARULHO…. #SAUDADES ETERNAS CACHORRAO!”
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, deu entrevista à TV Globo pela manhã e afirmou que a morte de DG não será uma repetição do caso Amarildo de Souza, o pedreiro que desapareceu na favela da Rocinha – crime pelo qual estão denunciados 25 PMs. Beltrame foi ao programa Encontro com Fátima Bernardes e, mais uma vez, defendeu o projeto das UPPs. “Eu sou pai. Quero dizer (à mãe de Douglas) que isso não vai ficar como Amarildo, não vai ficar impune. Eu tenho três filhos, moro nesta cidade, isso não vai ficar assim”, disse.
O secretário também afirmou que a elucidação do caso é necessária para evitar desgastes à imagem do projeto de “pacificação”. “Atualmente, qualquer serviço público entra na Rocinha. No Pavão-Pavãozinho, é a mesma coisa. Quantos Amarildos o crime produziu em 30 anos no Rio, nos ‘fornos de micro-ondas’ (fogueiras em que traficantes queimam corpos). Não quero isentar a polícia dos seus erros, mas não podemos esquecer o passado”, afirmou.
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(Com Estadão Conteúdo)