Delator aponta propina de R$ 5 milhões da máfia do ISS a dois vereadores
Fiscal que fez delação premiada disse ter feito um pagamento a Adilson Amadeu (PTB) e relatou aos procuradores que Aurélio Miguel (PR) também recebia propina
O fiscal Eduardo Horle Barcellos, que confessou ter integrado a máfia do ISS, afirmou em acordo de delação premiada que os vereadores Adilson Amadeu (PTB) e Aurélio Miguel (PR) receberam no esquema que fraudava cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISS). O dinheiro teria sido pago pelo ex-subsecretário municipal de Arrecadação de São Paulo, Ronilson Bezerra Rodrigues. Ele é apontado pelos investigadores como chefe do esquema que atuou na prefeitura durante a gestão de Gilberto Kassab (PSD), entre 2006 e 2012.
Barcelos relatou aos promotores do Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec) que, seguindo ordens de Ronilson, fez um dos pagamentos a Adilson Amadeu. “Em meados de 2012, Ronilson pediu que o declarante entregasse um envelope pardo cheio de dinheiro para Adilson Amadeu”, disse o delator. O depoimento detalha que o pagamento ocorreu na frente de uma cafeteria na Rua Líbero Badaró, no centro de São Paulo. “O declarante chegou a questionar Ronilson da razão daquela entrega. Ronilson não respondeu”.
Sobre Aurélio Miguel, Barcellos declarou que os pagamentos foram feitos em sua casa. “Ronilson disse ao declarante que Aurélio Miguel o recebia em uma sala onde havia um aparelho de som, sendo que Aurélio Miguel ligava o aparelho e aumentava o volume até as alturas quando ia pegar o dinheiro de modo a impedir qualquer gravação que pudesse registrar a entrega das quantias”, relata Barcellos em sua delação.
LEIA TAMBÉM:
MP e prefeitura de São Paulo cobram R$ 46 mi de líder da máfia do ISS
MP pede prisão de dois fiscais da máfia do ISS
Justiça quebra sigilo de mais um fiscal da Máfia do ISS
Em nota, Amadeu disse que “desconhece o teor do depoimento de Barcellos e nega veementemente qualquer relação de vantagem com o servidor”. Também por nota, Miguel “repudia com veemência toda e qualquer afirmação no sentido de que tenha recebido dinheiro de Ronilson, de qualquer funcionário da Secretaria de Finanças ou qualquer outro funcionário municipal”. O texto ressalta que Barcellos não apresentou prova sobre pagamentos ao vereador e diz que a sala onde haveria o som potente em sua casa “não existe”.
Miguel e Amadeu não foram os únicos citados no depoimento de Barcellos. O fiscal declarou também ter informações de que o atual presidente da Câmara, Antonio Donato (PT), e o ex-presidente, Antonio Carlos Rodrigues (PR), atual ministro dos Transportes, também receberam propina. Eduardo Barcelos afirma que Ronilson fez pagamentos a eles porque “ficou em débito” com os parlamentares após ter sido nomeado subsecretário. Durante a CPI do IPTU, em 2009, os vereadores enviaram “inúmeros” ofícios à Prefeitura convocando autoridades para prestar depoimento como forma de pressionar pela sua nomeação.
Donato ressalta que à época dos fatos fazia oposição a Kassab e afirma que seu nome vem sendo “usado indevidamente” pelos delatores. O ministro Rodrigues diz “jamais” ter recebido dinheiro da máfia do ISS e cobra do delator provas de suas acusações.
(com Estadão Conteúdo)