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Defesa apela: ‘Julguem Lindemberg como a um irmão’

A promotora Daniela Hashimoto abriu mão do direito de réplica. Com essa decisão, os jurados devem em breve se reunir para chegar a um veredicto

Por Carolina Freitas, Cida Alves e Bruno Huberman, de Santo André
16 fev 2012, 13h34

A promotora Daniela Hashimoto abriu mão do direito de réplica no julgamento de Lindemberg Alves, acusado de matar Eloá Pimentel em 2008. Desde as 15h50, os jurados estão reunidos na Sala Secreta, onde votarão os quesitos apresentados pela juíza Milena Dias em plenário. Antes de irem para a sala, Milena leu em plenário as 49 perguntas a que os jurados deverão responder com “sim” ou “não” para que seja formulado o verectido a respeito de cada um dos 12 crimes de que Lindemberg é acusado.

São eles: homicídilo doloso e qualificado (por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima) de Eloá, tentativa de assassinato de Nayara Rodrigues da Silva (também por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima) e do policial militar Atos Valeriano, cárcere privado de quatro menores de idade (Eloá, Nayara, Victor Lopes de Campos e Iago Vilela de Oliveira) e quatro crimes por disparo de arma de fogo em lugar habitado.

Durante sua exposição, que terminou por volta das 13h30 desta quinta-feira, a advogada Ana Lúcia Assad tentou imprimir um tom emocional em sua fala. Ela tentou buscar identificação entre seu cliente e os sete jurados. “Os senhores são pessoas de bem, assim como Lindemberg”, disse.”Enxerguem Lindemberg com o coração porque ele não é bandido. Peço que olhem para ele como para um irmão”.

Ana Lúcia falou durante 1h30. Ela gastou mais tempo de seu discurso para se defender de uma suposta discriminação que afirma sofrer do que exibindo a versão do réu sobre o crime, ocorrido em outubro de 2008. “Tentaram passar a imagem de que essa defensora fosse burra”, afirmou. “Eu quase fui linchada quando fui almoçar, minha mãe me ligou chorando. Se eu estivesse fazendo alguma coisa errada, por que a OAB estaria aqui? Por que eu sou uma louca?”, indagou.

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Foi uma tentativa de colocar a si própria e a Lindemberg, mais uma vez, como vítimas da imprensa, criando uma analogia entre a pressão que o acusado diz ter sentido durante o sequestro e a pressão que ela diz estar sofrendo. Ela reclamou que, durante o julgamento, jornalistas estariam ligando insistentemente, mesmo sabendo que ela estava no júri. E disse que o mesmo acontecia com Lindemberg quando repórteres conseguiram o telefone dele durante o sequestro.

A advogada argumentou que Lindemberg estava sob intenso stress na época do crime – assim como ela diz estar agora, durante o julgamento. “Ele precisava de um tempo – e não deram um tempo para ele tomar uma decisão correta”. E insistiu no tom emocional, sustentando que Eloá foi o único e verdadeiro amor da vida de Lindemberg. Nesses três anos e meio, ele não recebeu nenhuma visita íntima. “Ele não quer outra mulher.”

No início de sua fala, embora tenha ressaltado que não ia pedir a absolvição de Lindemberg, empenhou-se na tentativa de diminuir a pena que será imposta ao réu: pediu aos jurados que condenassem Lindemberg por homicídio culposo (sem intenção de matar) pela morte de Eloá. “Ele sofre pela morte dela”. E disse que Nayara Rodrigues da Silva voltou ao cativeiro por vontade própria. Por isso, pleiteou a condenação por lesão corporal culposa. “Ele errou, tomou as decisões erradas e deve pagar por isso, mas na medida do que ele efetivamente fez”.

Imprensa – A advogada reclamou também do fato de jornalistas se revezarem, de hora em hora, na sala em que ocorre o julgamento, e saírem da sala para passar notícias para suas redações. “Parece resultado da Tele-Sena, de hora em hora. É complicado trabalhar dessa forma, com os olhos do Brasil voltados para o caso”, afirmou. “Esse caso só é esse caso por culpa de alguns maus profissionais da imprensa. Lindemberg só responde preso ao processo porque foi pintado pela imprensa como um anticristo. É uma aberração jurídica”.

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Ela tentou corresponsabilizar também a polícia e a sociedade pelo crime. “Lindemberg é a bola da vez porque é pobre”, afirmou. A promotora Daniela Hashimoto interrompeu a fala da advogada. “Eloá também era pobre”, disse, repreendida severamente pela advogada: “Eu não dei aparte! A senhora fala em réplica.”

A fala da advogada, aliás, foi interrompida várias vezes pela promotora e pelos assistentes de acusação. Exaltada, em uma dessas interrupções, Ana Lúcia berrou à promotora: “A senhora quer dar o boi às piranhas!” Questionada por um dos assistentes de acusação a quem ela estava se referindo, respondeu que eram duas jornalistas de emissoras de TV que entrevistaram Lindemberg na época. “Foi criado um reality show. Quanto mais Ibope o caso dava, mais a situação ficava complicada dentro do apartamento. A imprensa inflou vaidades, eles se divertiam se vendo na TV.”

Com o intuito de atribuir a atitude de Lindemberg a fatores externos, a defensora declarou: “Ele errou, mas não errou sozinho. Ele não deve pagar essa conta sozinho”. A tese vai no sentido oposto do que sustenta a promotora Daniela Hashimoto. Para ela, o réu já sabia o que iria fazer quando chegou ao apartamento da ex-namorada, no dia 13 de outubro de 2008. “Coloquem-se no papel das vítimas”, disse aos jurados.

Credibilidade – Segundo o jurista e professor de direito Luiz Flávio Gomes, que acompanha o julgamento no plenário, a defesa não conseguiu provar sua tese. “A defesa não apresentou provas suficientes para que os jurados possam dar credibilidade à sua posição”, disse. “A decisão do júri é totalmente probatória”. Gomes afirmou que, caso fosse jurado, condenaria o réu pelos 12 crimes e, se estivesse no lugar da promotora, não pediria réplica.

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Tiago Pinheiro, advogado da família de Eloá, declarou que Ana Lúcia defendeu Lindemberg de forma atabalhoada. “É uma pena porque, na minha opinião, o réu encontra-se indefeso”, afirmou. “A tese que ela escolheu é equivocada”.

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