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Cabo de guerra no PT de São Paulo

Rompida com a base, Marta Suplicy mantém pré-candidatura à prefeitura. Lula insiste no nome de Haddad. Dúvida: ela vai complicar o "consenso" petista?

Por André Vargas e Gabriel Castro
12 set 2011, 07h15

A corrida para a prefeitura de São Paulo em 2012 começou com um ano de antecedência, pontuada por uma disputa sem precedentes no PT. O jogo tem cinco pré-candidatos, com diferentes graus de expressão, e é protagonizado por dois deles. De um lado, a obstinada teimosia da senadora Marta Suplicy em voltar à prefeitura, que ocupou de 2001 a 2004. De outro, o autoritarismo do ex-presidente Lula, que tenta impor seu candidato, o ministro da Educação, Fernando Haddad – por enquanto nada mais do que um avatar lulista – a qualquer custo.

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Disputas entre pré-candidatos a cargos eletivos são comuns e saudáveis para a democracia. Só que no PT, onde as decisões se dão por “construção de consenso” – eufemismo que significa manda quem pode -, o imbróglio revela falta de unidade. A capital paulista é um dos poucos lugares em que a tendência de Lula, Construindo um Novo Brasil (CNB), não é hegemônica. Uma ironia política e geográfica devido à proximidade com a região do ABC, onde a legenda surgiu e a CNB predomina.

Periferia – Isso ajuda a explicar, em parte, a resistência de Marta e a insistência dos outros candidatos ao posto de pré-candidato, como o senador Eduardo Suplicy e os deputados federais Carlos Zarattini e Jilmar Tatto, os dois últimos até ontem próximos da senadora rebelde.

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Além de Lula, pesam contra Marta outros fatores delicados. As candidaturas de Tatto e Zarattini estão entre eles. Nas caravanas promovidas pelo PT para apresentar os nomes às bases da militância – uma desculpa para Haddad mostrar a cara -, o discurso de ambos é igual ao de Marta. Irmão do deputado estadual Ênio Tatto e do vereador Arselino, Jilmar predomina sobre quase 30% da militância municipal, principalmente na periferia da zona sul.

Prévias – A possibilidade de convocar prévias para escolher o pré-candidato complica ainda mais a situação. No congresso do PT, no fim de semana passado, ficou decidido que as prévias não vão ocorrer se dois terços do diretório se opuserem. Ou seja, se a candidatura de Haddad não se encaminhar naturalmente, Lula ainda terá espaço para manobra. Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, a novidade só terá impacto sobre aqueles que usavam a pré-candidatura para ganhar holofotes. “A decisão das prévias foi definitiva, porque coloca limite para quem quer ser candidato sem ter base real. Da forma que estava antes, era muito fácil alguém chegar e afirmar que era candidato”, diz.

O presidente do PT no estado de São Paulo, deputado estadual Edinho Silva, diz que o quadro inédito – e inesperado – é decorrente da falta de diálogo. Ao conquistar uma cadeira no Senado, na última eleição, Marta não sinalizou que queria voltar à prefeitura. “Isso foi interpretado como um espaço político a ser preenchido”, diz. Quando Marta mudou de ideia, as cartas já estavam na mesa. “Suplicy dificilmente se colocaria contra ela”, diz Edinho, lembrando que ambos foram casados. Pragmático e fiel ao líder Lula, o deputado não quer as prévias. “Elas deixam sequelas. Os pré-candidatos apontam os defeitos uns dos outros, daí, no dia seguinte, tem que apagar o passado e seguir apoiando o vencedor”, diz.

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O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), em discurso
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), em discurso (VEJA)

Pesquisa – Só que Marta não está tão fraca – apesar de suas limitações. Ela lidera a mais recente pesquisa de intenção de voto do Instituto Datafolha, divulgada em 5 de setembro, com índices de 29% a 31% em quatro diferentes cenários estimulados. Por outro lado, mantém um índice de 30% de rejeição, ou seja, eleitores que não votariam nela de jeito algum. A mesma pesquisa aponta que 40% dos eleitores votariam em um candidato apoiado pelo ex-presidente. Daí a explicação para Lula preferir Haddad, uma figura nova e sem antipatias. Uma vantagem considerável e que segue um método já testado pelo líder petista na eleição de Dilma.

Na quinta-feira, o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão, divulgou em seu site e em seu perfil no Twitter reportagem dizendo que as prévias podem acontecer diante da dificuldade para chegar a um nome de consenso. Vereador e presidente municipal petista, Antônio Donato reavalia a mudança de rumo. “Foi precipitado acreditar que a prévia era um mal em si”, diz. Tal cenário ainda pode se revelar positivo para Haddad. Donato contou ter dito ao ministro que uma escolha interna seria boa para ele ficar ainda mais conhecido pelo eleitor. “Devemos ter a disputa mesmo com a Marta saindo antes”, acredita Donato.

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O esforço pelo ministro é justificado. Vencer em São Paulo é crucial para o PT. Na avaliação do cientista político Demétrio Magnoli, a chance de o partido usar a prefeitura para tentar chegar ao governo do estado, disputa em que o PT sempre foi derrotado, aumentou com criação do PSD pelo prefeito Gilberto Kassab. “Lula vislumbrou uma conjuntura nova, desde que o PT não se apresente com sua cara tradicional”, diz. Neste contexto, o nome de Haddad faz sentido.

Nos bastidores, todavia, ainda há quem acredite que o cabo de guerra foi substituído pelo pôquer. A dúvida é saber até quando Marta manterá sua aposta. “Ela pode resistir até negociar uma saída honrosa”, pondera um cardeal petista. Por honroso, pode-se entender um acordo em troca de apoio futuro ou cargos para o presente. O limite esbarra na paciência de Lula, que até agora não viu seu escolhido sob fogo cerrado. “Ele controla a distribuição de cargos no governo federal, sempre rendosos. Quem resistir pode ser retaliado”, afirma o historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

O deputado federal Gabriel Chalita filia-se ao PMDB de São Paulo
O deputado federal Gabriel Chalita filia-se ao PMDB de São Paulo (VEJA)
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À espera de PT e PSDB – Fora do palco petista, os demais partidos a lançar nomes para a prefeitura de São Paulo se preparam para o novo cenário aguardando pelos erros dos adversários. “A polarização entre PT e PSDB só acaba se um dos dois cometer erros”, diz Edinho Silva. Os primeiros nomes nessa fila são os de Gabriel Chalita (PMDB) e de Netinho de Paula (PCdoB).

Para o PMDB, comandado pelo vice-presidente Michel Temer e gerenciado pelo deputado estadual Baleia Rossi, o próximo pleito será a chance de tentar resgatar o prestígio perdido. Os principais objetivos dos peemedebistas são a reconstrução das bancadas federal (com dois deputados paulistas), estadual (com meros cinco nomes) e almejar o governo do estado no pleito seguinte. Para tanto, concorrer na capital significa mostrar a cara na TV para quase metade dos eleitores, incluindo os que vivem na região metropolitana. “Mesmo bem votado para a Câmara, Chalita ainda não é conhecido da grande massa”, diz Baleia Rossi.

Com pouco espaço no horário eleitoral gratuito na TV, o PCdoB foi o primeiro partido a lançar, ainda em abril, o pagodeiro Netinho como pré-candidato. Ele vem cacifado pela quase eleição ao Senado. A estratégia comunista é largar antes e aguardar ao máximo para fechar uma eventual coligação ou previsíveis apoios. Conversas com o PDT e com o PSB estão em curso. “Não podemos esperar pelos grandes partidos”, avalia a presidente estadual, Nádia Campeão.

Da parte do PSD, o virtual candidato e vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, não se julga na disputa. Por enquanto. Ele aguarda um cenário mais bem definido para entrar no jogo.

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