Poucas horas depois de o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciar a anexação de partes da Ucrânia, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta sexta-feira, 30, que irá entrar com um pedido formal de “adesão acelerada” à Otan, a principal aliança militar ocidental.
“De fato, já chegamos à Otan. Hoje, a Ucrânia está solicitando isso oficialmente. Em um procedimento que vai ao encontro de nossa importância para a proteção de nossa comunidade. De forma acelerada. Estamos dando o nosso passo decisivo ao assinar o pedido de admissão”, escreveu Zelensky em seu canal no Telegram.
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Junto ao presidente do Palamento ucraniano, Ruslan Stefanchuk, e ao primeiro-ministro Denys Shmygal, ele afirmou que Kiev “já comprovou” ter capacidade de atender aos requisitos para participar da aliança militar. Ainda assim, disse entender que a entrada exige consenso entre os Estados-membros.
“Logo, enquanto isso está acontecendo, oferecemos para implementar nossas propostas em relação às garantias de segurança para a Ucrânia e para toda a Europa”, disse.
Durante mensagem em vídeo, o presidente ucraniano também ressaltou estar “pronto para um diálogo” com a Rússia, mas que seria impossível fazer isso sob comando do atual presidente, Vladimir Putin.
“A Ucrânia foi e continua sendo uma liderança em esforços de negociação. Foi nosso Estado que ofereceu à Rússia um acordo sobre coexistência sob termos honestos, decentes e justos”, disse. “É óbvio que isto é impossível com este presidente russo. Ele não sabe o que dignidade e honestidade são”.
As exigências de Moscou para encerrar a invasão ao país vizinho, que teve início em 24 de fevereiro, foram explicitadas recentemente quando o porta-voz Dmitry Peskov listou as condições para que a Rússia interrompa suas operações militares na Ucrânia, entre elas uma garantia na Constituição de que Kiev jamais fará parte da Otan ou da União Europeia.
Por certo momento, Zelensky chegou a afirmar que havia abandonado pretensões de colocar seu país na aliança, mas voltou atrás. Em março, ele afirmou que seu país precisava entender que “a porta da Otan não está aberta” para admissão.
Anexação
O anúncio feito por Putin nesta sexta-feira sobre a intenção do Kremlin de anexar quase um quinto do território da Ucrânia é considerado uma aberta violação do direito internacional.
Quando o processo estiver oficialmente concluído, Moscou reconhecerá quatro regiões ucranianas como território russo: Luhansk e Donetsk – lar de duas repúblicas separatistas apoiadas pela Rússia, onde há combates desde 2014 –, assim como Kherson e Zaporizhzhia, duas áreas no sul da Ucrânia que foram ocupados por forças russas desde o início da invasão em fevereiro.
O líder do Kremlin defendeu as anexações dizendo que o povo de Donbas (região formada por Donetsk e Luhansk) foi “vítima de ataques terroristas desumanos conduzidos pelo regime de Kiev”, seguindo sua narrativa de que a Ucrânia tem falantes de russo no leste da Ucrânia como alvo. Putin repetidamente fez acusações infundadas de que a Ucrânia cometeu genocídio no leste do país.
Apesar da ampla condenação internacional, a Rússia parece estar conseguindo alcançar seu plano de absorver cerca de 100 mil quilômetros quadrados de território ucraniano, cerca de 15% do país. Esta é a maior anexação forçada de terras na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, em 1945.