Xi Jinping enfrenta resistência dentro do próprio partido, diz dissidente
Professora universitária do PCC disparou críticas ao jornal 'The Guardian' após ser expulsa da legenda: 'Mais pessoas gostariam de sair deste partido'
O presidente Xi Jinping vem enfrentando resistência dentro do Partido Comunista da China (PPC), segundo informou o jornal britânico The Guardian nesta terça-feira, 18. De acordo com a reportagem, uma professora universitária da Escola do Partido Comunista foi despedida depois de publicar na internet um vídeo em que repreendia Xi e o acusava de “matar um partido e um país”. A pesquisadora afirmou ainda que não é a única descontente com o atual governo.
Na gravação, Cai Xia afirma que o líder chinês está transformando o PCC em um “zumbi político”, segundo o jornal China Digital Times. O vídeo foi publicado em junho, mas Cai só foi demitida nesta segunda-feira 17.
A Escola do Partido Comunista, localizada em Pequim, é a instituição de ensino superior que treina especificamente os oficiais do PCC. Cai Xia era uma proeminente professora da instituição. A legenda que governa o país desde 1949 é conhecida por sua uniformidade e rigidez com dissidentes.
O Partido Comunista conta com cerca de 90 milhões de membros, o que equivale a aproximadamente 7% da população do país. A filiação à legenda é considerada essencial para quem quer ascender profissionalmente – seja na política, no mundo dos negócios ou até mesmo na área de entretenimento.
Xi Jinping é o Secretário-Geral do partido, e portanto presidente, desde 2012. O anúncio em 2018 de que a China vai colocar fim ao limite de reeleições para o presidente e para o vice-presidente abriu espaço para que o atual mandatário governe o país indefinidamente, acentuando ainda mais seu status de líder mais poderoso desde Mao Tsé-tung.
‘Obstáculo ao progresso’
Livre para falar após a expulsão, Cai foi entrevistada pelo The Guardian e apontou que “sob o regime de Xi, o Partido Comunista Chinês não é uma força para o progresso da China. Na verdade, é um obstáculo ao progresso da China”. “Creio que não sou a única que quer sair desta festa. Mais pessoas gostariam de desistir ou sair deste partido”, acrescentou.
Sobre a pandemia de Covid-19, Cai questionou a atuação do presidente chinês. “Quando soube da situação no dia 7 de janeiro, não divulgou nem mobilizou recursos. Então, não deveria assumir a responsabilidade?”, questionou a antiga professora, sobre os primeiros casos de coronavírus detectados na cidade de Wuhan.
Os Estados Unidos são a principal voz a acusar Pequim por negligência no controle da pandemia. O governo da China nega que tenha escondido informações sobre o coronavírus ou poupado esforços para impedir a propagação do vírus.
“Quando ninguém pode opor-se a ele, isso significa que o seu poder é ilimitado”, destacou Cai Xia. “[Xi Jinping] fez do mundo um inimigo.” A professora disse ainda que estava “muito feliz de ter sido expulsa” do partido.
Xi Jinping ainda não reagiu aos comentários da antiga professora da escola do PCC, mas defendeu o modelo econômico-politico do país. Em entrevista ao jornal Qiushi, na semana passada, o presidente chinês insistiu que “a base da economia política da China só pode ser uma economia política marxista, e não ser baseada em outras teorias econômicas”.