México, 11 jun (EFE).- Uma corrente de desconfiança com relação à imprensa, sobretudo as emissoras televisivas de maior audiência, ganha força no México devido à cobertura de uma campanha eleitoral que, segundo os especialistas, é a mais questionada da história.
Acusações de falta de imparcialidade e transparência por parte dos principais canais vêm sendo feitas durante esta disputa eleitoral, que se encerrará em 1º de julho, dia em que 79,5 milhões de cidadãos estão convocados às urnas.
Especialistas consultados pela Agência Efe assinalam a internet, as redes sociais e os jovens como a mistura perfeita para instigar o debate sobre o trabalho desses veículos de massa.
‘Acho que há uma saturação da juventude crítica com acesso à universidade sobre a forma como a televisão e o poder público confabulam para promover e estimular uma candidatura presidencial’, assegurou Carlos Padilla, diretor da ‘Zócalo’, revista especializada em jornalismo e comunicação política.
Padilla se refere ao movimento #Yosoy132, que surgiu em 11 de maio na Universidade Ibero-Americana, quando o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Enrique Peña Nieto, favorito nas pesquisas, foi vaiado por vários estudantes.
Acusado de ser um candidato ‘fabricado’ e imposto pela ‘Televisa’, a principal rede de televisão do país e o maior grupo de comunicação da América Latina, os assessores do aspirante do PRI disseram que os jovens fazem parte de ‘grupos manipulados e agitadores’.
Para desmentir os dirigentes do PRI, esses jovens gravaram um vídeo que ganhou o respaldo de diversos estudantes de outras universidades, que se organizaram sob o movimento #Yosoy132 para fazer da democratização da imprensa uma de suas principais bandeiras.
A ideia de que existe uma clara preferência da emissora por Peña Nieto não é isolada, e nos últimos dias essa percepção aumentou pelo fato de o periódico britânico ‘The Guardian’ ter divulgado documentos que supostamente demonstram a venda de coberturas favoráveis ao candidato presidencial.
A cadeia e o partido rejeitaram a acusação, alegando que não foi confirmada a autenticidade dos documentos, onde também se inclui uma campanha contra o candidato do esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD), Andrés Manuel López Obrador, segundo colocado nas enquetes.
Embora o caso da ‘Televisa’ seja o mais famoso, as exigências de maior imparcialidade da sociedade também recaem sobre outros veículos.
‘A imprensa está jogando politicamente a favor ou contra os candidatos, pois no México também se vota editorialmente, porque, não nos esqueçamos, os Governos são a maior fonte de financiamento’, acrescentou Padilla.
As críticas aos veículos de massa estão centradas fundamentalmente nas emissoras de televisão, e, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, não se estendem aos principais diários, onde justamente Peña Nieto é o que parece estar em desvantagem.
A empresa Consulting Media informou nesta quarta que, segundo uma análise feita nas últimas cinco semanas, Peña Nieto foi o candidato mais criticado nos oito maiores diários do país.
De acordo com esses dados, de todas as notas envolvendo o aspirante do PRI, 24,8% foram negativas, enquanto Josefina Vázquez Mota, do governante Partido Ação Nacional (PAN), registrou índice de 22,5%, e o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, de 11,2%. EFE