Yannis Chryssovergis.
Atenas, 3 mai (EFE).- Rosa é uma psicoterapeuta de 40 anos que, após uma década trabalhando com viciadas em drogas em uma clínica pública de reabilitação em Atenas, viu seu salário minguar de 1.120 euros para apenas 630 euros após o ajuste de austeridade implementado no país.
Seu caso não é isolado, e milhares de gregos convocados a participar das eleições antecipadas deste domingo vivem a mesma situação. O clima geral no país é de forte tensão social e raiva com a classe política.
‘Com este dinheiro tenho que pagar as contas de luz, telefone e água, dar de comer e vestir para minha filha e pagar a gasolina para ir trabalhar, o que custa 100 euros mensais,’ reclamou Rosa à Agência Efe.
‘Além disso, não posso trabalhar paralelamente como psicoterapeuta particular pois os funcionários públicos não têm esse direito’, acrescentou.
Rosa é mais uma entre milhares de gregos que viram nos dois últimos anos seus salários diminuirem cerca de 30%, ao mesmo tempo em que aumentam os impostos e o custo de vida. O preço das passagens no transporte aumentou 50%; o da luz, 10%; e do gasóleo para calefação, 40%.
Os custos na saúde também aumentaram, enquanto a cobertura de remédios oferecidos pelo governo diminui. A partir de agora, os gregos precisam pagar cinco euros por consulta e até 500 euros por exames médicos.
Segundo um estudo recente da Universidade de Patras, 70% dos entrevistados não têm dinheiro suficiente para comprar remédios, e quase 60% dizem que não realizam mais exames médicos por problemas econômicos.
Um em cada três gregos vive abaixo do limite da pobreza relativa (receita menor que 4.264 euros anuais para uma pessoa), e o número de pessoas que não têm um lar já passa de 20 mil, algo impensável no país há poucos anos atrás.
O sentimento de desespero é grande, pois a crise foi muito abrupta. Antigamente, a economia grega crescia a níveis acima da média europeia, e embora a renda da população não fosse muito alta, era possível desfrutar de comodidades como o fácil acesso ao crédito.
Atualmente, segundo um relatório da Comissão Europeia, cada grego deve em média 33 mil euros. E o pior de tudo: o fim do problema não parece próximo.
Desde o início de abril, os novos contratos privados assinados graças às leis aprovadas pelo governo de Lucas Papademos reduziram o salário mínimo e eliminaram a necessidade de respeitar acordos coletivos. A diminuição dos salários foi de até 15%.
Mesmo assim, a chamada ‘troika’, formada pela União Europeia (UE), o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (FMI), pediu que o custo do trabalho seja reduzido em mais 15% até 2014 e exigiu cortes no setor público de 11,5 bilhões de euros.
A queda do poder aquisitivo, somada às dívidas e escassez de crédito, provocaram o fechamento de mais de 100 mil empresas. E segundo a Confederação Nacional de Comércio Grego, uma a cada três companhias fechou as portas definitivamente em Atenas.
Além disso, a taxa de desemprego chegou a recordes históricos, e em janeiro foi de 21,8%. Esta situação gerou ‘um clima de rejeição geral ao sistema político’, segundo o professor da Universidade de Salônica e conselheiro do instituto de opinião VPRC, Cristoforos Vernardakis, para quem é muito difícil prever o resultado eleitoral.
Mesmo assim, todas as pesquisas dizem que o descontentamento fará com que o novo Parlamento seja muito fragmentado (com até 10 partidos) e que nenhum partido tenha mais de 25% dos votos.
‘A pobreza está muito espalhada, por isso não se pode fazer uma classificação das intenções de voto com critérios de renda. Todo mundo está furioso e por isso surgem intenções de voto a favor de partidos extremistas e a fragmentação do panorama político’, explicou Vernardakis. EFE