Um relatório médico indicou nesta sexta-feira, 17, que pelo menos 22 pessoas, incluindo três monges budistas, foram mortas por tiros à queima-roupa no centro de Mianmar. O caso teria acontecido na última semana em um mosteiro, e oponentes ao regime militar do país afirmam que o incidente foi um massacre conduzido pelo exército.
Zaw Min Tun, porta-voz da junta de Mianmar, que deu um golpe militar há dois anos para depor o governo eleito, disse que soldados se envolveram em um conflito com rebeldes na região de Pinlaung, no sul do estado de Shan, iniciando um tiroteio. Segundo ele, a Força de Defesa das Nacionalidades Karenni (KNDF) e outro grupo rebelde entraram na aldeia de Nan Neint depois que as forças do governo chegaram para “fornecer segurança no local”.
“Quando os grupos terroristas abriram fogo violentamente, alguns aldeões foram mortos e feridos”, afirmou o porta-voz.
O KNDF disse que seus combatentes entraram em Nan Neint no último domingo 11 e encontraram cadáveres espalhados em um mosteiro budista. Junto ao grupo Karenni Revolution Union (KRU), os rebeldes filmaram cenas do suposto massacre, que mostravam buracos de bala nas paredes do mosteiro e corpos baleados no peito e na cabeça. A autenticidade dos vídeos ainda não foi verificada de forma independente.
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Uma equipe médica do Governo de Unidade Nacional, um grupo civil formado depois do golpe em Mianmar e administrado em exílio, fez uma analise dos cadáveres. Seu relatório afirma que as 22 vítimas, entre elas três monges, foram encontradas dentro de um mosteiro, o que tornaria “evidente” que o incidente foi um massacre.
“Como não foram encontrados uniformes, equipamentos e munições militares no restante dos corpos, é evidente que eram civis”, disse o relatório.
A mídia local aponta que a população da região vive uma rotina de combates intensos. Cerca de 100 edifícios foram incendiados dentro e ao redor do local do suposto massacre em Nan Neint.
Mianmar está atolada em uma crise política desde que os militares tomaram o poder por um golpe, em fevereiro de 2021. A medida destituiu o governo da ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, e encerrou uma década de esforços em direção à democracia.
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Em resposta, movimentos de resistência surgiram em todo o país, incluindo algumas forças militares étnicas. O novo governo chama os oponentes de “terroristas” os reprime com força total.
Aung Myo Min, ministro de direitos humanos do Governo de Unidade Nacional, disse que os militares intensificaram as operações de combate e atacaram grupos de civis desarmados em pelo menos quatro ocasiões nas últimas duas semanas. A junta alega que nenhum de seus alvos são civis e afirma que seus só combatem terroristas.
“É claramente evidente que a estratégia da junta é atingir civis, o que é um crime contra a humanidade”, disse Aung.
De acordo com a organização não-governamental (ONG) Associação de Assistência para Presos Políticos, a repressão militar no país já fez pelo menos 3.137 vítimas desde o golpe. As Nações Unidas acusaram os militares de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.