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Sob fantasma da China, Taiwan vai às urnas para eleição de alto risco

País é também assombrado pelo fraco crescimento econômico, por baixos salários e pela ausência de moradia acessível para jovens

Por Paula Freitas Atualizado em 12 jan 2024, 18h55 - Publicado em 12 jan 2024, 17h55

Sereno e sem um fio de cabelo fora do lugar, o presidente da China, Xi Jinping, se dirigiu à população para o tradicional discurso de Ano Novo. Mas os seus votos de “paz e tranquilidade ao mundo” contrastaram com as sérias intimidações proferidas a Taiwan, pequena nação insular considerada por Pequim como parte do seu território. “A reunificação da pátria é uma inevitabilidade histórica”, prometeu, sem aumentar o tom de voz. Com as ameaças frescas na memória, mais de 19 milhões de taiwaneses vão às urnas neste sábado, 13, na mais tensa eleição da história da jovem democracia do país, a partir de 8h. Os resultados só sairão à noite, quando as últimas cédulas forem contadas. 

Além do fantasma chinês, Taiwan é assombrada pelo fraco crescimento econômico, por baixos salários e pela ausência de moradia acessível para os recém-chegados à vida adulta. A dura perspectiva abriu espaço para campanhas presidenciais marcadas pela polarização, trocas de farpas e desinformação –  receita nociva já muito conhecida pelos governos ocidentais. Por lá, criou-se o costume de tratar os presidencialistas como verdadeiras celebridades, com comícios agitados que, por vezes, tiram os holofotes dos verdadeiros problemas para enaltecer a rivalidade. 

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Quem está na corrida

O Partido Democrático Progressista (DPP), que assumiu o governo há oito anos, é alvo de críticas da oposição pela má gestão econômica. No tempo limite de mandato, a presidente Tsai Ing-wen é impedida de concorrer ao novo pleito. No seu lugar, o vice-presidente, Lai Ching-te, chamado por Xi como “criador de problemas’, segue na disputa para dar continuidade às reformas sociais governistas – entre as conquistas, destaca-se a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ele também defende a criação de uma identidade taiwanesa forte, longe das influências chinesas. 

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No páreo, está o ex-chefe de polícia Hou You-yi, do conservador Kuomintang (KMT). Embora comande o coro da oposição, o partido é alvo de desconfianças entre os mais velhos. Após serem derrotados na Revolução Chinesa de 1949, os nacionalistas do KMT fugiram para Taiwan, declararam a legitimidade do seu governo e instauraram um sangrento governo que perdurou por décadas. Numa linha diferente do passado, Hou defende laços econômicos próximos com a China e uma identidade formada a partir de ideais chineses e taiwaneses.

Na terceira via, Ko Wen-je, do Partido Popular de Taiwan, assume protagonismo. Suas promessas de campanha estão centradas em medidas “pão e manteiga”, voltadas para o crescimento salarial e incentivo à moradia. Ko não se debruça em questões relacionadas à China, de forma a atrair a multidão jovem, pouco preocupada com a coação do gigante asiático. Os três candidatos, no entanto, concordam em um ponto: são contrários à anexação demandada por Pequim.

De acordo com uma média de pesquisas de opinião, compilada pela Economist, Lai Ching-te lidera com 36% das intenções de voto, seguido por Huo Yu-ih, com 31%. Ko Wen-je, por sua vez, fica com 24%.

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Futuro de Taiwan

Prevenindo-se para o pior, o governo Ing-wen estreitou os laços com os Estados Unidos para a compra de armamentos – apenas no mês passado, foram US$ 300 milhões cedidos por Washington em equipamentos de comunicação tática. A explicação para o interesse americano extrapola o conto ingênuo do compromisso com a defesa das democracias ao redor do globo. Mesmo frente a contratempos, Taiwan é a 16ª maior economia comercial, responsável pela fabricação de 90% dos chips semicondutores avançados no mundo. Dessa maneira, a tomada de controle da China e a consequente entrada dos EUA na guerra custariam US$ 10 trilhões aos bolsos da economia internacional.

Preocupada com a escalada de violência, a população se recusou a ficar de braços atados. Foram criados grupos de defesa civil e planos de contingência, enquanto parte da iniciativa privada financiou milícias locais para o reforço da segurança em um possível ataque do perigoso vizinho. Para desagrado de Pequim, as últimas pesquisas pré-eleição cravaram a vitória do DPP. O novo mandato, contudo, também trará más notícias para Lai: as estimativas apontam para a perda da maioria na Câmara, criando um novo impasse político. Em um sábado de sol, os taiwaneses depositarão suas cédulas de papel nas urnas. Mas há quem já preveja um futuro nublado sob as sombras de Xi.

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