O veto sino-russo na ONU contra uma resolução condenando a repressão na Síria provocou, neste domingo, indignação no mundo árabe, no Ocidente e entre a oposição, enquanto a violência no país não dá qualquer sinal de arrefecimento.
Após o fracasso dos esforços diplomáticos nas Nações Unidas, os Estados Unidos anunciaram a vontade de reforçar as sanções contra Damasco, para fazer secar as fontes de financiamento e as entregas de armas ao regime do presidente Bashar al-Assad.
A Rússia, aliada de Damasco, impôs no sábado, junto com a China, um veto a uma resolução do Conselho de Segurança condenando a violência, alegando ter “a intenção de fazer todo o possível para conseguir uma estabilização rápida” da situação na Síria.
Moscou confirmou uma visita a Damasco, na terça-feira, de seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, para pedir a colocação em prática, de forma rápida, das “reformas democráticas indispensáveis”.
Para o Conselho Nacional Sírio (CNS), que reúne a maioria das correntes de oposição, o duplo veto dá ao regime “licença para matar”.
A Organização da Cooperação Islâmica (OCI), que possui 57 membros, entre eles a Síria, lamentou os vetos dos quais pode surgir o risco de guerra civil.
No terreno, a violência ainda fez 32 mortos este domingo, entre eles 11 civis e duas crianças de 12 e 14 anos, além de 21 soldados do exército regular, anunciou o Observatório Sírio dos Direitos do Homem (OSDH), com sede em Londres.
Entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado foi registrado um bombardeio de violência inédita, contra a cidade rebelde de Homs (centro), que fez mais de 230 mortos, segundo o OSDH.
O regime desmentiu ter bombardeado Homs e acusou a oposição de ter incitado este “ataque terrorista” para influenciar o voto na ONU.
Apesar do massacre, que foi motivo de protesto nas capitais ocidentais e árabes, a Rússia e a China vetaram o projeto de resolução.
O texto, aprovado por 13 outros membros do Conselho de Segurança, condenava as “violações flagrantes” dos direitos humanos pelo regime sírio, apelando a uma transição democrática, seguindo o plano aprovado pela Liga Árabe no dia 22 de janeiro.
Foi a segunda vez que Moscou e Pequim impediram o Conselho de Segurança de sair de cerca de 11 meses de silêncio sobre a Síria, durante os quais a repressão fez pelo menos 6.000 mortos, segundo os militantes. Em outubro, os dois países já tinham bloqueado um projeto de resolução anterior.
O novo veto, destinado a permitir “a busca de uma solução pacífica para a crise síria (…), poupa também o povo de novos confrontos e vítimas”, afirmou a agência oficial chinesa Nova China.
Mas o argumento não convenceu e os dois países atraíram vivas críticas das potências ocidentais, dos países árabes e da oposição síria.
Os braços jordaniano e sírio da Irmandade Muçulmana, por exemplo, pediu o boicote a produtos russos e chineses.
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, anunciou que sua organização daria prosseguimento aos seus esforços junto ao regime sírio e à oposição para pôr fim às violências na Síria e evitar uma intervenção militar estrangeira.
O veto sino-russo “não impede um apoio internacional claro às decisões da Liga”, insistiu Arabi em um comunicado.
Muitos sírios protestaram em frente às suas embaixadas ao redor do mundo durante o final de semana, particularmente em Cairo, Kuwait, Atenas, Berlim, Londres e Canberra. Outros demonstraram sua ira diante das embaixadas na Rússia, em Trípoli e Beirute.