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Saída americana do Afeganistão resulta em cenas de terror e desespero

A tensão no aeroporto de Cabul alcançou o ápice na quinta-feira 26, quando ataque terrorista deixou um rastro de mortes

Por Ernesto Neves Atualizado em 31 ago 2021, 10h25 - Publicado em 27 ago 2021, 06h00

Depois que os fanáticos religiosos do Talibã se apossaram do palácio presidencial e voltaram ao poder no Afeganistão, em 14 de agosto, o aeroporto da capital, Cabul, virou o cartão-postal da atabalhoada retirada das tropas americanas do país e de um drama humanitário que a cada dia ganha contornos mais cruéis. O que era para ser uma bem organizada partida, com data marcada havia um ano, ainda no governo Donald Trump, transformou-se em uma corrida para evacuar gente desesperada, sobretudo aqueles que ajudaram os Estados Unidos em duas décadas de ocupação, desde o fatídico 11 de setembro de 2001. Agora, estão cheios de medo — e com razão.

“O Talibã está enviando cartas ameaçadoras a todos que considera inimigos do regime”, disse a VEJA Chris­tian Nellemann, da consultoria Rhipto, centro de estudos noruegueses atrelado a causas da ONU. Ameaça, neste caso, é o melhor dos cenários. Nos últimos dias, integrantes da milícia radical batem de porta em porta nas casas dos “colaboracionistas”, com registros de espancamentos, tortura e até morte, como ocorreu com o parente de um jornalista alemão.

BARREIRA - A Grécia constrói muro: a ideia é evitar a vinda maciça de afegãos -
BARREIRA - A Grécia constrói muro: a ideia é evitar a vinda maciça de afegãos – (Nicolas Economou/Getty Images)

A tensão no aeroporto, onde já não havia comida nem água e o calor inclemente sufocava os milhares que aguardavam a chance de embarcar, alcançou o ápice na quinta-feira 26, quando duas explosões bem ali ao lado deixaram um rastro de mortes, inclusive de soldados americanos, em ataques que teriam sido executados por homens-bomba ligados ao Estado Islâmico. Em meio à agonia provocada pela escassez de tempo, fruto de uma operação mal calculada pelo governo Joe Biden, a Casa Branca cogitou esticar o prazo, na próxima terça-feira, 31, para a retirada total de suas tropas, mas os fundamentalistas refutaram bradando que atrasos trariam “consequências”. Em reunião virtual com Biden, líderes do G7, o grupo dos mais ricos, externaram a necessidade de expandir a janela que se fecha para tirar as pessoas da terra dominada pelos mulás. Não deu em nada.

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Até agora, 82 000 conseguiram assento em aviões, mas o dobro disso solicitou vistos especiais para os Estados Unidos — o que dá uma dimensão do desafio por vir. A luta para embarcar começa nas estradas que levam ao aeroporto, vigiadas pelo exército talibã. Vencido o bloqueio, mesmo os que têm o visto para ir embora precisam furar a multidão — 21 já morreram nessa guerra à parte, espremidos em portões ou alvos de tiroteios. Famílias têm se separado, arranjando lugar em voos diferentes. Crianças às vezes acabam viajando sozinhas.

Como costuma acontecer quando uma crise migratória se apresenta, as portas do mundo nunca se abrem na medida da demanda. De acordo com o secretário de Estado americano Antony Blinken, pelo menos treze países do Ocidente se prontificaram a ajudar, mas em muitos casos pairam incertezas sobre quantas pessoas acolherão e o tempo de permanência delas em seu território. “Mesmo quem conseguir chegar aos Estados Unidos poderá vir a enfrentar anos de processo legal até obter o asilo”, afirma Hemanth Gundavaram, da Universidade Northeastern. Os que rumarem para a Grécia, tradicional rota de ingresso à Europa, vão dar de cara com um muro de 40 quilômetros, recém-erguido justamente para barrá-los. Enquanto isso, o Talibã tenta dar roupagem moderna — posando com uniformes e rifles deixados para trás pelos americanos — àquilo que, na essência, não parece se distinguir da velha milícia que comandou o país entre 1996 e 2001. As mulheres já foram alertadas para não irem ao trabalho porque os soldados “não estão preparados para respeitá-­las”. Não se deram conta de que vivem no século XXI.

Publicado em VEJA de 1 de setembro de 2021, edição nº 2753

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