Autoridades russas e ucranianas assinaram nesta terça-feira uma série de acordos com o objetivo de reforçar a cooperação industrial e o comércio bilateral. A Rússia também aceitou conceder à Ucrânia um desconto no preço do gás natural e se dispôs a pagar 15 bilhões de dólares (34,7 bilhões de reais) por títulos da dívida do governo ucraniano. Com as negociações sobre novos empréstimos da Ucrânia com o Fundo Monetário Internacional (FMI) paradas, Kiev precisava de assistência financeira urgente nos próximos meses para manter sua economia em funcionamento.
Há meses a Ucrânia oscilava entre Rússia e União Europeia (UE) (leia mais no quadro abaixo) em busca do melhor acordo. Moscou agiu mais rápido e atraiu Kiev para sua esfera de influência. Os documentos assinados hoje em Moscou incluem um pacto para solucionar disputas em questões de comércio entre os dois países, uma parceria para atualizar um modelo de avião de transporte da era soviética, um acordo de cooperação industrial e um projeto para a construção de uma ponte sobre o Estreito de Kerch – ao norte do Mar Negro, entre Ucrânia e Rússia.
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Antes do anúncio do acordo, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, disse ao mandatário russo, Vladimir Putin, que os dois países devem desenvolver uma parceria estratégica, apesar dos protestos contrários a essa aproximação. “Não devemos parar e devemos continuar a desenvolver nossa parceria estratégica”, disse Yanukovych. “A Rússia e a Ucrânia estão unidos por muitos séculos de amizade e por terem vivido muito tempo juntos”, disse Putin, em referência ao passado comum imperial e depois à extinta URSS. (Continue lendo o texto)
Ao longo das últimas semanas, opositores de Yanukovych têm protestado sistematicamente contra a decisão do governo de desistir de um acordo para aprofundar as relações com a União Europeia (UE) e acompanham a reaproximação entre Kiev e Moscou. Líderes da oposição ucraniana prometiam intensificar os protestos se Yanukovych assinasse qualquer acordo que aproximasse o país de Moscou. A Rússia se opõe fortemente à aproximação da Ucrânia com a UE. Além de fazer pressão contra a assinatura do acordo com Bruxelas, que deveria ter sido assinado em Vilna, capital da Lituânia, no mês passado, Moscou encoraja Kiev a participar de uma união tarifária com Rússia, Bielo-Rússia e Cazaquistão. Yanukovych, que vem do extremo leste do país, área de maior influência russa, é constantemente acusado de se curvar aos interesses de Moscou. Ele foi alfabetizado em russo e aprendeu ucraniano para poder entrar na política.
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Protestos – Antes de Yanukovych embarcar para Moscou, centenas de manifestantes ocuparam a principal via de acesso ao aeroporto de Kiev. “Yanukovych, dê meia volta no avião para a Europa”, dizia um dos cartazes. No domingo, apesar da neve e da temperatura abaixo de zero, os manifestantes em prol da aproximação com a UE reuniram 200.000 pessoas para pedir a renúncia do presidente.
(Com agência France-Presse e Estadão Conteúdo)