Três remessas de canabidiol importadas dos Estados Unidos por pacientes brasileiros foram confiscadas pela alfândega americana nos últimos trinta dias por causa de um conflito em diferentes leis americanas sobre o comércio exterior do produto. Cada carga está estimada em 1.000 dólares
O composto à base de maconha não é produzido no Brasil e só pode ser importado com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É usado no tratamento de várias doenças, entre elas as crises convulsivas. Afetados pela apreensão, pacientes que dependem da medicação estão sofrendo pioras em suas condições de saúde.
Inicialmente, os pacientes e a empresa importadora do produto supuseram que as remessas de canabidiol teriam sido furtadas ao chegarem no Brasil. Isso porque as caixas foram entregues lacradas na casa dos clientes, mas sem o medicamento. Dentro, estavam apenas isopor e a capa de alumínio que protege o produto. A Polícia Federal brasileira chegou a abrir um inquérito para investigar o sumiço dos frascos de canabidiol.
A UPS, empresa transportadora dessas remessas, informou que os produtos não haviam sido furtados, mas, interceptados pela agência americana de Controle de Aduanas e Fronteiras (CBP) no Aeroporto de Louisville, no Estado do Kentucky.
Em nota, a CBP afirma que “embora o uso de maconha, principalmente para fins medicinais, tenha sido descriminalizado em algum grau por alguns estados dos EUA, a venda, posse, produção e distribuição de maconha continuam sendo ilegais sob a lei federal” do país. O órgão não informou por que apenas essas três encomendas foram confiscadas sob essa alegação, se dezenas de outras remessas do tipo são regularmente enviadas para o Brasil todos os meses.
A UPS afirmou que está “cooperando com a CBP e trabalhando juntamente com nossos clientes, para que eles tenham todas as informações a respeito das circunstâncias do conteúdo confiscado de suas remessas”.
Um dos pacientes prejudicados é Lázaro Medina Souza, de 23 anos, que sofre de epilepsia grave desde os cinco anos de idade e toma o canabidiol para controlar as crises convulsivas. “Nós já tínhamos tentado de tudo, eram umas vinte crises por dia. Depois que começamos com o canabidiol, praticamente zerou. Agora já estamos há dez dias sem o remédio e ele voltou a ter crises. Em uma delas, ele caiu da cama e se machucou. Nós, que somos pais, não sabemos o que fazer”, conta Valdenia Medina Sousa.
Outro paciente afetado pelo problema é o garoto Felipe da Silva Marra, de 6 anos, que sofre de uma síndrome genética rara e usa o canabidiol há dois anos. “Além de controlar as crises convulsivas, o remédio ajudava na parte cognitiva e na irritabilidade. Com o canabidiol, ele fica mais feliz, mais sociável”, comenta a fisioterapeuta Viviane Ferreira Marra, mãe do menino.
Nova remessa
Representante da CBDRx Functional Remedies no Brasil, uma das fabricantes do produto nos Estados Unidos, Cassio Ismael disse que a empresa envia o produto para o país há três anos e que o confisco nunca havia acontecido. De qualquer forma, a fabricante já providenciou outras três remessas de produto para os pacientes prejudicados.
“Isso deve ser apurado rigorosamente para que não falte medicamento para os pacientes. O absurdo é não haver notificação nenhuma (do confisco) nem para a empresa que está vendendo nem para o paciente”, declarou.
(Com Estadão Conteúdo)