Preparativos para pós-Brexit viram missão impossível em alfândegas
Empresas se apressam para se adaptar as novas regras comerciais que irão valer a partir de 2021; há risco de desabastecimento
Enquanto o acordo comercial pós-Brexit é votado no Parlamento, o porto de Dover, no Canal da Mancha, vive uma situação de caos nesta quarta-feira, 30. Funcionários portuários estão sobrecarregados com o volume de tarefas exigidas pela nova burocracia que entrará em vigor em 1 de janeiro.
Para as importações, “nossos clientes devem entregar um novo documento para o Reino Unido”. Mas, para as exportações, “agora devemos tratar com 27 países diferentes”, diz Karen Strand, uma agente alfandegária no porto. “Em uma palavra, é o caos absoluto”, descreve.
A maior mudança para a agência de Strand e seus clientes é a “garantia de trânsito”, que agora é obrigatória. É uma quantia de dinheiro exigida pelo país em que a carga está transitando, “assim que um produto britânico pisar no continente europeu”, como garantia em caso de possíveis inadimplências, ou de irregularidades alfandegárias.
“Trabalhamos em tempo integral, mas não é o bastante. Temos de rejeitar contratos e dizer não aos novos clientes”, lamenta a agente.
Os problemas no porto, o maior do Reino Unido e principal hub comercial entre a ilha e o continente, não se limitam à nova burocracia exigida. O setor do varejo britânico já avisou aos parlamentares que o país poderá sofrer escassez nas prateleiras nos primeiros meses do pós-Brexit, porque o acordo final foi firmado em cima da hora e os lojistas não tiveram tempo para se preparar.
Após a aprovação do Brexit no Parlamento britânico em janeiro, as relações comerciais entre o país e o bloco passaram a ser regidas por regras europeias, mas de forma transitória, sendo que o prazo final é o dia 31 de dezembro às 20h. Os negociadores somente chegaram a um acordo de novas normas para substituir a legislação europeia no dia 24 de dezembro, na véspera de Natal.
Para ser ratificado a tempo de evitar um Brexit sem acordo, as duas Câmaras do Parlamento britânico estão votando nesta quarta o acordo de 1.200 páginas para que a rainha Elizabeth II possa assiná-lo. Aprovar não será um problema, uma vez que até mesmo a oposição do partido Trabalhista declarou apoio à legislação.
No entanto, os problemas para o Reino Unido ainda estão longe de acabar, uma vez que a Escócia votou contra o Brexit no referendo de 2016 e agora ameaça declarar independência do restante do território britânico e entrar novamente na União Europeia.
(Com AFP)