Premiê grego reconhece vitória de partido de esquerda
Syriza promete renegociar a dívida do país, que soma 240 bilhões de euros, e diz que irá reverter muitas das reformas exigidas por credores internacionais desde 2010
(Atualizado às 20h30)
Após as pesquisas de boca de urna apontarem a vitória do partido de extrema esqueda Syriza nas eleições legislativas gregas neste domingo, o primeiro-ministro do país, Antonis Samaras, admitiu a derrota do seu partido de centro-direita, o Nova Democracia, e reconheceu o resultado do pleito. “Os gregos falaram, e respeitamos sua decisão”, afirmou na noite deste domingo. “Deixo um país que está saindo da crise e é membro da União Europeia e da zona do euro. Pelo bem deste país, espero que o próximo governo mantenha estas conquistas”, disse Samaras.
O partido de esquerda que deve ganhar as eleições tem como principal bandeira o fim do programa de austeridade, assumido pela Grécia em troca de auxílio financeiro para pagar as suas dívidas. O líder do Syriza, Alexis Tsipras, já afirmou que o país deixou “para trás a austeridade desastrosa”, e anunciou que pretende negociar “uma nova solução, viável” para a Grécia e Europa.
Pesquisas de boca de urna divulgadas na tarde deste domingo indicavam uma vitória do Syriza, que teria obtido entre 35% e 39% dos votos; enquanto que o Nova Democracia aparecia com uma votação entre 24% a 27%.
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Ainda não está claro se o Syriza obteve a quantidade necessária de votos para governar com maioria parlamentar. Caso não obtenha, será obrigado a fazer alianças para formar um governo de coalizão.
O Syriza promete renegociar a dívida do país, que soma 240 bilhões de euros, e afirma que irá reverter muitas das reformas exigidas por credores internacionais desde 2010. Tsipras declarou que não se considera vinculado às exigências da troika de credores – União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) – que, em troca de ajuda financeira, impôs um plano de austeridade econômica.
As promessas de acabar com o período de austeridade na Grécia têm atraído muitos eleitores, descontentes com a deterioração de seu padrão de vida e aumento dos impostos. A retórica contra os resgates internacionais, no entanto, renova dúvidas de investidores sobre se a Grécia será capaz de sair de sua crise financeira. Autoridades europeias temem que, caso o Syriza vença as eleições, o país volte a ser o epicentro de uma crise no continente.
Para conseguir colocar suas ideias em prática, o Syriza precisa obter maioria absoluta no Parlamento. Pelas regras eleitorais gregas, o partido vencedor na votação ganha automaticamente 50 assentos extras, de um total de 300 integrantes – uma medida que tem como objetivo facilitar a estabilidade de um governo eleito. Como possível aliado figura o To Potami (O Rio), fundado há apenas um ano, que pretende ser o terceiro partido da Grécia. Pesquisas atribuem a ele 6% dos votos. Outro partido que aspira um terceiro lugar é a formação neonazista Amanhecer Dourado. Apesar de ter sete deputados e dezenas de seus membros presos sob a acusação de “pertencer a uma organização criminosa”, o partido mantém uma alta intenção de voto. Em caso de fracasso na formação de um governo, os gregos terão de votar novamente em março.
(Com Estadão Conteúdo e France-Presse)