Quatro anos após a aprovação de uma lei que deu direitos políticos integrais às mulheres no Kuwait, a eleição de quatro kuwaitianas para o Parlamento trouxe fortes sinais de mudanças. No entanto, a repercussão do resultado indica que o país ainda está longe de conceder igualdade de direitos entre os sexos, já que a eleição chegou a ser contestada. O motivo? Duas das vencedoras teriam violado a legislação eleitoral por não usarem véu.
Entre as dez candidatas, a mais votada foi Masouma al-Mubarak, cientista política e ex-professora que também foi a primeira mulher a ocupar um cargo de ministra no Kuwait. Salwa al-Jasser, professora da Universidade do Kuwait e chefe de uma ONG local, ficou em 10º lugar no segundo distrito. No terceiro distrito, as vitórias foram para a economista Rola Dashti, na 7ª posição, e para a professora de filosofia Aseel al-Awadi, na 2ª.
Segundo reportagem do jornal The Guardian, todas as quatro eleitas são doutoradas em universidades americanas e concorreram de forma independente. Elas vieram dos três principais distritos eleitorais urbanos, embora uma quinta candidata, que apesar de bem votada, não foi eleita, tenha recebido 6.635 votos em uma seção eleitoral tribal. Das quatro, duas são xiitas e duas são sunitas – e apenas uma de cada vertente usa hijab.
A ameaça contra a candidatura de Rola e Aseel, que não usam véu, partiu de uma emenda de última hora que determina que as candidatas mulheres – e só elas – devem obedecer à lei islâmica. Tal regra não ficou clara na ocasião, mas agora ela dá margem a diversas interpretações. Além disso, outros obstáculos têm dificultado o ingresso das mulheres na política. Uma fatwa expedida por um clérigo durante a campanha, por exemplo, dizia que era pecado uma mulher concorrer às eleições – assim como votar para uma.