Oposição a Chávez vence mas não leva
Partidos contrários ao ditador anunciam ter 52% dos votos - mas matemática eleitoral dá maioria ao PSUV. De qualquer forma, chavismo saiu enfraquecido
Ses confirmados, os números são preocupantes para Chávez. Desta vez, porém, ele escapa de perder o poder. Em virtude de uma polêmica lei, a oposição pode ganhar no número de votos mas perder no número de deputados
Ele cantou vitória mais uma vez, mas ganhou motivos de sobra para se preocupar. Hugo Chávez seguirá tendo maioria parlamentar depois das eleições legislativas de domingo na Venezuela, mas sem a margem necessária para governar com a autonomia que desejava. Pior ainda para ele é a notícia de que a oposição conquistou a maioria dos votos no pleito do fim de semana, um sinal de que a população está dividida em relação à permanência do chavismo no poder.
Em número de cadeiras, o partido do ditador venezuelano venceu as eleições, conquistando pelo menos 94 deputados de um total de 165, mas terá que dividir o poder com a oposição, que obteve mais de um terço das cadeiras – e, muito mais importante, disse ter recebido 52% dos votos na contagem geral. O resultado não se traduz em maioria parlamentar para a oposição por causa da complicada matemática envolvida no pleito, mas ainda assim é visto como revés para Chávez.
Oito horas após o fim da votação, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgou resultados incompletos mas reveladores, segundo os quais o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, governista) teria pelo menos 94 deputados, a oposição no mínimo 60 e o partido de esquerda Patria Para Todos (PPT), dois. Desta forma, Chávez não alcançou o objetivo de conseguir dois terços das cadeiras, essencial para levar adiante seu projeto de socialismo do século XXI.
Chávez queria uma vitória convincente no domingo para chegar fortalecido na eleição presidencial de 2012, quando pretende ser reeleito para um terceiro mandato de seis anos. Com 110 deputados, o que representa dois terços da Assembleia Nacional, o PSUV teria condições de aprovar sem dificuldades leis orgânicas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, assim como nomear, sem debate prévio, os titulares dos demais poderes públicos.
“Foi uma grande jornada e conseguimos uma sólida vitória. Suficiente para continuar aprofundando o socialismo bolivariano e democrático. Devemos continuar fortalecendo a revolução!”, afirmou Chávez no Twitter. Ele não apareceu em público após a divulgação dos resultados. O CNE, no entanto, não divulgou o dado essencial: o total de votos recebidos por cada força política. Segundo a oposição, porém, os candidatos contrários a Chávez receberam 52% dos votos.
Se confirmado, o número é preocupante para Chávez. Desta vez, porém, ele escapa de perder o poder. Em virtude de uma polêmica lei eleitoral aprovada há poucos meses, a oposição pode ganhar no número de votos mas perder no número de deputados. A lei determina que os estados com população menor, onde Chávez é mais popular, tenham uma representação no Parlamento similar à dos estados com maior população, que atualmente são governados pela oposição.
(Com agência France-Presse)
Leia no blog do Reinaldo Azevedo:
O objetivo dos oposicionistas era para tirar do tiranete os dois terços que lhe permitem aprovar o que lhe dá na telha. Alcançaram com sobra. O resultado é formidável. Como lembra o Washington Post em editorial, apesar do domínio que Chávez tem dos meios de comunicação e do pesado uso da máquina nos distritos eleitorais, a oposição passa a ter força para pôr um freio em suas iniciativas mais radicais. Vamos ver.