O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, encontrou-se-se nesta sexta-feira, 5, com o marechal líbio Khalifa Haftar, comandante do Exército Nacional Líbio (LNA), em uma tentativa de demovê-lo de seu objetivo de tomar Trípoli e derrubar à força o Governo de União Nacional (GNA). O Conselho de Segurança da ONU se reunirá ainda hoje para tratar da escalada do conflito na Líbia.
A reunião acontece 24 horas depois de Haftar ter ordenado às suas tropas o início da conquista de Trípoli. “Chegou a hora”, afirmou em áudio divulgado em sua conta no Facebook na quinta-feira 4, quando um comboio armado do LNA estava a 27 quilômetros de Trípoli, pronto para controlar o posto da entrada oeste da capital líbia.
Nesta sexta-feira, porém, milícias rivais das cidade de Zawiya, a 20 quilômetros de Trípoli, e de Misrata entraram em confronto com as tropas do LNA e recuperaram o controle do posto. Dezenas de combatentes fiéis ao marechal Haftar foram feitos prisioneiros, e a milícia apreendeu seus veículos. Fotos desses “prisioneiros” sentados no chão em um local desconhecido circulam nas redes sociais.
A ação de defesa a Trípoli deixou claro que tomar a capital não será fácil para o marechal.
António Guterres havia se encontrado na quinta-feira com o primeiro-ministro líbio Fayez Sarraj, do Governo de União Nacional. Os resultados de sua reunião com o marechal Haftar, homem forte do leste do país, não foi ainda divulgado. Segundo fontes diplomáticas, Guterres foi recebido no quartel-general de Haftar na cidade de Ar Rajma, a leste de Benghazi, capital do leste e segunda cidade mais importante da Líbia.
“Ambos analisarão a situação vivida em Trípoli”, explicou uma das fontes, sem dar mais detalhes.
Membro da cúpula militar que, em 1969, levou ao poder o ditador Muamar Kadafi, Haftar se tornou o principal opositor do regime no exílio depois de ter sido recrutado pela CIA na década de 1980 e se estabelecido nos Estados Unidos.
Haftar retornou à Líbia em março de 2011, quase um mês depois do início da revolução que derrubou Kadafi. Infiltrou-se nas forças rebeldes até conseguir ser nomeado chefe do LNA pelo governo de Toubruk. Em 2014, ele lançou uma ofensiva para conquistar as cidades de Derna, reduto do jihadismo na Líbia, e Benghazi, o que lhe deu o controle também sobre o golfo de Sidrá e o porto de Ras Lanuf, fundamental para a indústria petrolífera do país.
Em fevereiro, suas tropas tomaram o controle da região sul do país e das estratégicas jazidas petrolíferas de Al Sharara e Al Fil, essenciais para a sobrevivência econômica e energética do governo de Trípoli, que Haftar não reconhece como legítimo. Desde 2015, o país está claramente dividido. O lado oeste é governado por Saraj. O leste, por Haftar.
Meses atrás, o marechal insistiu que seu objetivo final era a conquista de Trípoli, que lhe daria o domínio de todo o país – com exceção de Misrata – após mais de meia década de divisão política e guerra civil.
Reação internacional
Temendo que a situação saia do controle, a Rússia alertou “para o risco de um novo banho de sangue” na Líbia e pediu uma “solução pacífica e política” para o conflito. Mais cedo, Estados Unidos, França, Reino Unido e Emirados Árabes haviam pedido a todas as partes envolvidas no conflito o arrefecimento das tensões.
“Neste momento delicado da transição na Líbia, a postura militar e as ameaças de ações unilaterais só fazem aumentar o risco de que a Líbia volte a mergulhar no caos”, indicaram os governos destes países em um comunicado difundido pelo Departamento de Estado em Washington.
A nova escalada ocorre antes de uma Conferência Nacional patrocinada pela ONU a fim de estabelecer um roteiro para a realização de eleições e, assim, tentar acabar com o impasse. O evento está marcado para meados de abril em Ghadamès (sudoeste líbio),
(Com EFE e AFP)