ONU investiga ao menos 14 ataques químicos na Síria
Equipe de investigadores relata horror vivido pela população do país: de um lado, a escalada dos crimes de guerra por parte de jihadistas. Do outro, bombardeiros de Assad contra escolas
Por Da Redação
16 set 2013, 11h34
A comissão criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para investigar as violações de direitos humanos cometidas durante a guerra civil que assola a Síria há mais de dois anos informou nesta segunda-feira que apura a ocorrência de pelo menos catorze ataques químicos no país. As ações teriam ocorrido desde setembro de 2011, quando a comissão começou a monitorar a situação na Síria.
Em seu relatório, a comissão ainda relata a escalada dos crimes de guerra perpetrados por grupos extremistas islâmicos de oposição ao regime do ditador Bashae Assad e combatentes estrangeiros em ação no país. “Brigadas inteiras são agora formadas por combatentes que entraram na Síria. O Al Muhajireen é uma das mais ativas”, informou o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, chefe da equipe de investigação, ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. As Brigadas de Al-Muhajireen são um grupo jihadista formado para participar do conflito sírio e filiado ao extremista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, ligado à rede terrorista Al-Qaeda.
O conflito sírio se arrasta desde março de 2011, e já provocou a morte de 100 000 pessoas, segundo estimativa da ONU divulgada em junho.
Pinheiro relatou denúncias e evidências do assassinato, por parte de opositores extremistas, de soldados em pelo menos uma localidade, de civis curdos em pelo menos três episódios diferentes e de massacres em redutos alauítas, a minoria da qual faz parte a família do ditador Bashar Assad.
Jihadistas – Os investigadores haviam dito anteriormente que combatentes estrangeiros de mais de dez países, incluindo Afeganistão e a região russa da Chechênia, atuavam na Síria. “Agora deve haver mais. A questão é que esses elementos extremos possuem sua própria agenda. Certamente, não é uma agenda democrática que querem impor”, disse o membro da comissão Vitit Muntarbhorn.
Segundo a comissão, os rebeldes extremistas sequestraram centenas de curdos ao Norte de Aleppo, em Al Raqqah, e em Al Hasakah, para trocá-los por presos opositores. Os crimes denunciados pela comissão correspondem unicamente ao período compreendido entre o final de julho e o início de agosto deste ano.
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As revelações da escalada de violência por parte dos rebeldes coincidem com a revelação nesta segunda-feira de um estudo feito pela consultoria de defesa IHS Jane’s, que, segundo reportagem do jornal britânico Daily Telegraph, estimou que quase metade dos 100 000 rebeldes sírios são formados por membros de grupos extremistas jihadistas ou de islâmicos linha-dura. Segundo o estudo, os rebeldes que agem no país estão fragmentados em quase 1 000 bandos armados.
“A insurgência agora está dominada por grupos que têm ao menos um ponto de vista islâmico do conflito”, afirma Charles Lister, autor do estudo, citado pelo jornal. “A ideia de que são grupos seculares, em sua maioria, os que dirigem a oposição simplesmente não se confirma”, acrescentou o especialista.
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Governo – No mesmo relatório da ONU, a equipe de Pinheiro também denunciou as forças do do ditador Bashar Assad por bombardeios indiscriminados contra civis e por praticar sistematicamente a tortura em centros de detenção, inclusive contra crianças. “O governo continuou sua incansável campanha de bombardeios aéreos e ataques com artilharia em todo o país. Documentamos ataques ilegais em doze dos catorze estado da Síria, segundo Pinheiro.
Pinheiro também descreveu que os bombardeios convencionais foram particularmente intensos em Damasco, Homs e Aleppo, assim como nas zonas rurais destas três cidades, enquanto “armas de fragmentação (banidas por algumas normas internacionais) continuam sendo usadas em Idlib”.
Para exemplificar a dimensão do horror que vive a população síria, Pinheiro descreveu o ataque contra uma escola ocorrido em 26 de agosto em uma zona de Aleppo. O resultado do ataque foi registrado por uma equipe da BBC. Nas imagens apareciam crianças queimadas.
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“Uma bomba incendiária foi lançada de um avião, o fogo matou imediatamente oito alunos e outros cinquenta, entre 14 e 17 anos, sofreram terríveis queimaduras em 80% do corpo. Muitos deles não sobreviverão. Não há evidência de que houvesse nenhum alvo próximo da escola”, denunciou Pinheiro.
(Com agências EFE e Reuters)
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