Convidados a participar da 22ª Cúpula de economias do fórum Ásia-Pacífico (Apec), na capital chinesa Pequim, Barack Obama e Vladimir Putin tiveram três breves e desconfortáveis conversas nos bastidores do evento, nesta terça-feira. Os presidentes de Estados Unidos e Rússia haviam conversado pessoalmente pela última vez em junho, quando se encontraram em uma cerimônia organizada na França para lembrar os setenta anos do Dia D, um importante episódio na II Guerra Mundial. Desta vez, os chefes de Estado se encontraram por cerca de 20 minutos, nos quais foram debatidas as relações bilaterais e questões diplomáticas envolvendo o Irã, Síria e Ucrânia.
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As relações entre Estados Unidos e Rússia atingiram neste ano o nível mais baixo desde a Guerra Fria, após Washington discordar do apoio militar e logístico que Moscou tem fornecido aos separatistas que lutam contra o Exército ucraniano no leste do país. Devido ao envolvimento russo na crise, os Estados Unidos e a União Europeia aplicaram duras sanções econômicas contra importantes funcionários do governo e das Forças Armadas russas. O conflito na Ucrânia também culminou na exclusão da Rússia do último encontro das potências do G8, em março. A reunião deveria ter ocorrido na russa Sochi, mas foi movida para Bruxelas sem a presença de Putin.
Segundo jornalistas presentes na Apec, Obama e Putin deixaram transparecer o desconforto que sentem ao conversarem pessoalmente. Em determinado momento, o presidente Xi Jinping convidou os participantes a irem até as margens de um lago para dar prosseguimento à convenção. Os mandatários americano e russo andaram até o local ao lado de Xi, ambos sem sorrir. Putin, então, tentou quebrar o gelo. “É bonito, não?”, disse, em inglês. “Sim”, respondeu Obama, friamente. Antes de procurarem os seus assentos, Putin deu um ‘tapinha’ no ombro de Obama, que praticamente não reagiu à nova interação do presidente russo.
Ainda nesta semana, Putin e Obama voltarão a se encontrar pessoalmente. Os chefes de Estado participarão do encontro do G20 em Brisbane, na Austrália. Mesmo que voltem a se reunir, os presidentes dificilmente conseguirão resolver suas divergências. Além da atuação direta dos russos na crise ucraniana, os Estados Unidos também reclamam do apoio dado pelo governo de Putin à ditadura síria de Bashar Assad e ao regime dos aiatolás do Irã.
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China – Obama também aproveitou a viagem à China para conversar pessoalmente com o presidente chinês Xi Jinping. Em declarações dadas separadamente, os representantes diplomáticos de Washington e Pequim disseram que os países “avançaram” em eliminar tarifas sobre seus produtos de tecnologia. Ambos os governos já haviam concordado em adotar uma nova e recíproca política de vistos para turistas e empresários nos próximos dez anos. O acordo permite que os cidadãos americanos e chineses possam viajar aos países com apenas um visto no passaporte durante uma década.
Na segunda-feira, Obama se pronunciou sobre os protestos pró-democracia de estudantes de Hong Kong que têm sido sistematicamente reprimidos por Pequim. O presidente americano se esquivou de qualquer declaração que pudesse criar um desconforto com Xi Jinping e disse que, embora a China não concorde necessariamente com a visão dos Estados Unidos sobre o teor das manifestações, Washington espera que as tensões não culminem em episódios violentos. “Obviamente a situação entre China e Hong Kong é historicamente complicada e passa por um processo de transição”, disse Obama, segundo o jornal The New York Times. “Não esperamos de forma alguma que a China siga o modelo americano, mas continuaremos mantendo preocupações com relação aos direitos humanos.”