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O efeito Venezuela

País em que cidadãos comem cachorro mete medo real

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 28 set 2018, 08h00 - Publicado em 28 set 2018, 08h00

É difícil decidir qual cena causa mais choque: a grotesca comilança de Nicolás Maduro numa escala misteriosa na Turquia ou o esquartejamento de um cachorro no meio da rua, picado por um cidadão venezuelano que vende pedaços de carne canina em sacos plásticos, levados rapidamente por pessoas tão desesperadas quanto ele. Raramente a situação num país estrangeiro teve tantas repercussões no Brasil como a do remoto vizinho, seja pelo súbito fluxo de fugitivos da fome, seja pelo peso do “efeito Venezuela” na eleição presidencial. “Virar uma Venezuela” transformou-se numa ameaça mais concreta do que “virar Cuba” por motivos evidentes: o chavismo não tomou o poder por meio de revolução armada, mas através do voto e de um programa de distribuição de benefícios.

Diminuir a pobreza via subsídios e colocar um médico cubano ao alcance dos mais necessitados foram alguns dos elementos que escoraram, durante certo tempo, o biombo de ilusões atrás do qual se escondia a espiral da morte. Da Patagônia à Amazônia, a conta do populismo de esquerda continua a ser paga porque a bomba tem efeito retardado. Nenhum governante do pós-chavismo tem coragem ou condições políticas de reestruturar as bondades insustentáveis — e a quantidade de candidatos a presidente do Brasil prometendo aumentá-las mostra como o neologismo “Brazuela” não surgiu por acaso. Diante da catástrofe sem fim que transformou venezuelanos comuns em comedores de lixo, de cachorro ou, quando ainda existem, de animais de zoológico, eliminar adjetivos exige um considerável autocontrole intelectual. Vamos fazer uma tentativa com um resumo das notícias mais recentes sobre a Venezuela:

• Mais de 900 000 pessoas têm plano de deixar o país ainda neste ano. O número aparece numa pesquisa da consultoria Meganálisis. O motivo é explicitado em outros resultados da pesquisa. Só 3% dos entrevistados fazem três refeições por dia. “Há dias em que comemos uma só vez” foi a resposta de 30,5%. Um número quase igual — 28,5% — cravou que “há dias em que não comemos nada ou quase nada”.

Outra pesquisa registra que 64% dos venezuelanos perderam em média 11 quilos no último ano. É o único emagrecimento coletivo ocorrido na era atual em um país sem guerra nem seca catastrófica, fora Cuba da época do “período especial”, quando a ajuda da União Soviética desapareceu. Como a Venezuela importa 70% da comida, não há soluções próximas.

• Pode chegar a vinte anos a pena por “incitação ao ódio”, delito no qual foram enquadrados os dois bombeiros da cidade de Mérida presos por fazer um vídeo em que aparece o passeio de um burro por uma estação local de combate ao fogo. Na narração, o bicho é chamado de “presidente Maduro”, uma brincadeira com o apelido de “Maburro”.

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• “Não vou responder. Você baixou o nível. Isso sim vai viralizar nas redes”, disse Maburro, quer dizer, Maduro, a um jornalista que perguntou sobre o caso dos bombeiros.

• Viralizou. Inerte ou ativo, o vírus populista não sai das veias abertas da América Latina.

Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2018, edição nº 2602

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