Não é só Catalunha: conheça cinco regiões separatistas inusitadas
Além de 54 territórios autônomos não reconhecidos internacionalmente, incluindo Curdistão Iraniano e Tibete, existem centenas de movimentos separatistas
No último mês, o movimento separatista da Catalunha, região autônoma da Espanha, ganhou destaque mundial. As atenções se voltaram para o tema não apenas em razão do conflito político espanhol e da controversa declaração de independência do então presidente regional Carles Puigdemont, mas também porque jogou luz sobre inúmeras outras disputas territoriais.
Só a Organização das Nações e Povos Não Representados (UNPO, na sigla em inglês), órgão que tem como membros territórios autônomos não reconhecidos internacionalmente, incluindo Curdistão Iraniano, Kosovo, Taiwan e Tibete, reúne no total 54 regiões independentistas. O número não considera as centenas de organizações separatistas existentes em praticamente todos os países do mundo. No Brasil, por exemplo, além dos movimentos mais conhecidos no sul do país, há diversos grupos que reivindicam independência de Roraima, do Espirito Santo e de São Paulo, entre outros.
Veja selecionou cinco regiões inusitadas que conquistaram maior ou menor grau de autonomia e que mostram o separatismo muito além da Catalunha.
Abkhazia
A República Autônoma da Abkhazia, província banhada pelo mar Negro ao sudoeste da Rússia, foi incorporada pela União Soviética em 1931 como uma república autônoma pertencente à Geórgia. Em 1992, após o colapso da União Soviética, a Abkhazia entrou em guerra para se separar dos georgianos. A primeira nação a reconhecer sua independência foi a Rússia, como forma de retaliação à Geórgia, após uma breve guerra travada em 2008. Ironicamente, uma das maiores ameaças à autonomia atual da Abkhazia é Moscou. Com uma economia baseada no turismo e na agricultura e dependente da ajuda financeira dos vizinhos ao norte, a antiga ‘Riviera Soviética’ teme, eventualmente, ter um destino similar ao da Crimeia e ser anexada à Rússia, que, por meio de tratados, já assume papel dominante nas esferas militar e econômica do território.
Transnístria
A Transnístria é um território cuja independência autodeclarada vem na esteira do fim da União Soviética. A faixa entre o rio Dniester e a Ucrânia que delimita a região pertence à Moldova, mas desde 1992, quando houve uma breve guerra entre ambos, a província exerce funções de uma nação independente. Um referendo em 2006 buscou dar legitimidade às aspirações da região de ser reconhecida pela comunidade internacional, mas foi declarado ilegal pela Moldova. Tal como a Abkhazia, a Transnístria tem a Rússia como principal aliado e patrono. Moscou, contudo, não reconhece a independência do território – que, por sua vez, deseja ser parte integrante da Rússia. Com status oficial de Unidade Autônoma, é reconhecida como nação apenas por Abkhazia, República de Artsakh e Ossétia do Sul.
República Srpska
Os acordos de Dayton, que selaram o fim do sangrento conflito na Bósnia (1992-95), determinaram a divisão do país em duas “entidades autônomas” (similar a estados ou províncias). A primeira entidade, chamada de Federação da Bósnia Herzegovina, para a etnia bósnia, e a República Srpska, ocupando 49% do território, para a etnia sérvia. Ambas estão subordinadas a um governo federal, que, por sua vez, está sujeito a intervenções de um Alto Representante (oficial designado para que as diretrizes do acordo de paz sejam cumpridas). O governo da República Srpska vive às rusgas com o governo central, em Sarajevo, e o presidente da entidade, Milorad Dodik, alvo de sanções dos Estados Unidos no início deste ano por ser “um risco à implementação dos acordos de Dayton”, apresenta desafios constantes à unidade do país. Há anos, o político, presidente da entidade desde 2010, ameaça convocar um referendo de independência.
Somalilândia
A Somalilândia obteve a emancipação da Inglaterra em 1960 e no mesmo ano juntou-se voluntariamente à antiga Somália italiana, formando a República Federal da Somália. Localizada no norte do país, o território declarou novamente sua independência em 1991, após a queda do ditador Mohamed Siad Barre, que governou a federação por mais de vinte anos. Apesar de não ser reconhecida como nação pela ONU (a região oficialmente continua sendo parte da Somália), a autonomia da Somalilândia a manteve à margem da violência que devastou o restante do país, imerso em uma guerra civil. O território, na prática independente, tem um sistema reconhecidamente democrático, com poderes executivo, legislativo e judiciário, força policial e moeda própria. Sua economia é baseada na pecuária, agricultura e mineração. Além disso, possui vários aeroportos e um grande porto, em Berbera. A região mantém escritórios e relações com nações como Canadá, França e Bélgica–e também emite seus próprios passaportes, com os quais seus cidadãos podem viajar para alguns países, entre eles Reino Unido, Suécia e Estados Unidos.
República de Artsakh (antigo Nagorno-Karabakh)
Antes conhecida como Nagorno-Karabakh, a República de Artsakh é um território disputado entre o Azerbaijão e a Armênia. Oficialmente uma província autônoma, a região fez parte da União Soviética até 1991, quando, com o fim do Estado socialista, os armênios locais declararam sua independência. O início do processo separatista também instituiu o começo de uma sangrenta guerra, que matou cerca de 30.000 pessoas. Em 1994, um cessar-fogo foi acertado entre as partes, mas as negociações até agora não produziram um acordo de paz permanente. O conflito e as hostilidades ainda persistem e, em abril de 2016, deixaram dezenas de mortos. Reconhecida como nação apenas por Transnístria, por Ossétia do Sul e pela Abkhazia, Artsakh tem como base de sua economia a agricultura, a indústria de manufatura e a construção. O território conta com o apoio financeiro e militar da Armênia e da Rússia.