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Militares dizem ter tomado poder e derrubado regime no Gabão

Após acusações de fraude eleitoral, militares ameaçam colocar fim no domínio de meio século da família Bongo no país

Por Da Redação
30 ago 2023, 13h10
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  • Oficiais das Forças Armadas do Gabão disseram ter tomado poder e derrubado o presidente Ali Bongo Ondimba nesta quarta-feira, 30, ameaçando o domínio de meio século da família sobre a nação centro-africana. Em discurso televisionado, os militares disseram que o presidente está em prisão domiciliar.

    “É levado ao conhecimento da comunidade nacional e internacional que Ali Bongo Ondimba está em prisão domiciliar”, disse um porta-voz da junta militar, acrescentando que ele estava acompanhado por sua família e médicos.

    Um vídeo do presidente pedindo aos seus “amigos” que “fizessem barulho” após ser preso foi divulgado nas redes sociais. Ele ainda afirmou que havia sido separado da esposa e do filho.

    “Meu filho está em algum lugar, minha esposa está em outro lugar”, disse Bongo. “Estou na residência. Nada está acontecendo, não sei o que está acontecendo.”

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    Horas depois, o porta-voz afirmou que os militares irão investigar as acusações contra o filho do presidente, Nourredin Bongo Valentin, que foi preso juntamente com outros seis indivíduos por “alta traição”. O anúncio ocorreu poucos minutos depois de o presidente ter sido considerado o vencedor de uma eleição contestada.

    “Em nome do povo gabonês e como garantidor da proteção das instituições, o CTRI [o Comitê para a Transição e Restauração das Instituições] decidiu defender a paz, pondo fim ao regime em vigor”, disse um oficial militar durante transmissão no canal de notícias Gabon24.

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    No discurso, o militar também disse que o resultado das eleições seria anulado e as fronteiras do país seriam fechadas.

    “Todas as instituições da república estão dissolvidas: em particular o governo, o Senado, a Assembleia Nacional, o Tribunal Constitucional, o Conselho Econômico e Social e Ambiental e o Conselho Eleitoral do Gabão”, disse o responsável pela transmissão. “Apelamos à população do Gabão, às comunidades dos países vizinhos que vivem no Gabão, bem como à diáspora gabonesa, para que mantenham a calma”.

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    Sons altos de tiros podiam ser ouvidos na capital Libreville e gaboneses puderam ser vistos dançando e comemorando nas ruas da cidade. Em um vídeo, pessoas gritam “libertadas!” e agitam a bandeira do Gabão no distrito de Nzeng Ayong, na capital, ao lado de veículos militares.

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    A França condenou o “golpe de Estado militar que está em curso no Gabão” e disse para para os seus cidadãos no país “evitarem ou limitarem” as viagens, enquanto a a embaixada dos Estados Unidos aconselhou os seus cidadãos na capital a procurarem abrigo.

    Na semana passada, o órgão eleitoral do Gabão disse que Bongo venceu as eleições presidenciais com 64,27% dos votos, após uma eleição marcada por atrasos e denúncias de fraudes. O principal adversário do presidente deposto, Albert Ondo Ossa, ficou em segundo lugar com 30,77%, segundo o órgão eleitoral.

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    Ali Bongo, 64 anos, substituiu seu pai, Omar Bongo, que morreu de parada cardíaca enquanto recebia tratamento para câncer intestinal em uma clínica espanhola em 2009, após quase 42 anos no cargo. Omar chegou ao poder em 1967, sete anos após a independência do país da França, enquanto Ali iniciou a sua carreira política em 1981 e chegou a ser ministro dos Negócios Estrangeiros e Defesa antes de se tornar presidente, em 2009.

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    O chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, disse que “se (a situação no Gabão) for confirmada (que) é outro golpe militar”, isso “aumentaria a instabilidade em toda a região”.

    “É uma questão que será colocada na mesa e iremos discuti-la”, disse Borrell. “Toda a área, começando pela República Centro-Africana, depois Mali, depois Burkina Faso, agora Níger, talvez Gabão, é uma situação muito difícil”.

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    Esta não é a primeira vez que o Gabão assistiu a uma luta pelo poder ou a uma agitação em torno do governo de Bongo, que tem sido frequentemente contestado pelos críticos. Em 2016, o prédio do Parlamento foi incendiado quando eclodiram violentos protestos de rua contra a contestada reeleição do presidente para seu segundo mandato. Na ocasião, o governo desligou o acesso à internet por vários dias.

    Outra tentativa de golpe ocorreu em 2019, quando um grupo de soldados e oficiais militares invadiu a sede da rádio e da TV estatal, fez reféns e declarou que tinham assumido o controle da nação. Eles citaram a sua insatisfação com Bongo como presidente, prometendo “restaurar a democracia” no país, o que resultou na morte de dez pessoas.

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