A socialista Michelle Bachelet, de 62 anos, foi eleita neste domingo, em segundo turno, presidente do Chile. Ela assumirá o cargo em março do ano que vem. “Estou muito feliz com o resultado. A partir do ano que vem vou ser a presidente de todos os chilenos e chilenas. Esperamos, para isso, contar com o apoio de todos os setores”, disse Bachelet, em declarações reproduzidas pelo jornal La Tercera.
Com quase 100% das urnas apuradas, Bachelet superou 60% dos votos, contra 37% de Evelyn Matthei, que reconheceu a derrota. O presidente Sebastián Piñera também cumprimentou a presidente eleita. A vitória de Bachelet já era aguardada, depois que ela terminou o primeiro turno, realizado no dia 17 de novembro, com mais 46% dos votos, contra 25% de Matthei. No entanto, assim como no primeiro turno, a abstenção foi alta também na segunda etapa. Menos de 6 milhões dos 13 milhões de eleitores foram às urnas, o que levou a presidente eleita a ressaltar a necessidade de fazer com que os chilenos “voltem a acreditar na democracia”.
Chefe do executivo chileno entre 2007 e 2010, Bachelet já liderou um governo de esquerda que não seguiu as irresponsáveis aventuras bolivarianas que caracterizaram a América Latina no período. Ela acabou deixando a presidência com uma aprovação de 84%, mas falhou em conseguir fazer um sucessor (a reeleição de presidentes não é permitida no país) abrindo caminho para Piñera.
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Coalizão de Bachelet obtém maioria no Congresso, mas terá de negociar reformas
A volta da socialista foi baseada em propostas que não põem em risco a democracia, mas ameaçam o modelo econômico que colocou o país na porta de entrada no Primeiro Mundo. Ela prometeu reformar a Constituição, permitir a reeleição, eliminar o lucro na educação, promover o avanço estatal no sistema de aposentadorias, reduzir os estímulos para investidores estrangeiros e nacionais e elevar impostos às empresas.
Eleita, Bachelet deve enfrentar dificuldades para passar suas propostas. O primeiro turno, no dia 17 de novembro, também marcou as eleições legislativas. A coalizão Nova Maioria, de Bachelet, ampliou sua presença na Câmara e no Senado. Ainda assim, o número é insuficiente para que a esquerdista consiga levar adiante todas as suas propostas de reforma apenas com os deputados e senadores da sua coalizão.
Com a nova configuração no Congresso, ela só conseguiria levar adiante a reforma tributária sem a necessidade de negociar com deputados de outros partidos fora da sua coalizão. Para a reforma educacional, Bachelet vai depender do apoio de pelo menos um deputado independente para conseguir os votos necessários – esta reforma é uma demanda dos estudantes que realizaram uma série de protestos nos últimos anos para defender a educação gratuita.
Já para as reformas eleitoral e constitucional, Bachelet terá de eventualmente negociar com a direita. Essa situação ocorre porque o atual sistema vigente no país, projetado ainda durante o regime do ditador Augusto Pinochet (1973-1990), estabelece que é necessário conseguir maiorias específicas para cada reforma. Para o caso de uma reforma eleitoral, por exemplo, são necessários 60% dos votos das duas Casas (72 deputados e 23 senadores), e para o caso de reformas na Constituição, 67% dos votos (80 deputados e 25 senadores). Desta forma, Bachelet não teria outra escolha a não ser depender de seus adversários. Na Câmara, a coalizão de Bachelet conquistou 67 das 120 cadeiras, e no Senado, ficou com 21.
(Com reportagem de Jean-Philip Struck. Com agência EFE)