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Memórias sem desculpas

Tony Blair lança biografia

Por La Vanguardia
2 set 2010, 21h58

A alma de Tony Blair foi colocada à venda nas livrarias britânicas pela soma de 15 euros, uma pechincha em tempos de crise. Por tão irrisória quantia – sobretudo levando em conta que o ex-primeiro-ministro cobra até 100 mil dólares por uma palestra – pode-se comprar desde a última quarta-feira o livro A Journey (Uma Viagem), que contém seus pensamentos mais íntimos sobre as guerras do Iraque e Afeganistão, a crise financeira, o futuro do trabalhismo, a monarquia, a princesa Diana, Saddam Hussein e Gordon Brown. Sobre Bush, ele disse que é “um dos homens mais inteligentes” que conheceu.

Winston Churchill assegurava, em uma de suas melhores frases, que “a história iria contemplar sua figura de uma maneira amável porque ele pensava em escrever sua própria biografia”, e Tony Blair quis seguir seu exemplo. O problema é que Blair não é escritor e jornalista como Churchill e, sobretudo, que seu legado tóxico – especialmente o Iraque, mas também a imagem de corrupção – está para milhões de compatriotas além de toda possibilidade de redenção, que é no fundo o que ele busca com suas memórias. O dinheiro (cerca de 6 milhões de euros) ele prometeu doar para os veteranos de guerra e, de qualquer maneira, não precisa da quantia. Blair possui pelo menos nove propriedades.

Mas, sobre pedir perdão, não há nem uma linha no livro. Orgulhoso até o fim, Blair, que ganhou três eleições e permaneceu uma década no poder, se nega a admitir que a invasão do Iraque foi um erro. Insiste que era necessária para “prevenir” o desenvolvimento de armas de destruição em massa por Saddam Hussein, especialmente depois que a Al Qaeda havia matado 3 mil pessoas no 11 de Setembro (“e mataria 300 mil se pudesse”). Com o estilo emotivo, que usou com tanto sucesso na morte da princesa Diana, fala da “tristeza e angústia” que sente quando pensa nos soldados britânicos mortos (“tristeza que se apodera até da última fibra do meu ser”).

Depois de três anos de silêncio, Blair quis colocar os “pingos nos is” em um texto de quase 700 páginas no qual ataca o seu sucessor, Gordon Brown, a quem qualifica de “homem exasperante e sem nenhum tipo de inteligência emocional, que estava fadado a ser um desastre como primeiro-ministro”. Cobrando de Brown as contas de um golpe, imputa a ele a derrota eleitoral trabalhista por levar o partido para a esquerda e, inclusive, lhe tira o crédito do resgate dos bancos depois da crise econômica mundial. A rivalidade e o ódio entre ambos foi a semente da destruição do “novo trabalhismo”, e nota-se que os fantasmas nunca morrem.

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Blair sempre acreditou que com sua lábia poderia convencer os britânicos de qualquer coisa. Ainda hoje insiste em definir-se como um “progressista e social-democrata”, para defender em seguida as mesmas políticas econômicas e sociais neoliberais que apóiam os bancos, companhias de seguro e instituições que lhe pagam uma fortuna por suas assessorias. É um homem do “establishment” conservador, como sugere o fato de que a crítica mais entusiasmada sobre as suas memórias seja a do The Times, do magnata das comunicações Rupert Murdoch.

Blair só se arrepende de três coisas: a proibição da caça à raposa, a “insuficiente mão pesada” para restringir a entrada de pessoas que pediam asilo no país e a lei de liberdade de informação, “porque não é prático ter de revelar conversas de governantes quando eles precisam tomar decisões difíceis”.

O fato de o político estar na Casa Branca no dia em que a obra foi lançada no Reino Unido, assim como promovê-la em Dublin antes de Londres, é significativo. A capa da biografia mostra um sorriso forçado, mas faz tempo que Blair perdeu a graça.

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