Mauro Vieira viaja ao Oriente Médio, mas deixa Israel de fora
Apesar disso, ministro abordará conflito em Gaza e crise humanitária que atinge a região, segundo Itamaraty
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fará, a partir da sexta-feira, 15, sua primeira viagem ao Oriente Médio como chanceler brasileiro. O roteiro, no entanto, não inclui Israel, em meio à crise diplomática entre Brasília e Tel Aviv por conta de declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as ações militares israelenses contra palestinos em Gaza.
Em comunicado, o Itamaraty afirmou que Vieira fará visitas a Amã, na Jordânia; a Ramallah, na Palestina; a Beirute, no Líbano; e a Riad, na Arábia Saudita.
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“As relações do Brasil com os países do Oriente Médio são marcadas, de forma muito positiva, pela presença, em nosso país, de expressiva comunidade de origem árabe, o que contribui para a fluidez e amizade que tradicionalmente caracterizam o diálogo do Brasil com aquela região”, diz a nota.
Ao longo dos encontros, segundo o Itamaraty, Vieira abordará o conflito em Gaza e a crise humanitária que atinge a região, assim como perspectivas para um cessar-fogo e uma eventual retomada de negociações “voltadas a alcançar paz duradoura para o Oriente Médio”.
Nesta quinta-feira, Vieira participou de sessão na Comissão de Relações Exteriores do Senado, na qual afirmou que as declarações de Lula em que comparou ações israelenses ao Holocausto surgiram de “profunda indignação”.
“A questão que se impõe é quantas vidas mais serão perdidas até que todos atuem para impedir o morticínio em curso”, disse Vieira à comissão. “É nesse contexto de profunda indignação que se inserem as declarações do presidente Lula”.
Crise diplomática
Em resposta à fala de Lula, o governo israelense declarou o presidente persona non grata e convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para uma reprimenda. Depois disso, o governo Lula chamou Meyer de volta ao Brasil, como adiantou o Itamaraty a VEJA, e também anunciou que convocou Zonshine para comparecer a uma reunião com o chanceler brasileiro.
Foi quando o chanceler israelense, Israel Katz, deu início a uma campanha de críticas no X, antigo Twitter, classificando, primeiramente, a fala de Lula como “promíscua, delirante”, além de “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”. Ele também convidou uma sobrevivente brasileira da rave Universo Paralello, onde 260 pessoas foram mortas por combatentes do grupo palestino Hamas em 7 de outubro, para dar depoimento em um longo vídeo.
“Me entristece muito saber que o país onde eu nasci, o país onde eu chamo de casa se encontra nessa situação. Numa situação que o governo compara as atitudes de Israel com o Holocausto”, disse a israelense-brasileira Rafaela Triestman.
Vieira devolveu: disse que os comentários de Katz foram “inaceitáveis”, “mentirosos” e “vergonhosos para a história diplomática de Israel”.