Os parisienses votaram a favor neste domingo, 4, para triplicar o valor de estacionamento para motoristas de veículos utilitários esportivos (SUV), em um novo cerco contra as mudanças climáticas. Em referendo, 54,6% dos habitantes da capital francesa aprovaram as taxas especiais para o tipo de carro, que é maior e pode emitir mais gases nocivos ao meio ambiente. No entanto, apenas 5,7% dos eleitores registados em Paris foram às urnas – um golpe e tanto para os ambientalistas, que esperavam maior participação.
Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), esses modelos são “200 quilos mais pesados, 25 cm mais longos, 10 cm mais largos” e podem ser considerados uma “aberração climática”. Eles também poluem 20% mais CO2 do que carros sedã. Antes mesmo do sinal verde da população, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, já havia apoiado a aplicação da medida como forma de “justiça social”, atingindo aqueles que não optaram por mudar o estilo de vida apesar do impacto ambiental.
“Os parisienses fizeram uma escolha clara… outras cidades os seguirão”, previu Hidalgo, do Partido Socialista.
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Cerco de Hidalgo
Com cerca de 90% de votos favoráveis, um referendo em abril proibiu o aluguel de scooters elétricas na cidade francesa. Somente 7% dos eleitores participaram. Os residentes alegaram que as motocicletas dificultam o estacionamento por Paris, além de que grande parte dos usuários dirigiam sem capacete. Para evitar problemas de deslocamento, a prefeitura planeja substituí-las totalmente por bicicletas elétricas até as Olimpíadas, que têm início em julho deste ano.
Hidalgo, que teve a campanha financiada por associações ambientais, apoia o desenvolvimento sustentável e, para tanto, apertou o cerco contra motoristas. Além dos estacionamentos mais caros, ela proibiu gradualmente a circulação de veículos movidos a diesel e diminuiu o número de vagas nas ruas, ao passo que ampliou as ciclovias na capital. Em reflexo, a prefeitura registrou um aumento de 71% no uso de bicicletas entre o fim das restrições pandêmicas e 2023.
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Sobre a política
As tarifas contra SUVs e carros 4×4 entrarão em vigor no início de setembro. Elas aumentam para 18 euros por hora os custos dos estacionamento no centro da cidade, caindo para 12 euros no restante das áreas de Paris.
O preço mais salgado é aplicado a veículos com peso superior a 1,6 tonelada, com motor de combustão ou híbridos. No caso dos carros elétricos, serão taxados os que superam 2 toneladas. A mudança engloba ao estacionamento dos moradores.
Segundo o vice-prefeito de Transportes e Transformação de Paris, David Belliard, do Partido Verde, cerca de 10% dos veículos seriam atingidos pelos novos preços, com o potencial de render 35 milhões de euros para o governo anualmente.
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Reações
O diretor do grupo de campanha pela qualidade do ar Respire, Tony Renucci, elogiou a chancela e disse que representa “uma vitória para a qualidade de vida dos residentes de Paris”. Ele também afirmou que ao novo preço será um exemplo a ser seguido por outras cidades e um indicativo de que “a presença destes monstros sobre rodas já não era desejável”.
Em contrapartida, grupo de pressão dos automobilistas 40 Millions d’Automobilistes argumentou que os cidadãos deveriam ser livres para escolher os carros “de acordo com as suas necessidades, e a liberdade de viajar razoavelmente, seja para ir trabalhar, levar os filhos à escola, ou até ter acesso a cuidados de saúde”, sem imposições da prefeitura.
“Esta caça aos SUVs é apenas um primeiro passo para erradicar, de forma indireta, o automóvel na cidade para o maior número possível de cidadãos”, escreveu o grupo no Instagram. “Se não a bloquearmos agora, esta rebelião injustificada liderada por minorias ultraurbanas e anti-automóveis espalhará como gangrena por todas as outras cidades. Estamos todos preocupados.”