Um dos mais tristes capítulos da longa história de violência racial nos Estados Unidos completou 100 anos nesta semana. Em 31 de maio de 1921, uma multidão de pessoas brancas invadiu e destruiu o distrito de Greenwood, na cidade de Tulsa, no estado de Oklahoma. Durante dezoito horas de violência, mais de 1 000 casas e estabelecimentos comerciais foram saqueados e incendiados e pelo menos 300 pessoas morreram. O presidente Joe Biden visitou o local e reconheceu o episódio como aquilo que sempre foi: um massacre. Com palavras fortes, o democrata cutucou o pouco empenho histórico para reparar aqueles fatos terríveis. “A partir de agora, seu destino será conhecido de todos”, afirmou. O discurso do presidente foi recebido com emoção pelos familiares das vítimas e pelos três últimos sobreviventes do crime, que acompanharam as homenagens. Mesmo assim, parece ser insuficiente para apagar a injustiça que ainda caminha pelas ruas de Tulsa, onde as desigualdades seguem gritantes. “Nosso país pode esquecer essa história, mas eu e os demais sobreviventes nunca poderemos”, disse Viola Fletcher, de 107 anos, a testemunha mais velha do episódio. Ela e os demais sobreviventes lutam no Congresso americano pelo reconhecimento da gravidade da matança e pelo pagamento de uma indenização às vítimas, já que em um século nenhum branco foi processado e responsabilizado pelas mortes. Depois do assassinato do negro George Floyd, no ano passado, há ambiente para uma resposta mais forte da sociedade.
Publicado em VEJA de 9 de junho de 2021, edição nº 2741