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Itália sofre com incertezas e pressão antissistema após referendo

O problema da Itália é que a democracia parlamentar do país está longe da estabilidade do Reino Unido

Por Daniela Flor Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 dez 2016, 08h10

O movimento antiestablishment que se espalha pela Europa e pelo mundo contrário ao sistema e as instituições atuais, mostrou sua força outra vez com a vitória do “não” no referendo de reforma constitucional na Itália, no início de dezembro. A rejeição do povo motivou a renúncia do primeiro-ministro Matteo Renzi, defensor do “sim”, e inaugurou mais uma crise política no país, marcado por leis confusas. A dúvida que paira na Itália é como um novo governo será formado e quais serão as consequências do “não”, um manifesto da insatisfação popular.

No papel, a reforma proposta por Renzi buscava diminuir os impasses do sistema “bicameral perfeito” italiano, caro e demorado. A mudança daria mais poder a Câmara dos Deputados e transformaria funções Senado, para agilizar decisões. Uma promessa do premiê, porém, mudou o foco do referendo: Renzi disse que renunciaria em caso de derrota. “A população não votou na reforma, que era muito técnica, mas se baseou em fatores tradicionais, como apoio dos partidos e a situação da economia”, explica o professor de Ciência Política da Universidade de Siena, Paolo Bellucci.

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Antes de Renzi, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) já deu indícios do que poderia “dar errado” para um premiê que coloca seu cargo em jogo junto com um referendo, caso de David Cameron. “Disseram ‘não’ para a reforma porque queriam a saída de Renzi e conseguiram”, diz Franco Pavoncello, cientista político da Universidade John Cabot em Roma. Com o premiê derrotado, o grande vencedor do referendo foi Movimento 5 Estrelas (M5S, na sigla em italiano), partido que se consagrou como defensor do ‘não’.

A pauta do M5S começa a desenhar o caminho que o governo da Itália precisará seguir para agradar o povo. “O ‘não’ venceu principalmente porque a economia não está bem e muita gente estava brava e desiludida”, avalia Roberto D’Alimonte, professor da universidade Luiss, Guido Carli. Liderado pelo ex-comediante Beppe Grillo, o M5S se diz “apolítico”, cansado de quem está no poder há gerações e governa com base em interesses, e defende a saída da zona do euro. A linha é a mesma de outros considerados parte da direita populista europeia, como o britânico Ukip e o Partido da Liberdade da Áustria. Grillo, famoso antes da política, lembra também o presidente-eleito americano Donald Trump, que diz não fazer parte da “panelinha” partidária.

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Futuro confuso — O problema da Itália, para qual o M5S também não ofereceu solução, é que a democracia parlamentar do país está longe da estabilidade do Reino Unido, ou mesmo das instituições americanas. Nenhuma regra é tão segura que não possa ser adaptada no país. “A instabilidade política é o de menos, o verdadeiro problema é fraqueza do sistema”, diz Pavoncello. Com sucessivas mudanças nas regras da Câmara e no Senado e crises subsequentes, a Itália teve 64 governos, com diferentes líderes, desde o fim da II Guerra Mundial.

O conserto da lei eleitoral, ou pelo menos um remendo provisório, estará nas mãos do novo premiê. Com a renúncia de Renzi, entregue na quarta-feira, o presidente Sergio Mattarella precisará apontar outro primeiro-ministro, que deve ser apoiado pelo Parlamento. Ele será responsável por chefiar uma reforma na lei eleitoral para convocar novas eleições, uma exigência do M5S, que tem um terço do Parlamento, e outros grupos contrários ao Partido Democrático de Renzi.

Segundo Bellucci, a consequência imediata da saída de Renzi deve ser a escolha de um premiê técnico, como o ministro das Finanças Pier Carlo Padoan, ou de alguém neutro e institucional, caso do Pietro Grasso, presidente do Senado. As opções menos políticas podem ser aprovadas com mais facilidade pelo Parlamento, além de acalmarem os ânimos da população. A partir disso, um novo Parlamento deve ser votado, assim como um novo primeiro-ministro.

Fim do euro? — Uma das (tantas) incertezas que virão para a Itália é seu lugar na zona do euro, na qual mantém a terceira posição entre as maiores economias. Um referendo para votar a saída é uma das intenções do M5S, que poderia ganhar mais força em um novo Parlamento. De acordo com Pavoncello, as finanças da Itália ficarão estagnadas pela crise política, porém, é improvável que o país opte por deixar a moeda comum, já que o Banco Central Europeu ajuda a evitar uma crise profunda no país. “É um sacrifício que ninguém quer fazer”, explica.

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