O avanço histórico das forças antissistema, eurocética e de extrema direita, que conquistaram uma maioria de votos e assentos nas eleições legislativas deste domingo, mergulhou a Itália na incerteza política.
O Movimento 5 Estrelas (m5E), com eleitores de esquerda e de direita, e os partidos de extrema direita se beneficiaram de uma rejeição da velha classe política, do descontentamento com uma economia que não decola e das tensões em relação aos imigrantes.
A Itália votou em sintonia com os britânicos que optaram pelo Brexit, os americanos que deram a vitória a Donald Trump e outros países da Europa, onde a extrema-direita vive um novo impulso.
Com grande parte das urnas apuradas, parece quase certo que nenhuma das três principais coligações conseguirá alcançar o número de assentos necessários para formar um governo de maioria.
O resultado final da votação só é esperado para o final desta segunda-feira. A formação de um governo, portanto, pode levar semanas de negociação e tentativas de construção de coalizões. A convocação de novas eleições para tentar romper o impasse também é outro cenário plausível.
Apuração
O líder de extrema-direita Matteo Salvini, do partido Liga do Norte, reivindicou nesta segunda-feira “o direito e o dever” de sua coalizão conservadora de governar a Itália após somar 37% dos votos. “É uma vitória extraordinária”, comentou Salvini, durante coletiva de imprensa na sede do partido.
A coalizão que une a Liga do Norte, o partido de Silvio Berlusconi Forza Italia e os neofascistas Irmãos da Itália já conquistou, segundo as informações preliminares da apuração, 37% dos votos para a Câmara, o equivalente a 99 assentos na casa. Já no Senado, foram 37,5% dos votos, 48 assentos.
Porém, com seus 37% dos votos, a coalizão que alia a Liga do Norte, o partido Forza Italia de Berlusconi e os neofascistas Irmãos da Itália não tem condições de governar.
A formação antissistema do M5E, que se apresentou sozinha, deve ser confirmada como o maior partido na Itália, com 32,66% dos votos na Câmara (82 assentos) e 32,21% no Senado (39 assentos). Ainda assim, não possui maioria numérica nas casas.
O líder da legenda, Luigi Di Maio já se pronunciou, também reivindicando o direito de formar governo no país, enquanto Alessandro Di Battista, um dos líderes do movimento que fez campanha contra a corrupção e contra a “casta política italiana”, celebrou que, de agora em diante, “todos terão que falar conosco”.
Se as estimativas forem confirmadas, o cenário político que se desenha é o de um país ingovernável, com duas novas forças, muito diferentes, mas nascidas contra a chamada casta política.
“Os vencedores desta batalha eleitoral são Matteo Salvini e Luigi di Maio”, líder do M5E, mas “nada disso leva a qualquer tipo de governabilidade”, assegura o editorial do jornal La Stampa.
A Bolsa de Valores de Milão reagia com relativa serenidade aos resultados. O índice FTSE Mib abriu com uma queda de 2%, mas logo se recuperou, situando-se em torno de -0,5%.
(Com AFP)