As famílias do Afeganistão têm lidado cada vez mais com a miséria e a fome desde que o Talibã conquistou a capital, Cabul, e adquiriu o controle do país, em agosto.
Com a desconfiança da comunidade internacional e as sanções impostas pelos Estados Unidos, a ajuda estrangeira, fator determinante para o funcionamento da economia, foi bloqueada devido às violações dos direitos humanos praticadas pelo grupo.
De acordo com dados da ONU, cerca de 23 milhões de afegãos – o equivalente a 55% da população – enfrentam níveis extremos de fome, e mais 9 milhões estão sob alerta com a chegada do inverno.
Além do cenário de décadas de guerra, essas famílias precisam lidar com as frequentes secas que atingem o país, obrigando-as a sair de suas casas e procurar refúgio em outras regiões espalhadas pelo Afeganistão.
“Nunca tínhamos alimentos diferentes, mas pelo menos conseguíamos cozinhar uma vez por dia. Agora, é uma vez por semana e às vezes nem há pão para comer”, diz Maidan Wardak, mãe de quatro filhos, à Reuters.
Como resposta, o Talibã afirma saber da necessidade dos pobres e atribui essas dificuldades aos conflitos de mais de quatro décadas e à má gestão do governo anterior. Além disso, o grupo fundamentalista pede frequentemente que Washington desbloqueie cerca de 9 bilhões de dólares congelados em ativos do banco central.
“Pretendemos amenizar os problemas. Nós sabemos o que nossa população está enfrentando”, diz o porta-voz do grupo, Zabihullah Mujahid.
Especialistas apontam que essa é a pior crise vivida pelo país desde que os talibãs foram retirados do poder por tropas ocidentais pela primeira vez, há 20 anos.
A comunidade internacional vem tentando restaurar a ajuda, porém demanda que o atual governo dê garantias de que os direitos humanos serão respeitados, incluindo a revogação das restrições que impedem mulheres e meninas de estudar e trabalhar.
Em resposta, Mujahid disse que esse processo está sendo feito de maneira gradual, além de prometer anistia para ex-funcionários do antigo governo. Como forma de se mostrar mais inclusivo, o Talibã nomeou como vice-ministro da Economia um ex-professor universitário da minoria Hazara, que corresponde entre 10 e 20 milhões dos 38 milhões de afegãos.
No entanto, o esforço ainda tem sido muito pouco para amenizar a situação vivida pelas famílias do país. Sayed Yassin Mosawi, que trabalha em um mercado, diz que sua renda cai drasticamente durante o inverno e que depende de empréstimos para sobreviver.
“Normalmente pegamos emprestado o que precisamos nas lojas e padarias e pagamos o empréstimo em dois ou três meses, quando as coisas começam a melhorar. Desde que o Talibã assumiu, não há trabalho, os preços subiram, as pessoas deixaram o país. Não temos nada”, diz.