Intelectual chinês é preso durante entrevista ao vivo e desaparece

Um conhecido intelectual da China, crítico ao regime autoritário local, desapareceu na quinta-feira (2) depois de ter sido surpreendido por policiais durante uma entrevista ao vivo e levado pelas forças de segurança. Sun Wenguang, um professor universitário aposentado, falava por telefone com o apresentador de um programa em mandarim da rede Voice of America (VOA) quando as autoridades invadiram seu domicílio na cidade de Jinan, ao leste do país.

“A polícia voltou para me obrigar ao silêncio!”, gritou Sun, informando que oito membros das Forças Armadas se encontravam em sua casa, segundo a gravação de áudio divulgada.

Tanto as ligações para o celular quanto para o telefone fixo do professor não estão sendo atendidas. Tampouco as autoridades de Jinan responderam a perguntas.

“O canal VOA acompanha atentamente a situação e transmitirá notícias ao público quando for possível”, indicou a porta-voz da rede americana, Bridget Serchak.

Logo após o episódio, ainda durante a transmissão, o apresentador do programa afirma em tom de desaprovação que “este é o estado dos direitos humanos na China” e diz que a emissora protesta contra o ocorrido. Nos últimos cinco anos, houve um endurecimento da repressão contra os militantes dos direitos civis e as vozes contrárias ao atual governo, presidido por Xi Jinping.

Sun Wenguang redigiu no mês passado uma carta aberta ao presidente chinês, na qual criticava a “diplomacia do carnê e do cheque” de Pequim na África.

“Ouçam o que eu digo. É algo errado?”, questionou Sun aos policiais que o retiravam de casa. “Nós somos pobres [na China]. Não joguemos nosso dinheiro na África, isso não ajuda nossa sociedade”, tentou explicar.

Sun, um dos mais antigos militantes dos direitos civis na China, é vigiado de perto pelas autoridades. Em 2008, o professor assinou um manifesto pedindo eleições livres, texto que levou o escritor Liu Xiaobo para a prisão antes de receber o Prêmio Nobel da Paz e morrer no cárcere.

Em 2009, Sun foi agredido violentamente ao forçar um cordão de isolamento de guardas armados diante de sua casa, quando tentava ir ao aniversário da morte de Zhao Ziyang, um dirigente reformista, marginalizado pelo Partido Comunista por opor-se, em 1989, à violenta repressão dos manifestantes de Tiananmen.

Assista ao vídeo da entrevista, com legendas em inglês: