Cientistas descobriram comunidades de criaturas costeiras, incluindo caranguejos e anêmonas, vivendo em detritos de plástico na Grande Ilha de Lixo do Pacífico. Os animais estão vivendo a milhares de quilômetros de sua casa original em um redemoinho de lixo de 620 mil milhas quadradas no oceano entre os estados americanos da Califórnia e do Havaí.
O novo estudo foi publicado na revista Nature Ecology & Evolution e revelou que dezenas de espécies de organismos invertebrados costeiros conseguiram sobreviver e se reproduzir em lixo plástico que flutua no oceano há anos. Os cientistas disseram que as descobertas sugerem que a poluição plástica no oceano pode estar permitindo a criação de novos ecossistemas flutuantes de espécies que normalmente não são capazes de sobreviver no oceano aberto.
Ao contrário dos materiais orgânicos, o detritos plásticos podem flutuar nos oceanos por muito mais tempo, dando às criaturas a oportunidade de sobreviver e se reproduzir em mar aberto. Foram identificados 484 organismos invertebrados marinhos nos detritos, representando 46 espécies diferentes, das quais 80% eram normalmente encontradas em habitats costeiros.
“Foi surpreendente ver a frequência das espécies costeiras. Eles estavam em 70% dos detritos que encontramos”, disse Linsey Haram, cientista do Instituto Nacional de Alimentos e Agricultura, à CNN. “Uma grande porcentagem da diversidade que encontramos eram espécies costeiras e não as espécies pelágicas nativas do oceano aberto que esperávamos encontrar”.
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Eles ainda encontraram também muitas espécies de oceano aberto. “Em dois terços dos escombros, encontramos as duas comunidades juntas … competindo por espaço, mas muito provavelmente interagindo de outras maneiras”, acrescentou Haram.
As consequências da introdução de novas espécies nas áreas remotas do oceano ainda não são totalmente compreendidas. Porém, os especialistas acreditam que deve haver muita competição pelo espaço, que é pequeno em mar aberto.
“Provavelmente há competição por espaço, porque o espaço é escasso em mar aberto, provavelmente há competição por recursos alimentares – mas eles também podem estar comendo uns aos outros. É difícil saber exatamente o que está acontecendo, mas vimos evidências de algumas das anêmonas costeiras comendo espécies de oceano aberto, então sabemos que há alguma predação acontecendo entre as duas comunidades”, disse Haram.
A forma como os animais costeiros chegaram ao mar aberto ainda é uma dúvida dos cientistas. Entre as possibilidades, as criaturas podem ter “pegado carona” nos objetos de plástico ou se “colonizaram” essa área depois que já estavam no oceano.
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A Grande Ilha de Lixo do Pacífico é o maior acúmulo de plástico oceânico do mundo e tem o dobro do tamanho do Texas. Ela é é delimitada por um enorme redemoinho, uma das cinco maiores correntes circulares giratórias nos oceanos do mundo, que criam um grande vórtice de lixo.
“Se você está lá, o que vê é apenas um oceano azul imaculado”, disse Matthias Egger, chefe de assuntos ambientais e sociais da ONG The Ocean Cleanup. “Se você olhar para cima à noite, verá todos aqueles pontos brancos, isso é essencialmente o que você vê na mancha de lixo. Não é tão denso, mas há muitos deles… por aí, você começa a ver mais e mais plástico quanto mais você olha.”
A iniciativa Ocean Cleanup estima que existam cerca de 1,8 trilhão de pedaços de plástico na Grande Mancha que pesam cerca de 80 mil toneladas. A maior parte do plástico encontrado vem da indústria pesqueira, enquanto entre 10% e 20% do volume total é remanescente ao tsunami de 2011 no Japão.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o mundo produz cerca de 460 milhões de toneladas de plástico por ano, número que deve triplicar até 2060. De acordo com a agência, apenas cerca de 9% dos resíduos plásticos são reciclados. Até 22% de todos os resíduos plásticos são mal administrados e acabam como lixo e grande parte dele vai para os oceanos.
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