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Hamas usou estupro como arma contra nós, diz enfermeira israelense a VEJA

Michal Elon ouviu testemunhos de parentes de vítimas que foram brutalizadas nos ataques de 7 de outubro e conta: 'Sofri a violência na pele'

Por Amanda Péchy
Atualizado em 25 mar 2024, 13h26 - Publicado em 23 mar 2024, 09h00

No início da guerra entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas, circulou um vídeo granulado de uma mulher desconhecida, mas que gerou comoção internet afora, por ela estar deitada de costas, com o vestido rasgado, pernas abertas e vagina exposta. Ela foi apelidada simplesmente de “a mulher do vestido preto”, mas depois foi identificada por sua família como Gal Abdush, mãe de dois filhos, que desapareceu da rave Universo Parallelo naquela noite, como muitas outras pessoas. Mas ela se tornou um símbolo dos horrores sofridos especialmente por mulheres e meninas israelenses durante os ataques de 7 de outubro: segundo autoridades israelenses, por todos os lugares onde os terroristas do Hamas atacaram – raves, bases militares ao longo da fronteira de Gaza e os kibutzim –, eles as estupraram.

No início deste mês, uma equipe das Nações Unidas também concluiu que há “motivos razoáveis para acreditar” que atos de violência sexual, incluindo estupro e estupro coletivo, foram cometidos durante os ataques do Hamas em Israel. Três meses antes, porém, uma investigação do jornal americano The New York Times já havia mostrado que os ataques contra mulheres não foram acontecimentos isolados, mas parte de um padrão de violência de gênero.

“A comunidade internacional se atrasou em reconhecer que isso realmente aconteceu conosco”, disse a VEJA a enfermeira israelense Michal Elon, que veio a São Paulo em março, a convite da Organização Hadassah Internacional, para lançar no Brasil a campanha #EndTheSilence, em defesa das mulheres israelenses violentadas, estupradas e assassinadas naquele 7 de outubro.

“O Hamas usou o estupro como arma, como um sinal de poder, de que podiam fazer o que quisessem conosco. E o fizeram”, dispara.

Memórias duras

Michal, 44 anos, e sua família estavam passando o Shabat, dia sagrado para a religião judaica, na base de treinamento militar de Zikim, no sul de Israel – uma atividade voluntária que serve para entreter e animar os militares em serviço longe de casa – quando foram surpreendidas por tiros e bombas. A enfermeira treinada decidiu deixar a área segura para ajudar uma oficial ferida que havia sido atingida por um tiro no rosto. Foi quando um combatente do Hamas atirou três vezes contra seu peito, estômago e braço.

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“Os militares israelenses salvaram minha vida”, relatou ela a VEJA. “Até hoje faço fisioterapia para o braço e não consegui voltar ao trabalho porque meus dedos não me obedecem. Mas foi pouco, até, comparado ao que outros sofreram.”

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Segundo ela, o marido de uma amiga perdeu o irmão e a cunhada, que tinham duas filhas e morreram queimados pelos terroristas. Esse casal, então, decidiu adotar as meninas que se viram, de repente, órfãs. “Minha amiga contou que as duas sofreram agressão sexual. Imagine! Duas crianças…”, lamenta Michal, que desistiu de ver fotos e vídeos que evidenciam estupros pelo Hamas, para preservar sua saúde mental, mas diz ser necessário continuar falando sobre o assunto para que haja consequências para os responsáveis.

Dor que não passa

A missão das Nações Unidas que concluiu haver ocorrido estupros durante os ataques do Hamas, liderada por Pramila Patten, enviada especial do órgão para violência sexual em conflitos, também disse existirem “informações convincentes” de que as reféns detidas em Gaza haviam sido submetidas a violência sexual.

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“Encontramos informações claras e convincentes de que atos de violência sexual, incluindo estupro, tortura sexual e tratamento cruel, desumano e degradante, foram cometidos contra reféns”, disse a ONU em relatório divulgado em 5 de março. “Há motivos razoáveis para acreditar que tal violência pode estar em curso contra aqueles que ainda estão sendo mantidos em cativeiro.”

Esse é o principal medo de Shlomi Berger, 52 anos, cuja filha Agam, 19, é uma das 135 pessoas que permanecem em cativeiro em Gaza. “A última notícia que tenho dela é do dia do meu aniversário no ano passado, 27 de novembro. No terceiro dia de trégua entre Israel e Hamas, uma menina de 17 anos, também chamada Agam, foi libertada mediante os termos do acordo para o cessar-fogo que durou uma semana. Ela me telefonou e disse que minha filha estava viva. Foi o melhor presente que eu podia receber. Mas quatro meses se passaram e estou completamente no escuro”, relatou ele a VEJA.

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Desde que o relatório das Nações Unidas a respeito da violência sexual foi divulgado, a preocupação de Shlomi aumentou: “Agam é resiliente, mas está em uma posição mais delicada do que a de um homem, neste sentido. O estupro sistêmico mostra que os terroristas não têm humanidade”.

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“O mundo não acreditou que o Hamas fez coisas tão terríveis. Mas não pode mais olhar para o lado e ficar em silêncio, especialmente por causa das evidências do que fizeram às mulheres e meninas”, conclui ele, que se encontra todas as semanas com ao menos um ministro do gabinete de guerra do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para cobrar que se esforcem mais para recuperar os reféns.

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