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França: Macron enfrenta primeira onda de greves, que deve durar 3 meses

Contra reformas, ferroviários e trabalhadores dos setores de energia e gás prometem duas paralisações por semana durante três meses

Por Reuters
Atualizado em 3 abr 2018, 16h31 - Publicado em 3 abr 2018, 12h49

Depois de um início de mandato marcado pelo dinamismo nas reformas, o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrenta a primeira onda de greves contra seu governo. A mais importante paralisação começou nesta terça-feira, organizada pelos sindicatos dos ferroviários, uma categoria que tem o poder de parar parcialmente o país.

O movimento é uma reação ao projeto de reforma discutido pelo governo Macron, que prevê o fim do estatuto exclusivo de aposentadorias – maquinistas se aposentam aos 52 anos -, o fim da estabilidade no emprego e a extinção de benefícios, como bilhetes grátis de trem para toda a família. Além disso, o projeto prevê o fim do monopólio da companhia e a abertura à concorrência internacional, em acordo com a União Europeia.

Essa paralisação teve início com o encerramento do feriado prolongado de Páscoa na França. Um total de 77% dos maquinistas da SNCF, companhia nacional ferroviária, deve cruzar os braços em um movimento de greve inédito desde os anos 1990.

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Insatisfeitos, os sindicatos da categoria programaram um calendário intenso de greve. Entre abril, maio e junho – início do período de férias na Europa -, os grevistas deixarão de trabalhar dois dos cinco dias úteis. O resultado prático será uma esperada pane no transporte público francês, essencialmente férreo (30 mil quilômetros de linhas funcionais e 15 mil trens circulando por dia).

A promessa dos sindicatos é impedir a circulação de sete a cada oito Trens de Grande Velocidade (TGVs, os trens-bala) e de quatro em cada cinco Trens Expressos Regionais (TER, que irrigam o interior do país). “Com uma greve dura dos ferroviários, todos os governos se dobraram. E Macron não é Deus na Terra”, afirma Fabien Villedieu, um dos líderes do sindicato Sud-Rail.

Outros setores

Trabalhadores dos setores de energia elétrica e gás juntaram-se ao calendário de greves, não apenas apoiando o estatuto exclusivo da SNCF, mas sua extensão a todo o funcionalismo público. Os dois setores são estratégicos, porque envolvem também a EDF, companhia que gere as plantas de energia nuclear, responsáveis por mais de 70% da eletricidade distribuída no país.

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Os movimentos no setor público, que envolvem também a coleta de lixo e universitários contra a criação de um sistema de seleção para ingresso na universidade pública, serão seguidos por trabalhadores de empresas privadas, como a companhia aérea Air France e o gigante supermercadista Carrefour.

Hoje, em meio a um evento público, Macron fez sua única declaração a respeito do movimento grevista. Abordado por um eleitor que lhe disse “Presidente, não ceda!”, o chefe de Estado respondeu: “Não se preocupe”. Porta-voz do principal partido da base de sustentação do governo, República em Movimento (LREM), Gabriel Attal disparou: “O importante seria talvez deixar para trás a cultura da greve”.

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Mas nos bastidores políticos o governo se prepara para seu grande teste frente a sindicatos potentes, que não se mobilizaram em 2017, quando da reforma trabalhista empreendida nos primeiros meses de gestão. Eleito com um programa reformista, que detalhava o projeto de transformação na SNCF, Macron será testado em sua capacidade de resistir à pressão das ruas, que nos últimos vinte anos enfraqueceu presidentes (Jacques Chirac e François Hollande foram abalados por grandes movimentos grevistas) e derrubou primeiros-ministros.

Para Jérôme Saint-Marie, cientista político e pesquisador no instituto de pesquisas Pollingvox, o presidente chega a uma encruzilhada no segundo ano de sua administração. Uma pesquisa realizada pelo instituto Elabe mostrou que 58% dos franceses consideram que o presidente é fiel a seu programa, 42% pensam que será eficaz para o desempenho da economia, mas só 25% acreditam que sua política é justa.

“Uma greve de transportes é quase uma greve geral na França. É a hora da verdade do macronismo”, adverte Saint-Marie. “Há duas possibilidades: ou há uma agregação, inclusive das greves privadas, e nesse caso haverá um grande encontro marcado dos que não votaram em Macron. Ou as pessoas pensarão que as greves prejudicarão o crescimento, penalizarão quem trabalha. Isso ainda não sabemos.”

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“Terça-feira negra”

Os reflexos do primeiro dia da greve já puderam ser sentidos no país. Só um de cada quatro trens estava circulando na região de Paris, disse a SNCF. A mídia francesa apelidou o dia de “Terça-feira Negra”, devido aos transtornos causados.

As plataformas da Gare du Nord, a estação de trens mais movimentada da capital, ficaram tão cheias que algumas pessoas caíram nos trilhos e tiveram que receber ajuda para voltar, mostraram imagens de televisão. Quem tem tentado evitar os trens enfrentou trânsito nas estradas.

“Entendo porque eles estão em greve”, disse Marie Charles, usuária do transporte intermunicipal de Paris. “Mas hoje é meu primeiro dia no novo emprego, então tenho que admitir que teria dispensado essa greve”.

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Nas redes sociais, as opiniões se dividem entre apoiadores e contrários à realização da greve.

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