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Extremismo dividiu Equador em dois, diz candidato à Presidência

Mais polarizada do que nunca e ainda sob a sombra do governo de Rafael Correa, nação sul-americana escolhe seu novo presidente neste domingo

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 fev 2021, 08h00

Neste domingo, 7, o Equador vai às urnas para escolher seu novo presidente em um ambiente de extrema polarização. Divididos entre a esquerda que representa a memória de Rafael Correa e uma direita que promete apagar qualquer rastro deixado pelo ex-presidente durante seus 10 anos de governo, os cidadãos enfrentam uma das mais importantes eleições dos últimos anos.

Um recorde de 16 candidatos competem para suceder o presidente conservador Lenín Moreno, que entregará o poder em 24 de maio, após quatro anos de um governo que chegou ao poder com o apoio da esquerda e se despede respaldado por empresários e organismos financeiros com o FMI. O economista Andrés Arauz, de 35 anos, e o ex-banqueiro Guillermo Lasso, de 65, são os favoritos na corrida.

Entre os candidatos que correm por fora impera o desejo de representar uma alternativa política mais moderada e que possa unir o país novamente. Um deles é Xavier Hervas, de 48 anos, que nunca ocupou cargos públicos. Concorrendo pela primeira vez à Presidência, o engenheiro natural da cidade Guaiaquil formalizou sua campanha pouco antes do prazo máximo de inscrições e se apoia nos votos jovens para tentar chegar ao segundo turno.

“No passado, os partidos políticos se enfrentaram de uma forma tão tóxica no Equador que dividiram os eleitores em dois extremos”, diz Hervas, que conversou por telefone com a VEJA na última sexta-feira 5. “No final das contas, todo esse movimento também desapontou e afastou muitas pessoas da política”.

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O candidato à Presidência do Equador, Xavier Hervas
O candidato à Presidência do Equador, Xavier Hervas (Divulgação/Divulgação)

Candidato pelo partido Esquerda Democrática (ID), se vende como uma alternativa progressista menos radical do que Arauz. “O governo correista até concretizou algumas obras, mas se envolveu de tal maneira com a corrupção que deixou de ser uma opção para muitos”, diz. “Essas são as eleições mais relevantes dos últimos anos, pois podem definir se nosso país seguirá como uma democracia ou será sequestrado por uma linha ideológica extremamente radical e corrupta”.

Polarização

Segundo as mais recentes pesquisas de opinião, Arauz, que concorre pela aliança União pela Esperança (Unes, esquerda), está à frente das intenções de voto totais, com 32%, seguido de Lasso (21%), que disputa com o movimento Creo.

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O economista tem o apoio de Correa e sua vitória significaria a volta do chamado “movimento correista” ao país. Impedido de concorrer após perder seus direitos políticos e ser condenado a 8 anos de prisão por corrupção, o polêmico ex-presidente depositou no jovem economista as esperanças para reconquistar o poder para a esquerda radical e nacionalista.

Arauz presidiu o Banco Central e foi ministro do Conhecimento e Talento Humano durante o governo de Correa (2007-2017). Ele prometeu abrir caminho para o retorno do ex-presidente, considerado por ele um “perseguido político”. O ex-presidente está na Bélgica desde 2017 e de lá conseguiu evitar a Justiça equatoriana que, segundo ele, foi manipulada por Moreno para sua condenação.

Os candidatos Andrés Arauz e Guillermo Lasso
Os candidatos Andrés Arauz e Guillermo Lasso (AFP/AFP)

Já Lasso tem como sua marca a oposição à esquerda. Três vezes candidato (2013, 2017 e 2021) à presidência do Equador, o ex-banqueiro terminou atrás de Moreno por apenas dois pontos percentuais no segundo turno em sua segunda tentativa.

“Vamos virar a página do socialismo do século XXI (promovido por Correa) e entrar em uma fase de plena democracia, de liberdade”, disse em sua campanha.

Um segundo turno parece bastante provável neste momento, segundo as últimas pesquisas. Para que a disputa fosse definida no primeiro turno, seria preciso que o vencedor obtivesse metade mais um dos votos válidos ou pelo menos 40% com vantagem de 10 pontos sobre o adversário mais próximo.

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Os “traços” de Correa

Apesar da ausência de Correa, as eleições presidenciais serão celebradas à sombra da disputa entre Moreno e seu antecessor e ex-aliado, que nos últimos quatro anos mergulhou o país, no poder desde 2007, em uma crise.

Moreno chegou ao poder impulsionado por Correa, de quem foi vice entre 2007 e 2013. Mas depois de assumir o poder em 2017, distanciou-se do ex-chefe de Estado por não compartilhar com suas posições, como a de enfrentar a imprensa, os bancos e os empresários, e deu uma guinada, retomando os vínculos com os Estados Unidos, país do qual o antecessor foi um duro crítico.

A credibilidade e a aprovação à gestão de Moreno caíram de quase 70% no começo de seu mandato a 7% em novembro, segundo a consultoria Cedatos. Uma vitória de Arauz acabaria com qualquer traço da direita na administração de Moreno, a quem o correísmo chama de “traidor”.

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Pandemia

As eleições deste domingo ocorrem apesar da pandemia de Covid-19, que já matou quase 15.000 pessoas no Equador. O país viveu cenas de horror no início da crise, quando algumas famílias da cidade de Guaiaquil foram obrigadas a queimar os corpos de seus parentes mortos nas ruas depois de não conseguirem atendimento de funerárias e dos serviços de emergência devido à sobrecarga do sistema.

Após um período de baixa nos casos, o país voltou a instalar toque de recolher e restrições no comércio em dezembro. A vacinação começou oficialmente no final de janeiro, mas ainda caminha a passos lentos e com pouca transparência sobre o total de doses disponibilizadas.

Para Xavier Hervas, a grande divisão política no país afastou a população até mesmo das discussões sobre a crise sanitária, esquecendo-se de responsabilizar o governo pela falta de ação. “Setores importantes da nossa sociedade, como a Academia e as alas produtivas e industriais, se afastaram da política e deixaram nosso país nas mãos da toxidade da política tradicional”, diz.

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O candidato ainda critica a lentidão com que a atual administração negocia a compra de doses e prepara a infraestrutura para a vacinação. “Isso tem acontecido em toda a América do Sul, mas em especial no Equador”, diz.

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