O chefe do governo da Espanha, Mariano Rajoy, prestou homenagem nesta sexta-feira às vítimas do ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou “País Basco e Liberdade”, em português), grupo separatista basco com ações também na França, cuja dissolução foi concluída oficialmente na quinta-feira.
“Devemos lembrar e prestar homenagem a todas as vítimas assassinadas. A elas, suas famílias e às centenas de espanhóis que sobreviveram à violência terrorista, mas que continuam a sofrer as sequelas da crueldade (do ETA)”, declarou Rajoy. “As investigações sobre os crimes do ETA vão continuar, seus crimes continuarão a ser julgados, e as condenações continuarão a ser executadas.”
Rajoy também prestou homenagem aos policiais, guardas civis, magistrados, jornalistas e associações que colaboraram na luta contra o ETA. Esses profissionais correspondem à maior parte das 853 pessoas mortas pelo ETA na sua campanha pela independência do País Basco e de Navarra, segundo contas do governo espanhol.
“Hoje, os protagonistas não podem ser os assassinos, mas as vítimas”, disse Rajoy, sem mencionar diretamente a conferência realizada na França para concluir o processo de dissolução do ETA, criado em 1959.
O ETA desistiu da luta armada em 20 de outubro de 2011 e anunciou que iria depor suas armas em 8 de abril de 2017.
Virar a página
A dissolução da organização separatista basca deve levar à “reconciliação”, segundo um membro do Grupo Internacional de Contato pela Paz no País Basco, durante no ato realizado na cidade francesa de Cambo-les-Bains.
“Hoje é um dia de celebração”, declarou o advogado sul-africano Brian Currin. Para ele, a autodissolução do ETA também é “um compromisso para participar do processo democrático” na Espanha, o que implica “a necessidade de reconciliação”.
O fim do grupo “mostra que o diálogo político pode existir, ainda que falte muito a ser feito para curar as feridas”, estimou, por sua vez, o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan.
O ex-dirigente do partido republicano norte-irlandês Sinn Fein Gerry Adams, advertiu que “a ira não é uma política, a vingança não é uma solução”.
“Construir a paz é muito mais difícil do que fazer a guerra” e o “ponto de partida tem que ser o diálogo”, acrescentou, lembrando o processo seguido pelo Sinn Fein no Ulster.
Punições
Após quatro décadas de atentados, sequestros e extorsões, o ETA proclamou na quinta-feira o “final de sua trajetória”, em uma declaração lida pelo veterano dirigente Josu Ternera, foragido desde 2002 e suspeito de cometer um atentado que deixou 11 mortos em 1987.
Vários oradores em Cambo-les-Bains lamentaram a ausência de representantes dos governos francês e espanhol. Gerry Adams pediu a Madri “sinais positivos em favor dos prisioneiros bascos”.
Os separatistas bascos exigem um relaxamento das condições de detenção dos cerca de 300 “etarras” presos, principalmente na França e na Espanha, e a transferência deles prisões no País Basco, mais perto de suas famílias.
Diante dessas reivindicações, Madri continuou dura. “O governo não vai mudar sua política penitenciária”, declarou o porta-voz do governo espanhol, Iñigo Méndez de Vigo.
“Os terroristas não conseguiram nada matando, nem parando de matar há alguns anos e não conseguirão nada anunciando sua dissolução (…) Não haverá impunidade”, martelou Mariano Rajoy.
O Coletivo de Vítimas do Terrorismo (Covite) exige que o ETA ajude a esclarecer, segundo seus números, 358 crimes. Também pede que condene o terror e pare de prestar homenagem a seus militantes.
Em um comunicado divulgado em 20 de abril, o ETA disse lamentar “os erros cometidos”, mas pediu perdão apenas às vítimas que não fizeram parte do conflito, sugerindo que as demais eram alvos legítimos.
A União Europeia também comemorou o fim do último grupo armado em seu território. “Não há lugar na UE para terrorismo, armas e fuzis. A União Europeia está baseada no Estado de Direito”, declarou o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas.
(Com AFP)