Em Israel, oposição forma gabinete e Netanyahu deve deixar o poder
Coalizão pode encerrar ciclo de 12 anos de Benjamin Netanyahu, sob pressão por processos judiciais ligados a acusações de corrupção
Em meio a uma corrida contra o relógio, as principais forças de oposição em Israel chegaram a um acordo nesta quarta-feira, 2, para formar uma coalizão. O acordo pode encerrar o governo de 12 anos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, atualmente sob forte pressão por processos ligados a acusações de corrupção.
A coalizão une diferentes espectros políticos, incluindo a extrema direita do Yemina, de Naftali Bennet, um antigo aliado do premiê, e, pela primeira vez, uma legenda que representa árabes-israelenses.
A menos de uma hora para o fim do prazo para confirmar a existência de um acordo, o líder do bloco, Yair Lapid, anunciou que havia apoio suficiente.
Ele recebeu do presidente Reuven Rivlin no início de maio a tarefa de montar o novo governo em até 28 dias e, caso não conseguisse, perderia o direito de conduzir as negociações, o que colocaria o país no caminho de sua quinta eleição em pouco mais de dois anos.
“Este governo irá trabalhar por todos os cidadãos de Israel, aqueles que votaram por ele e aqueles que não. Fará de tudo para unir a sociedade israelense”, disse Lapid em publicação no Twitter.
הודעתי כעת לכבוד נשיא המדינה, ראובן (רובי) ריבלין, כי עלה בידי לסיים בהצלחה את מלאכת הרכבת הממשלה.
אני מתחייב, כי הממשלה הזו תעבוד בשירותם של כלל אזרחי ישראל, אלה שהצביעו עבורה ואלו שלא. היא תכבד את מתנגדיה ותעשה ככל שביכולתה לאחד ולחבר בין כל חלקי החברה הישראלית.— יאיר לפיד – Yair Lapid🟠 (@yairlapid) June 2, 2021
O novo governo, que ainda precisa ser confirmado pelo Parlamento em uma votação esperada para a próxima semana, prevê que Lapid e Bennet assumirão o cargo de Netanyahu, em um sistema de rodízio.
Bennet, ex-ministro da Defesa e defensor dos assentamentos na Cisjordânia, considerados ilegais pela Organização das Nações Unidas, seria o primeiro, ficando no cargo até 2023. Dois anos depois, Lapid entraria no cargo.
Embora seja uma aliança improvável, todos os partidos envolvidos na coalizão compartilham o desejo de encerrar a era Netanyahu no comando do governo israelense e pôr fim a instabilidade na política israelense após quatro eleições em dois anos.
O bloco formado pela oposição, no entanto, tem apenas 61 das 120 cadeiras do Legislativo, o que levanta chances de uma reviravolta. Caso perca apoio de um deputado, a aliança perderia a maioria e não conseguiria tirar Netanyahu do poder.
Negociações
A legenda de Yair Lapid foi a segunda mais votada nas eleições de março depois do Likud, liderado por Netanyahu. Depois que o premiê falhou em sua primeira tentativa de negociar um governo, o líder do Yesh Atid ganhou um mandato para tentar formar sua própria aliança de oposição.
A sorte estava contra Lapid até o último domingo, 31, quando Naftali Bennett anunciou suas intenções de unir forças com o político de centro. “Depois de quatro eleições e mais dois meses, foi provado a todos nós que simplesmente não há governo de direita possível liderado por Netanyahu. É uma quinta eleição ou um governo de unidade”, disse o líder do ultradireitista Yemina em um discurso exibido na TV.
Após o anúncio de Bennett sobre sua intenção de se aliar ao bloco da oposição Benjamin Netanyahu o acusou de “trair” a maioria dos cidadãos que votaram em partidos da direita e alertou para o “perigo” de haver um governo de esquerda.
“Em vez de criar um governo de esquerda perigoso”, quando nesta quarta-feira terminar o prazo de Lapid para formar uma coalizão, “poderíamos formar um governo de direita” com rotatividade no poder junto a Bennett e ao direitista Gideon Sa’ar, do partido New Hope, disse Netanyahu, reiterando a mesma proposta feita nesta manhã e que já foi rejeitada pelo político ultranacionalista.
De acordo com Netanyahu, “isto é muito pouco convencional e bastante distorcido, mas a possibilidade de um governo de esquerda é ainda pior”, insistindo que a maioria dos israelenses votou em um governo de direita porque é “o melhor para a segurança e o futuro de Israel”.
Além da posição de premiê, Netanyahu também pode perder sua imunidade política com o fim de seus 12 anos de mandato. O premiê é réu em três processos por abuso de poder e corrupção, e se agarra ao cargo para escapar da Justiça, estimulando o impasse político que paralisa o país há dois anos.
Bibi, porém, já foi apelidado de ‘mágico’ da política israelense por sua impressionante capacidade de persuasão e sobrevivência. Exatamente por isso muitos analistas consideram prematuro dar como encerrado o seu reinado de 12 anos.