A aliança improvável que ganha força contra Netanyahu em Israel
Direita, centro e esquerda se unem para acabar com mandato de 12 anos do premiê; mistura de ideologias pode dificultar concretização da coalizão
Após quatro eleições e quase dois meses de negociação, uma aliança improvável entre partidos da oposição de direita, centro e esquerda se solidifica contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Israel. Se a frágil coalizão for aprovada, a mudança no balanço de poder colocará fim ao mandato de 12 anos de Bibi, o político mais longevo do país.
A coalizão de oposição que se forma é encabeçada por Yair Lapid, ex-ministro das Finanças e líder do partido centrista Yesh Atid. Desde este domingo 30, também conta com o apoio da legenda ultranacionalista religiosa Yemina, liderada pelo representante atual da extrema-direita no país, Naftali Bennett.
De acordo com a imprensa israelense, o bloco de mudança – como está sendo chamado – ainda contaria com membros de outros dois partidos de direita (New Hope e Yisrael Beitenu), do partido de centro Azul e Branco e de duas legendas da esquerda (Trabalhista e Meretz). Para ser aprovada no Parlamento, a aliança ainda precisaria do respaldo da Lista Unida ou Raam, ambos partidos árabes.
A mistura de ideologias em que se apoia a coalizão pode tornar sua concretização bastante difícil. Mas embora não tenham muito em comum, todos compartilham o desejo de encerrar a era Netanyahu no comando do governo israelense e pôr fim a instabilidade na política israelense após quatro eleições em dois anos.
As negociações
A legenda de Yair Lapid foi a segunda mais votada nas eleições de março depois do Likud, liderado por Netanyahu. Depois que o premiê falhou em sua primeira tentativa de negociar um governo, o líder do Yesh Atid ganhou um mandato para tentar formar sua própria aliança de oposição.
A sorte estava contra Lapida até este domingo, quando Naftali Bennett anunciou suas intenções de unir forças com o político de centro. “Depois de quatro eleições e mais dois meses, foi provado a todos nós que simplesmente não há governo de direita possível liderado por Netanyahu. É uma quinta eleição ou um governo de unidade”, disse o líder do ultradireitista Yemina em um discurso exibido na TV.
O governo de unidade seria organizado com a distribuição dos principais cargos do gabinete entre os partidos que formarem a aliança. O posto de primeiro-ministro seria revezado entre Yair Lapid e Naftali Bennett por períodos iguais.
As negociações para a formação da aliança devem ser concluídas até esta quarta-feira, 2. Caso nenhum acordo seja alcançado até lá, o presidente Reuven Rivlin pode optar por conceder um novo mandato de negociação a um terceiro partido do Parlamento. Ele também poderia dar mais uma chance a Netanyahu. Se um novo governo não for formado até 23 de junho, novas eleições serão obrigatoriamente convocadas.
‘Traição’
Após o anúncio de Bennett sobre sua intenção de se aliar ao bloco da oposição Benjamin Netanyahu o acusou de “trair” a maioria dos cidadãos que votaram em partidos da direita e alertou para o “perigo” de haver um governo de esquerda.
“Em vez de criar um governo de esquerda perigoso”, quando nesta quarta-feira terminar o prazo de Lapid para formar uma coalizão, “poderíamos formar um governo de direita” com rotatividade no poder junto a Bennett e ao direitista Gideon Sa’ar, do partido New Hope, disse Netanyahu, reiterando a mesma proposta feita nesta manhã e que já foi rejeitada pelo político ultranacionalista.
De acordo com Netanyahu, “isto é muito pouco convencional e bastante distorcido, mas a possibilidade de um governo de esquerda é ainda pior”, insistindo que a maioria dos israelenses votou em um governo de direita porque é “o melhor para a segurança e o futuro de Israel”.
Além da posição de premiê, Netanyahu também pode perder sua imunidade política com o fim de seus 12 anos de mandato. O premiê é réu em três processos por abuso de poder e corrupção, e se agarra ao cargo para escapar da Justiça, estimulando o impasse político que paralisa o país há dois anos.
Bibi, porém, já foi apelidado de ‘mágico’ da política israelense por sua impressionante capacidade de persuasão e sobrevivência. Exatamente por isso muitos analistas consideram prematuro dar como encerrado o seu reinado de 12 anos.