Em entrevista ao jornal turco Zaman, a presidente Dilma Rousseff apontou afinidades entre Brasil e Turquia e afirmou que ambos os países são potências emergentes do cenário político mundial. A presidente está na Bulgária, onde amanhã visita a terra natal de seu pai. Na sexta, Dilma participa de um fórum econômico Brasil-Turquia em Ancara, última parada de seu giro de sete dias iniciado no fim de semana, quando desembarcou na Bélgica.
“Brasil e Turquia ocupam posições de importância crescente em questões internacionais”, afirmou Dilma ao jornal. Segundo a presidente, ambos os países alcançaram a liderança regional por meio de um modelo de crescimento “inclusivo e democrático”. Opinião contrária tem o historiador turco Soner Cagaptay, para quem seu país está longe de ser um modelo de democracia. “O governo islâmico usa o argumento de que sofre tentativas de golpe como desculpa para perseguir a oposição. A imprensa está acuada, e os tribunais foram dominados pelo partido do governo”, disse o historiador, em entrevista à revista VEJA.
Entre outras proximidades com a Turquia, Dilma aponta na entrevista uma política de vizinhança de “problema zero”, o que pode ser traduzida como o ideal brasileiro de uma “América do Sul próspera, pacífica e totalmente integrada”. A presidente não faz menção à recente decisão do governo turco de expulsar o embaixador de Israel, que marca o rompimento de décadas de boas relações entre as duas nações.
O repórter do Zaman perguntou a posição do Brasil especificamente sobre a Síria, país que faz fronteira com a Turquia. A resposta de Dilma é protocolar: “Repudiamos a brutal repressão da população civil, mas estamos convictos de que, para a comunidade internacional, o uso da força deve ser o último recurso”.
O jornal turco instou Dilma a comentar os próximos passos diplomáticos e lembrou a tentativa de acordo patrocinada por Brasil e Turquia – “uma aliança que as pessoas acharam maluca”, diz o repórter – para dissuadir o Irã de suas ambições nucleares, no final do governo Lula. Dilma respondeu que tanto Brasil como Turquia estão “prontos para assumir um papel mais ativo” e que “compartilham posições semelhantes sobre diversos temas”, citando a crise financeira internacional e o apoio ao reconhecimento do Estado palestino na ONU.
Hipocrisia – Sobre a visão que Dilma tem a crise financeira internacional, o jornal britânico Financial Times publicou hoje um artigo com duras críticas. Conforme o texto, os recentes conselhos da presidente aos europeus são irreais, além de hipócritas. “O país que ocupa o 152º lugar no ranking do Banco Mundial por sua pesada carga tributária está dando conselhos contra o aumento de impostos”, ironiza a autora do texto, Samantha Pearson. “Dilma falou sobre a necessidade de combater o protecionismo apenas uma semana depois aumentar a taxação de carros importados em 30 pontos porcentuais.”