Depois da dramática denúncia da Procuradoria-Geral da Pensilvânia, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos iniciou nesta quinta-feira (18) uma investigação sobre casos de abuso sexual de crianças cometidos por membros da Igreja Católica naquele estado. Em agosto, a procuradoria havia divulgado relatório sobre abusos de 301 “padres predadores” contra mais de 1.000 menores de idade desde o final da década de 1940.
A importância dessa iniciativa, segundo o jornal Washington Post, está na mudança de atitude do governo federal americano. Por décadas, Washington esquivou-se de tomar medidas contra padres pedófilos, muitas vezes encobertos por seus colegas e superiores, e em favor de suas vítimas. “Esta é uma decisão de tirar o fôlego, impressionante e muito bem-vinda”, afirmou o advogado Michael Dolce, defensor de vítimas de abuso sexual.
Segundo o Post, o procurador dos Estados Unidos na Filadélfia, William McSwain, já começou a expedir intimições a religiosos e líderes da Igreja Católica na Pensilvânia. Ele pretende saber se padres, bispos, seminaristas e outras pessoas relacionadas à Igreja no estado cometeram crimes federais. McSwain também pediu aos bispos não esconderem evidências de que qualquer subordinado tenha tocado crianças com propósitos ilícitos.
Os bispos receberam instruções de enviar à Produradoria imagens e mensagens eletrônicas com teor sexual que tenham sido enviados por potenciais “predadores” e de contatar a polícia, como o próprio papa Francisco tem recomendado. As intimições também se referem ao acesso dos procuradores a arquivos, inclusive os secretos e confidenciais, das dioceses e a documentos relacionados à hierarquia, finanças, cobertura de seguro e outros, segundo o jornal The Guardian.
O relatório da Procuradoria caiu como uma bomba entre os católicos americanos, ao ser divulgado em 14 de agosto. A apuração foi conduzida pelo procurador-geral da Pensilvânia, Josh Shapiro, e detalha as tentativas sistemáticas dos líderes da Igreja da Pensilvânia e do Vaticano de encobrir os crimes. “Eles queriam encobrir o encobrimento”, disse Shapiro.
Em uma tentativa de limpar-se do abuso sexual cometido por seus sacerdotes no passado e de evitar novos casos, pelo menos 50 das 196 dioceses e arquidioceses nos Estados Unido divulgaram listas de padres e leigos acusados de abuso sexual. A Arquidiocese de Washington tomou a mais recente iniciativa, ao tornar públicos os nomes de 31 sacerdotes. Há um mês, a renúncia do cardeal arcebispo Theodore McCarrick, de Washington, foi aceita pelo papa Francisco. Um dos mais populares líderes católicos dos Estados Unidos, McCarrick foi acusado de abuso de menores e de adultos.