Maior economia da União Europeia — respondendo por mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco, segundo o Banco Mundial —, a Alemanha está em quarentena desde o início de março para conter o avanço da pandemia da Covid-19. As medidas de isolamento social devem permanecer até 20 de abril pelo menos, mas um grupo interdisciplinar de pesquisadores associados ao think tank alemão Instituto IFO apontam que as atividades não essenciais deveriam ser retomadas no país de maneira “gradual e ajustada aos riscos” decorrentes.
“Medidas futuras devem ser projetadas e preparadas de forma que, por um lado, assegurem bons cuidados de saúde e, por outro, possam ser sustentadas durante o período de tempo necessário”, afirma o grupo de pesquisadores, que envolve especialistas em saúde, direito e economia, em um estudo do IFO, que não representa o governo alemão, publicado na sexta-feira 3.
Embora o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, tenha alertado na segunda-feira 6 de que não é possível prever o fim das medidas de isolamento social no país, o mesmo estudo do IFO calcula uma perda para a economia alemã de 4,3% a 7,5% do PIB em um mês de quarentena.
A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou a suspensão das atividades escolares e o fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais e de templos religiosos em 16 de março. Na semana seguinte, Merkel expandiu as restrições de quarentena e proibiu aglomerações públicas de mais de duas pessoas sob pena de multa de até 25.000 euros.
“Se as atuais restrições fossem eliminadas completamente, o vírus poderia novamente se espalhar muito rapidamente na população em geral não imune e causar um grande número de doenças graves”, ressalvam os pesquisadores associados ao IFO.
Mais de 102.000 pessoas estão contaminadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador da Covid-19, até esta terça-feira, 7, na Alemanha, segundo estimativa do jornal alemão Bild com base em dados das Secretarias Estaduais de Saúde. Mais de 1.700 pacientes morreram no país.
Medidas recomendadas
O IFO defende o começo da reabertura pelos setores que, como indústrias muito automatizadas, apresentem baixo risco de contaminação e que, como escolas e creches, envolvam poucas pessoas consideradas vulneráveis à Covid-19.
Dentre outros critérios para a retomada econômica, está a prioridade a setores de alto valor agregado à economia, como o setor manufatureiro, a não ser que as atividades estejam bem adaptadas ao modelo de home office, tão promovido mediante o isolamento social.
“Medidas futuras devem ser projetadas e preparadas de forma que, por um lado, assegurem bons cuidados de saúde e, por outro, possam ser sustentadas durante o período de tempo necessário”, diz o Instituto IFO
Além disso, o IFO estima que regiões da Alemanha com pouco potencial para disseminar o vírus — por serem remotas, por exemplo — ou com maior número de vagas livres em leitos devem ser as primeiras a amenizarem as restrições da quarentena.
Áustria
Diferentemente do caso alemão, o governo conservador da Áustria, liderado pelo primeiro-ministro, Sebastian Kurz, já comanda a reabertura econômica em seu país, que deve ser o primeiro a retomar parcialmente as atividades não essenciais na Europa na semana que vem.
Estabelecimentos comerciais não essenciais com área inferior a 400 metros quadrados ou onde o cliente realiza sua compra sem atendimento estarão abertos a partir de terça-feira, 14. Todas as atividades não essenciais estão previstas para serem retomadas a partir de 1º de maio.
“Haverá uma reabertura passo a passo”, anunciou o premiê austríaco, de 33 anos, na segunda-feira 6.
A Áustria, assim como a Alemanha, está sob quarentena desde 16 de março. Segundo pesquisa do instituto de análise americano Gallup, mais de 80% dos austríacos apoiam as medidas de isolamento social, que levou à suspensão das aulas e ao fechamento de todas as atividades não essenciais.
Com 8,8 milhões de habitantes (equivalente a 4% da população brasileira), a Áustria reportou, assim como o Brasil, cerca de 12.500 casos da Covid-19, de acordo com estimativa do jornal americano The New York Times.
Em número de mortes segundo o Times, os austríacos contabilizaram menos de 250, enquanto os brasileiros chegam a quase 600.
China
Primeiro epicentro da pandemia da Covid-19, a China — que teve o seu pico de crescimento no número de casos em janeiro, segundo o Times — começou a reabrir sua economia, responsável por mais de 15% do PIB mundial, em meados de março.
Algumas regiões do país encerraram medidas de quarentena que envolviam até mesmo o isolamento total de cidades. Em alguns casos, as pessoas precisam provar por meio de documento que estão saudáveis para poder circular.
Com base na Comissão de Desenvolvimento e Reforma Nacional, um órgão do governo chinês, a emissora americana CNN reporta que mais de 90% das indústrias na maioria das províncias chinesas estavam em funcionamento até 17 de março. O índice, porém, cai para 60% entre pequenas e médias empresas.
Dentre as principais medidas do governo do presidente Xi Jinping para a retomada econômica, está a convocação de companhias aéreas e ferroviárias para transportar a mão de obra migrante, que envolve cerca de 290 milhões de trabalhadores, segundo a CNN.
De acordo com o Times, a China é o quinto país mais atingido pela pandemia até esta terça-feira, tendo registrado quase 84.000 casos da Covid-19 e cerca de 3.300 mortes.