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Por que a taxa de mortalidade do coronavírus é mais baixa na Alemanha?

O preparado sistema de saúde, o alto índice de testes e as casas com menor número de moradores contribuem para o número reduzido de óbitos no país

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 mar 2020, 18h28 - Publicado em 23 mar 2020, 16h06

Apesar de estar entre os países mais afetadas pela pandemia do novo coronavírus, a Alemanha registrou um número relativamente baixo de mortes em comparação com seus vizinhos europeus. A Itália, ao contrário, traz mais óbitos diariamente em todo o mundo.

Os últimos dados oficiais publicados pela agência de controle e prevenção de doença na Alemanha, o Instituto Robert Koch (RKI), na manhã deste domingo 22 mostram que há 22.672 infecções confirmadas e 86 mortes no país. Ou seja, a taxa de mortalidade está atualmente em 0,4%, muito abaixo do porcentual de 8,3% contabilizado pelo governo italiano ou de 3,4% registrado em todo o mundo.

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Todos os dias, o governo publica a idade de uma amostra dos infectados: a média é de 47 anos, e pouco mais de 18% tem mais de 60 anos. A baixa idade média dos infectados quando comparada a de outros países europeus, como a Itália, pode ajudar a explicar a taxa de mortalidade, já que a população de risco para a Covid-19 é a idosa.

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Na Espanha, por exemplo, 48% dos infectados têm mais de 60 anos, e na Itália, 58% são idosos. Apesar de a Alemanha ter uma média de idade baixa entre os pacientes do novo coronavírus, o país é o segundo na Europa com maior número de habitantes com mais de 65 anos (25%), atrás apenas da Itália (26%).

O que pode explicar o número baixo de óbitos no país, em especial entre idosos? Médicos e funcionários do serviço de saúde alemão têm sido criteriosos ao responder essa pergunta, afirmando que ainda é cedo para comparar a taxa de mortalidade alemã com a dos demais países.

Segundo o RKI, a curva da Covid-19 está se achatando no país devido às medidas restritivas impostas pelo governo de Merkel. No entanto, Lothar Wieler, presidente do instituto, disse que essa tendência só pode ser confirmada quando todos os dados tiverem sido coletados na quarta-feira, 25.

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Intrigados com o cenário alemão, contudo, especialistas de todo o mundo levantaram algumas hipóteses que podem ajudar a explicar a baixa taxa de mortalidade no país.

Sistema de saúde

O preparado sistema de saúde alemão é apontado como uma das principais razões para explicar os bons índices de recuperação de pacientes no país. Com 25.000 leitos de UTI completos, com suporte respiratório, a Alemanha está bem equipada em comparação a seus vizinhos europeus. A França possui apenas cerca de 7.000, e a Itália e o Reino Unido, cerca de 5.000 cada um.

“Temos visto muitos países entrarem em colapso por falta de disponibilidade de Unidades de Terapia Intensiva”, avalia diz Eliseu Alves Waldman, epidemiologista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). “E a dificuldade não está somente na criação de novos leitos, mas também na dificuldade em encontrar profissionais com treinamento especializado para as UTIs”.

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O limite total de pacientes suportados pelo sistema alemão ainda não foi alcançado, segundo as autoridades. Os hospitais locais têm tido mais tempo para limpar os leitos, organizar equipamentos e redistribuir os funcionários do que as clínicas em outros locais.

Um estudo da Johns Hopkins University comparou o número de leitos de UTI disponíveis em cada país com o total de habitantes. A Alemanha aparece em segundo lugar no ranking mundial, com 29,2 leitos para cada 100.000 habitantes, atrás somente dos Estados Unidos, que tem 34,7 leitos para cada 100.000 cidadãos. Em território americano, contudo, o acesso à saúde é mais restrito e caro do que na Europa.

“Pela disponibilidade dos serviços, os Estados Unidos têm menos resiliência para enfrentar uma situação como essa”, aponta Waldman. O governo americano já registrou mais de 35.000 casos de coronavírus e 471 mortes.

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O Brasil aparece em terceiro lugar na lista, com 20,3 leitos de UTI para cada 100.000 habitantes. Especialistas apontam, contudo, que existem discrepâncias na disponibilidade do recurso entre os estados do país. Além disso, há no país 61.219 respiradores e ventiladores em funcionamento. De acordo o Ministério da Saúde, 43.733 deles estão à disposição de pacientes do SUS.

Testes

Especialistas apontam que o teste precoce também pode ser outro fator para explicar a baixa mortalidade na Alemanha. O país possui uma rede de laboratórios independentes, muitos dos quais começaram a realizar testes para o novo coronavírus em janeiro, quando os primeiros casos foram registrados no país.

O Instituto Robert Koch afirmou que pode realizar 160.000 testes por semana. Qualquer pessoa que esteja apresentando sintomas, tenha entrado em contato com um caso confirmado ou tenha retornado recentemente de uma zona de risco pode pedir para submeter-se ao teste. O país pode ter feito até 4.000 testes para cada 1 milhão de pessoas, muito acima dos 625 por 1 milhão de cidadãos feitos pela Espanha, por exemplo.

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O fato de que os alemães estão sendo testados desde o início da pandemia e mesmo quando apresentam apenas sintomas leves da doença pode também dar uma dimensão melhor do alcance real da Covid-19 na Alemanha. Uma melhor capacidade de detectar os casos reduz as taxas brutas de mortalidade: se todas as infecções são contabilizadas, a proporção de mortos por infectados será menor.

Outra explicação mencionada pela imprensa alemã pode ser que o país, diferentemente de outros, tende a não testar aqueles que já morreram. “Não consideramos os testes post-mortem um fator decisivo. Trabalhamos com o princípio de que os pacientes são testados antes de morrerem”, disse o RKI à agência de notícias AFP.

Isso significa que, se uma pessoa não vai ao hospital e morre em sua casa, há uma grande chance de ela não ser incluída nas estatísticas da Covid-19.

Outros fatores

Outros fatores ainda foram levantados como possíveis razões para explicar a baixa taxa de mortalidade, como o fato de que as casas no país costumam abrigar famílias menores, e que os alemães saem da casa dos seus pais mais cedo do que outros europeus. Com menos pessoas em cada residência, o isolamento social pode ser mais efetivo.

“A Alemanha é um pais rico, com fecundidade baixa e onde existem boas condições de moradia. Boa parte da população pode morar em casas com poucas pessoas e com boas condições e, dessa forma, a quarentena pode ter mais sucesso”, diz Eliseu Alves Waldman. “Ao contrário do Brasil, que pode enfrentar problemas quando os casos atingirem com mais força as áreas periféricas. Pela própria característica urbana dessas comunidades, a transmissão pode acontecer mais facilmente, e a quarentena pode ter resultado menor”.

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