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COP26: O que foi alcançado e os desafios que ainda aguardam solução

Especialistas se decepcionaram com rascunho do acordo final, que foi suavizado durante as negociações do evento

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 nov 2021, 13h09 - Publicado em 12 nov 2021, 12h09

A COP26, conferência do clima das Nações Unidas que aconteceu nas últimas semanas na Escócia, chega ao fim nesta sexta-feira, 12. Entre acordos sobre a desflorestação e redução de emissões, muitos marcos foram anunciados durante o evento. Especialistas e líderes mundiais, porém, acreditam que avanços mais ambiciosos são necessários nos próximos anos para conter o aquecimento global.

Durante as últimas semanas, 200 países apresentaram seus planos de corte de emissões até 2030 e negociaram novas metas. Todos eles concordaram em 2015 em promover mudanças para manter o aquecimento global “bem abaixo” de 2°C acima dos níveis pré-industriais – e tentar atingir 1,5°C – para evitar uma catástrofe climática.

Ao todo, foram anunciados pelo menos 28 acordos, entre pactos gerais e bilaterais, ao longo do evento. A seguir, entenda quais foram os principais avanços para atingir as metas e quais são os desafios que ainda precisam ser abordados.

Florestas

Nos primeiros dias da conferência, representantes de mais de cem países, entre eles China e Brasil, assinaram um acordo para proteção de florestas que tem como meta zerar o desmatamento no mundo até 2030. O pacto prevê 19,2 bilhões de dólares em recursos públicos e privados para ações ligadas à preservação, combate a incêndios, reflorestamento e proteção de territórios indígenas.

Embora alguns ativistas expressem sua desconfiança em relação ao compromisso formalizado pelo Brasil, a assinatura do acordo pelo país que abriga a maior floresta tropical do planeta, foi considerada a primeira grande vitória da COP.

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Iniciativas anteriores não foram bem sucedidas em parar o desmatamento, mas esta é mais bem financiada. No entanto, não está claro como o pacto será monitorado.

“A declaração, apesar de não ser um acordo global vinculante, mostra a relevância do combate ao desmatamento para o centro do debate. Isso nos lembra como o governo Bolsonaro vem tratando nossas florestas e os povos da floresta, destruindo a legislação socioambiental e os direitos territoriais duramente conquistados”, afirma Maureen Santos, coordenadora do Grupo Nacional de Assessoria da FASE e membro do Grupo Carta de Belém.

A proteção das florestas é uma das ações mais importantes para conter o avanço da crise climática. Atualmente quase um quarto (23%) das emissões globais vêm de atividades de uso da terra, como extração de madeira, desmatamento e agricultura.

Emissões e mudança climática

O rascunho do documento final da COP26, apresentado nesta sexta-feira, 12, propõe a “eliminação progressiva do uso sem restrições” do carvão e dos “subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis”. A versão final do acordo ainda está sendo negociada por representantes dos 193 países que participam da conferência, mas as mudanças feitas até agora já foram criticadas por especialistas.

A primeira versão do texto, que falava de forma mais enfática sobre o fim do uso do carvão e de outros combustíveis fósseis, foi suavizada. Para o diretor da Iniciativa do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, Alex Rafalowicz, as demandas não são suficientes. “Esses qualificadores minam completamente a intenção. São lacunas tão grandes que você poderia dirigir um caminhão por eles”, afirmou à agência Associated Press.

Os especialistas aguardam agora a versão final do texto, que deve ser aprovada pelas nações durante o final de semana. Cada país também ficou responsável por emitir suas metas pessoais de redução de emissões.

A nível de compromissos com a redução das emissões de carbono, a Índia fez um dos anúncios mais ambiciosos. O primeiro-ministro Narendra Modi comprometeu-se a gerar metade da electricidade do país com fontes renováveis até 2030 e chegar ao nível zero até 2070.

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O Brasil atualizou a sua meta, comprometendo-se a reduzir as emissões em 50% até 2030 e a atingir a neutralidade de carbono até 2050. Jair Bolsonaro tratou do compromisso em um discurso de cerca de três minutos transmitido no pavilhão do governo brasileiro em Glasgow. Como ele não foi à COP, a fala não pode ser exibida no salão principal do evento, onde os principais líderes do mundo acompanham a discussão.

A própria UNFCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), porém, afirmou que as metas apresentadas de cortar em 50% das emissões de gases do efeito estufa até 2030 ainda são menores do que o esperado.

Mesmo com a atualização das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), ainda haverá um aumento de 13,7% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030, em comparação com o ano de 2010. Antes da conferência, o aumento estava calculado para 16%.

Para alguns especialistas, o maior avanço em termos de emissões foi a assinatura do Acordo do Metano, que estabeleceu o compromisso de cortar em 30% as emissões do gás poluente até 2030. Mais de 100 países aderiram ao compromisso.

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O acordo inclui metade dos 30 principais emissores de metano, que respondem por dois terços da economia global. O Brasil – o quinto maior emissor do gás – aparece na lista. “Nós somos o maior exportador de carne e teremos de ver o reflexo disso na pecuária”, explica Samanta Pineda, advogada brasileira especialista em Direito Ambiental e palestrante da COP-26.

Para a especialista, é essencial saber como serão os financiamentos climáticos e estabelecer de forma mais clara as regras do mercado de carbono mundial para atingir a meta e incentivar práticas melhores nas microesferas da agricultura e entre empresários.

A China, por outro lado, sinalizou que não deve assinar o compromisso. O governo de Pequim afirmou já fazer o suficiente na área, mas foi muito criticado por organizações internacionais e especialistas pela decisão.

Paralelamente, 12 nações assinaram uma aliança pelo fim dos combustíveis fósseis. Intitulada Beyond Oil and Gas Alliance (BOGA), a iniciativa é liderada por Costa Rica e Dinamarca e tem 12 integrantes — entre eles, França, Irlanda, Suécia, Portugal e territórios subnacionais, como Califórnia e Quebec. Grandes produtores de combustíveis fósseis, porém, como Estados Unidos, Arábia Saudita, China, Rússia, Canadá e Brasil, não aderiram ao pacto.

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Os integrantes da iniciativa se comprometeram a descontinuar processos de concessões e licenciamentos e a definir uma data, alinhada com o Acordo de Paris, para encerrar a produção e exploração de petróleo e gás, responsáveis por 90% das emissões de gás carbônico na atmosfera.

Além disso, os dois maiores emissores de gases de efeito de estufa do mundo, China e Estados Unidos, anunciaram um acordo bilateral para um reforço no combate à mudança climática. Entre outras coisas, o governo de Joe Biden se comprometeu a alcançar eletricidade 100% livre de poluição de carbono até 2035. Já a China prometeu reduzir “gradualmente” seu consumo de carvão a partir de 2026.

O acordo foi assinado na COP após 30 reuniões virtuais feitas durante 10 meses.

Mais de 1.046 empresas, que representam cerca de 23 trilhões de dólares em capitalização de mercado, o que é mais que o PIB dos Estados Unidos, também anunciaram seu compromisso de trabalhar pelo limite de aumento da temperatura em 1.5°C.

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