Congressistas criticam aproximação dos EUA com Cuba
Críticas vieram tanto de republicanos como de democratas. 'Obama perdoou comportamento brutal do governo cubano', disse senador democrata
O anúncio de aproximação com Cuba feito nesta quarta-feira por Barack Obama desagradou alguns senadores e deputados, inclusive democratas, que viram com desconfiança os planos para normalizar relações diplomáticas com a ilha.
Um senador democrata chegou a afirmar que o acordo para a libertação de Alan Gross em troca de três agentes cubanos que cumpriam pena nos EUA “criou um precedente perigoso” e colocou vidas americanas em risco. Gross, funcionário da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês), foi solto depois de cinco anos preso na ilha.
“As ações do presidente Obama perdoaram o comportamento brutal do governo cubano”, disse o senador democrata Bob Menendez, que é presidente do Comitê de Relações Exteriores da Casa.
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“Negociar Gross por três criminosos condenados estabelece um precedente perigoso. É um convite para que regimes ditatoriais e brutais usem americanos que estão no exterior como moeda para barganhas. Eu temo que as ações de hoje vão colocar em risco milhares de americanos que trabalham no exterior apoiando a sociedade civil, o acesso à informação e promovendo reformas democráticas”, acrescentou. “Essa transação assimétrica vai provocar mais repressão de Cuba contra opositores e o endurecimento do governo ditatorial em relação ao seu povo”.
O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano John Boehner, também criticou duramente a mudança de política do presidente Obama em relação a Cuba, que considerou “mais uma em uma longa linha de concessões sem sentido” a ditadores brutais. “As relações com o regime dos Castro não devem ser revisitadas nem normalizadas até que o povo cubano desfrute de liberdade, e não um segundo antes disso”.
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O senador republicano Marco Rubio, que vai assumir em janeiro a presidência do subcomitê de Relações Exteriores para o Hemisfério Ocidental, divulgou comunicado avisando que vai usar seu novo cargo para “bloquear” a reaproximação, que ele classificou como perigoso e desesperado. “Isso é um absurdo e faz parte do posicionamento dessa administração para mimar ditadores e tiranos”, criticou. “Apaziguar os irmãos Castro vai incentivar tiranos de Caracas a Teerã e Pyongyang a tentar levar vantagem sobre a ingenuidade do presidente Obama nos seus últimos dois anos no cargo”.
O senador republicano Mitch McConnell, que será o novo líder da maioria no Senado a partir do ano que vem, endossou as palavras de Rubio. Seu colega Lindsey Graham resumiu: “Essa é uma ideia incrivelmente ruim”.
Apesar de Obama ter poder para retomar relações diplomáticas com Cuba, o anúncio desta quarta-feira foi visto como a mais recente de uma série de iniciativas de Obama para agir sem a necessidade de consultar o Legislativo. “Nós estamos confiantes em nossa capacidade para dar esses passos”, disse um membro da administração Obama a repórteres ao explicar as medidas a serem tomadas.
Se várias medidas poderão entrar em vigor nas próximas semanas e meses, um ponto crucial das relações entre os dois países, o embargo econômico imposto há décadas contra Cuba, depende de negociação com os congressistas para ser suspenso.